Após um veículo guinchado, que estava com o motor fundido, ter sido aprovado durante vistoria veicular realizada por uma empresa terceirizada de Campo Grande, os deputados estaduais pediram maior fiscalização do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) ao serem questionados sobre o assunto nesta quarta-feira (20) durante a sessão.
Barbosinha (DEM), que já foi secretário de Segurança Pública do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), afirmou que o Detran deve realizar operações de surpresa nas vistoriadoras, já que é o agente fiscalizador dos contratos. “É um fato que está ocorrendo, não é a primeira vez. Então tem que ter maior fiscalização”.
Amarildo Cruz (PT) ressaltou que a situação é grave. “Vou analisar o caso e talvez pedir por meio de requerimento explicações ao Detran. É muito complicado. As vistoriadoras tinham que se atentar para as normas de segurança, mas se o carro nem entrou andando no local, é grave”.
Para o deputado Felipe Orro (PSDB), é preciso que existam normas específicas para as vistorias. “É uma discussão que acontece em âmbito nacional isso de se terceirizar a vistoria. Tem que ter normas específicas do que deve ser analisado e maior controle do Detran sobre esse serviço”.
Cabo Almi (PT) ressaltou que faltam critérios e fiscalização. “É obrigação do Detran vistoriar, se não está dando conta de vistoriar, tem que centralizar. Foi bom para a população descentralizar o serviço porque dá acesso, mas tem que ter critério. Não pode ficar solto. É por isso que acontecem acidentes, veículos sem condições de trafegabilidade e nas ruas”, ponderou.
Flagrante
Menos de um mês após o Conselho Superior do MP-MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) arquivar um inquérito que garante ter investigado irregularidades na inspeção veicular do Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul), vistoriadoras credenciadas continuam driblando as leis para permitir o licenciamento e transferência de veículos irregulares.
Da instauração até ser arquivado, o procedimento da 31ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público de Campo Grande durou 3 anos.
Em 3 semanas de investigação, a reportagem do Jornal Midiamax ouviu de despachantes, vendedores e proprietários de automóveis relatos sobre como continua possível ‘dar um jeitinho’ na hora de passar pela inspeção veicular em Mato Grosso do Sul. Foi o suficiente para conseguir um flagrante.
Carro no guincho e vistoria falsa
No dia 30 de maio, a reportagem gravou em vídeo um automóvel com o motor fundido e sem bateria ser levado, na carroceria de um guincho, para ser vistoriado na Focar Vistorias, em Campo Grande. Os vistoriadores pediram ao motorista do caminhão para ‘descarregar’ o veículo, um Peugeot 206, e sair do pátio da empresa enquanto a vistoria falsa era realizada.
Nesta sexta-feira (15), após confirmar que o veículo foi aprovado na suposta vistoria, mesmo sem ter nenhum dos equipamentos elétricos, como luzes de sinalização, funcionando, a reportagem foi até a empresa e falou com Antônio Gregório, o proprietário oficial da Focar, que está credenciada até 4 de novembro de 2019, segundo a Portaria T-467, do Detran-MS.
Inicialmente, Antônio, ou ‘Toninho’, como é conhecido entre despachantes, tenta negar. “Tem que ver a parte elétrica, pneu, motor, chassi, ver se está tudo em ordem, se está funcionando, mas se ele não tiver funcionando não faz [vistoria]”, garantiu.
No entanto, diante das provas, o dono oficial da vistoriadora credenciada pelo Detran-MS acaba admitindo que o procedimento irregular foi feito e que não foi um caso isolado.
“Às vezes a gente até faz, como o carro é novo, o motor tá [sic] estragado, às vezes até isso aí. Não é um procedimento certo, mas às vezes acontece, admite”. “Às vezes a gente até faz uma vista grossa”, confirmou.