Maioria não acompanha trabalho dos eleitos
Desacreditados com atual cenário político de Campo Grande, eleitores demonstram pouco interesse pelo assunto. Sentem-se incapazes de conseguir mudanças através do voto, sequer sabem os nomes dos candidatos que votaram na última eleição e, quando lembram, relatam que não acompanham mandato, generalizando a corrupção como parte integrante da política.
Com um questionário simples, o Jornal buscou dos eleitores respostas relacionadas aos candidatos votados na última eleição, sobre como fiscalizam os mandatos dos eleitos, sobre denúncias em que estiveram envolvidos esses nomes e projetos que consideraram relevantes. Ao todo, foram ouvidas 20 pessoas, entre comerciantes, servidores públicos, estudantes e aposentados. Destes, apenas um demonstrou interesse por assuntos políticos e propriedade em falar em quem votou.
Entre os demais, o nome dos candidatos eram apresentados em tom de dúvida e sobre fatos, denúncias ou projetos relevantes, só souberam falar sobre o processo de cassação de Alcides Bernal (pp), pela grande repercussão. Outros assuntos, como prisões e investigações envolvendo políticos a resposta era quase sempre a mesma, “ouvi falar”.
Na Praça Ary Coelho, região central da cidade, as perguntas tiveram início com dois servidores públicos, que preferiram não serem identificados. O primeiro deles, de 72 anos, disse que se chegou a votar em alguém em 2012, foi no Edson Giroto, pois acredita ter votado nulo. Deu certeza que seu voto para vereador foi para João Rocha, ressaltando que só lembra porque ele era seu chefe direto na época.
Já o segundo servidor, de 43 anos, afirmou que não se lembra em quem votou para vereador, mas sabe que votou para Bernal para prefeito, ressaltando que se arrependeu. Sobre denúncias, ambos, inclusive o que teria votado em Giroto, disseram que acompanharam algumas coisas pela imprensa, mas não souberam citar nenhum caso. Vale lembrar que o ex-secretário de obras na gestão de André Puccinelli chegou a ser preso por mais de uma vez, em investigação de desvio de dinheiro público e superfaturamento em obras.
A estudante Andressa Souza, de 22 anos, e sua mãe, a servidora pública Damares Souza, de 52 anos, disseram relembrar o candidato a vereador em que votaram. “Votamos no Cazuza pois trabalhamos na campanha dele”, explicaram. Já em relação ao prefeito, ficaram em dúvida, pois, devido ao trabalho que desenvolveram na época, seria provável o voto ao Bernal, mas ambas acreditam que descumpriram essa determinação. Ao fim, disseram que não acompanham mandatos. “Só sei que ficou tudo pior do que já era”.
Ezio de Souza, de 52 anos, quando questionado, foi direto ao assunto. “Não lembro, não acompanho e nem perco mais tempo com isso. Nenhum presta”, afirmou o eletricista natural do Espírito Santo, que mora há 16 anos na Capital. A opinião se assemelha com a da empregada doméstica, Marley Magalhães, de 39 anos, Washington Luiz, de 56 anos e Bruna Lezoano, de 38 anos. Os três disseram que provavelmente irão começar a anular seus votos.
Entre os mais jovens, que ainda não tiveram oportunidade de votar, o desinteresse por política ficou ainda mais evidente. A estudante Michele Miranda, de 18 anos, por exemplo, disse que não está com nenhuma expectativa para o primeiro voto e que também não gosta do assunto. “Não tem nem o que achar. São todos iguais, precisamos de mudanças, mas é um pior do que o outro”. Os militares Tiago Mors e Renato Almada, ambos de 18 anos, demonstraram despreocupação. “De política, só só sei do Bolsonaro, pois sigo ele nas redes sociais”, brincou Tiago. “Ele também deve roubar, mas menos que os daqui”, completou Renato. Os dois disseram que irão tentar justificar seus votos este ano.
Dentre os entrevistados, apenas o servidor Wanderley Pires, de 48 anos, afirmou que acompanha assuntos políticos e disse ter certeza do último voto. Ele enfatizou que votou em Reinaldo Azambuja para prefeito e que para vereador, optou em votar por coligação, na legenda do Bernal. “Acompanho tudo pelos jornais e quando fico em dúvida vou atrás. Sei quem foi preso, cassado, independente de eu ter votado ou não. Acho importante. Sei da vida de deputados desde quando começaram como vereadores”, explicou.
Wanderley disse ainda que fiscaliza mandatos e acompanha projetos, especialmente que envolvem aumento de arrecadação. Já, ao analisar atual situação política da Capital, sua opinião se assemelhou a dos demais. “Chegou em um ponto que não tem mais o que cobrar. O certo seria trocar tudo e jogar no mato”, completou, ressaltando que está analisando os candidatos desse ano para fazer nova escolha.
Na mesma roda que Wanderley, estavam os amigos aposentados Ulisses Silva, de 60 anos e João Alves Sobrinho, de 87 anos. Diferente do colega, Ulisses foi logo dizendo que irá anular seu voto, enquanto João disse que faz questão de votar este ano. Embora não se recorde de quem votou na última eleição, garantiu que já tem candidato neste ano para prefeito. “Não sou obrigado, mas faço questão de votar. Não acompanho muito as coisas, mas sinto que as coisas estão piorando. Já sei em quem votar pra prefeito, mas para vereador vou deixar minha filha escolher por mim”, completou.
Professor de história aposentado, José Donizete, de 52 anos afirmou que acompanhou o que acontecia na política durante muito tempo, mas que já nem se preocupa mais. Só comentou que a situação da cidade varia entre ruim e péssimo e que não espera grandes mudanças com resultado desta eleição. O colega, Orlando Garcia, de 72 anos, seguiu a mesma linha de resposta. “Desacredito em política já. Não lembro e nem ando acompanhando mais nada, porque só aparece notícia ruim”, afirmou.
O líder comunitário do distrito de Anhanduí, Elbio Santos, revelou que cansou de candidatos que vão até onde mora durante as campanhas e desaparecem após as eleições. Pensando nisso, afirmou que vai buscar eleger alguém do distrito para melhorar a representação e poder passar a acompanhar melhor o que acontece na Câmara.
Mãe de duas filhas pequenas e desempregada, Rosa Maria, de 39 anos, também não soube comentar sobre seus candidatos. Diante das perguntas, só disse que teve “um pouco de dó quando Bernal foi cassado”, mas não soube confirmar em quem votou. Jeniffer Mendes, de 24 anos, disse que nunca votou, que desde os 18 anos justifica seu voto. Ela teve dificuldade até em citar sobre nome do atual prefeito e governador. Outras pessoas também foram abordadas pelo Jornal, mas grande maioria prefere não comentar sobre política.