Deputados registram BO e querem fechamento imediato de exposição polêmica
Obras de Alessandra Cunha foram consideradas apologia à pedofilia
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Obras de Alessandra Cunha foram consideradas apologia à pedofilia
Deputados estaduais de Mato Grosso do Sul registraram nesta quinta-feira (14) um boletim de ocorrência por ‘apologia de crime’, fato que estaria associado à exposição ‘Cadafalso’, da artista mineira Alessandra Cunha, no Marco (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul). Ao documento, foram anexadas 20 fotografias de obras da artista, contendo “imagens de órgãos genitais masculinos”, bem como “atos de masturbação na presença de crianças”.
A comitiva, composta pelos deputados Paulo Siufi (PMDB), Coronel Davi (PSC) e
Herculano Borges (SD) acusa a artista de apologia à pedofilia, principalmente devido à tela intitulada ‘Pedofilia’, que segundo a artista visa expor violência a que mulheres são submetidas. Em consenso, os deputados pontuaram que as imagens deveriam ter proibição de acesso a crianças e adolescentes, porque seriam” uma agressão á família, moral e aos bons costumes”.
“Que debata isso dentro da casa dela”, disse Coronel Davi, que manifestou desejo de que a artista integre o ‘cadastro estadual de pedófilos’. Siufi complementou: “É uma reflexão de pênis? De masturbação? É apologia sim ao crime. Que faça exposição na casa dela e não em lugar público, mantido por dinheiro público”, pontuou.
Investigação e fechamento
para a confexão do boletim de ocorrência, foi utilizado o artigo 118 A do ECA (Estatudo da Criança e do Adolescente), ou seja, “praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem”, cuja pena pode variar de dois a quatro anos.
O titula da DEPCA (Delegacia Especializada na Proteção da Criança e do Adolescente), o delegado Paulo Sergio Lauretto, pontuou que as questões serão analisadas e que deverá convocar a artista para depor.
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Sobre um eventual fechamento do Marco a fim de impedir acesso às obras, Lauretto pontuou que “restrição sobre classificação indicativa não diz respeito à polícia judiciária”, mas que se trata de infração administrativa. “Quem vai decidir isso é a Vara da Infancia e Juventude”, completou.
Lauretto pontuou, inclusive, que conforme o material relatado, a exposição da obra de arte pode ser considerada um incentivo de que seja natural uma pessoa se masturbar perto de uma criança. Segundo Lauretto, inicialmente, o inquérito deve durar 30 dias, até ser encaminhado – ou não – ao Poder Judiciário.
Nesta tarde, um equipe de investigadores deverá visitar a exposição, a fim de comprovar os relatos do boletim de ocorrência.
Artista rebate acusações
Procurada pela reportagem, a artista Alessandra Cunha destacou que as telas da mostra ‘Cadafalso’ buscam expor a violência a que mulheres são submetidas sendo, portanto, uma crítica social às opressões decorrentes do machismo, misoginia e falocentrismo.
“Assusta um pouco saber que as pessoas não conseguem entender uma crítica óbvia, mas é uma reação natural do machismo, que é justamente o que eu denuncio na minha série. Essa reação na contramão é o próprio machismo tentando reprimir as questões que a gente coloca contra ele”, revela a artista.
Para a artista, há desonestidade intelectual e ignorância quando as obras são retiradas de contexto. “Existe uma crítica social muito óbvia ali. Então, não sei se é correto dizer que eles simplesmente não entenderam a mensagem. No caso da minha tela, é uma criança assustada em meio a dois homens de pênis ereto, só o título já se relaciona com a reação que eu proponho. Então, é claro que houve uma análise bem errônea da obra, provavelmente porque a pessoa não frequenta galeria, não tem contato com a cultura”, aponta a artista.
Cunha relata que sua crítica social também passou por uma metodologia, um processo criativo que deixa a proposta estruturada. “E no museu tem material de apoio, há um texto explicando minhas obras. A tela não foi exposta de forma avulsa. Para chegar à telas houve toda uma elaboração teórica e técnica, então eu não entendo. Lamento a falta de conhecimento das pessoas que criticam”, considera.
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