Eles recebiam dinheiro para facilitar liberação de recursos do FGTS

O doleiro Lúcio Funaro detalhou, em depoimento de delação premiada à Procuradoria Geral da República (PGR), o esquema de corrupção que teria sido montado na Caixa Econômica Federal para gerar propina a políticos do PMDB.

Segundo Funaro, empresas pagavam propina em troca de facilidades na liberação de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa.

De acordo com o doleiro, apontado como o operador de propina do PMDB, diversas operações envolvendo o FI-FGTS renderam vantagens indevidas a ele e a políticos peemedebistas.

Em um dos depoimentos à PGR, Lúcio Funaro deu detalhes sobre uma operação financeira envolvendo uma das empresas do Grupo Bertin.

À época do investimento feito pelo fundo de investimento do FGTS, o atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco ocupava a vice-presidência de Fundos e Loterias da Caixa, responsável pelo FI-FGTS.

Funaro explicou que foi procurado pelo Grupo Bertin para viabilizar o investimento do FI-FGTS porque os empresários sabiam que a vice-presidência de Fundos da Caixa era do PMDB.

Aos investigadores, Funaro explicou que o aporte de recursos do FI-FGTS na empresa do Grupo Bertin teve como contrapartida o pagamento de propina dividida entre ele, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Moreira Franco, que, de acordo com o doleiro, ficou com maior parte do dinheiro.

Tanto Moreira Franco quanto Eduardo Cunha negam o teor da delação (leia o que eles disseram ao final desta reportagem).

“Foi uma operação para financiar uma empresa que se chama Nova Cibe, de energia, do Grupo Bertin, num valor aproximado de R$ 300 milhões […] e que gerou propina pra gente na ordem de 4% [do valor total, o que dá R$ 12 milhões]”, afirmou Funaro.

Funaro detalha divisão de propina em esquema que teria beneficiado Moreira e Cunha

Ao detalhar o pagamento das vantagens indevidas, Lúcio Funaro disse que o repasse foi feito em “dinheiro vivo”.

Sobre a entrega do dinheiro a Moreira Franco, Funaro declarou que os pagamentos seguiam um “fluxo de caixa”.

“Ele me solicitava, eu passava conforme meu fluxo de caixa. Tenho R$ 1 milhão no Rio, vou mandar te entregar, tenho R$ 1 milhão em São Paulo, manda o Altair vir buscar. Toda semana tinha um fluxo de caixa”, disse.

Mudanças na Caixa

À PGR, o doleiro reconheceu que, à época, não conhecia o funcionamento do FI-FGTS e que, diante do pagamento de propina, resolveu estudá-lo.

A partir daí, explicou Funaro, o grupo político de Eduardo Cunha e do ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) decidiu buscar essa vice-presidência da Caixa.

O interesse, disse Funaro, resultou na nomeação de Fábio Cleto, por indicação de Cunha, para o cargo em 2011, no início do governo de Dilma Rousseff. O nome de Cleto teria sido avalizado pelo então vice-presidente da República e atual presidente, Michel Temer.

O próprio Fábio Cleto, que também firmou acordo de delação premiada, disse em depoimento em 2016, que depois que entrou na Caixa, a propina gerada com os aportes financeiros do FI-FGTS rendeu propina para ele, Cunha, Funaro e outro empresário.

Segundo Cleto, Cunha ficava com 80% de toda a propina paga pelas empresas no esquema.

O que disseram os citados

Em nota, a assessoria de Moreira Franco afirmou que Funaro “não tem nenhuma credibilidade e é famoso por viver da delinquência e da mentira”.

Eduardo Cunha disse desmentir “com veemência” o teor da delação de Funaro e o desafiou a provar as acusações.

“As atividades criminosas do sr. Lúcio Funaro foram feitas por sua conta e risco, não cabendo agora, para obter benefícios, atribuir sem provas a outros a sua cumplicidade”.

Já a Caixa Econômica Federal afirmou que está em contato com as autoridades, prestando “irrestrita colaboração” com as investigações.

O G1 não conseguiu contato com o Grupo Bertin.