Gaeco relatou sumiço de autos sigilosos de interceptação telefônica

O Ministério Público Estadual (MPE), por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) , registrou “Notícia Fato” informando que 26 páginas de autos sigilosos de interceptações telefônicas sumiram do processo que investiga o prefeito de Campo Grande, (PP), por corrupção passiva, continuidade delitiva e lavagem de dinheiro.

A informação consta em parecer dado pela procuradora-geral de Justiça em exercício à época, Mara Cristiane Crisóstomo Bravo. Na ocasião, ela detalhou que o Gaeco apresentou notícia fato de número 31/2014 para apurar “as circunstâncias do extravio das fls. 122-148 dos autos sigilosos de interceptação telefônica, volume I, que estava apensado aos autos do PIC nº 02/2014-Gaeco”.Mistério: MP diz que 26 páginas sumiram do processo contra Olarte

Ao comentar o sumiço a procuradora-geral em exercício revela que a apuração não “restou conclusiva quanto à ocorrência de crime de supressão de documento público (art. 305 do código penal) e de sua eventual autoria”.

O processo contra Gilmar Olarte já tem 1.416 páginas e deixou de ser sigiloso neste mês, mas ainda não tem decisão do relator, desembargador Luiz Cláudio Bonassini. Caberá ao desembargador, que já tem parecer favorável da promotora, decidir se o processo continua tramitando ou é arquivado.

O processo

O processo foi aberto após denúncia de Paulo Sérgio Telles, que relatou um esquema de empréstimo de dinheiro por parte de Ronan Feitosa, supostamente a pedido de Gilmar Olarte, na época que a Câmara caminhava para a cassação de Alcides Bernal (PP).

Segundo denúncia, algumas pessoas emprestaram, aproximadamente, R$ 900 mil, em cheques e dinheiro, com a promessa de que receberiam cargos e vantagens futuras na administração municipal de Campo Grande. Porém, a maior parte destas pessoas teria acabado levando ‘tombo'.

Alguns trechos revelam conversas que remetem a tramas novelescas de malandragem e muitas manobras financeiras em busca da prosperidade com cheques sem fundos e empréstimos não oficiais. Boa parte dos envolvidos são ligados, de alguma forma, por vínculos religiosos. Gilmar Olarte é pastor de uma igreja evangélica antes mesmo de se tornar político.

No processo constam empréstimos de R$ 115,1 mil do filho de M.D., R$ 240 mil de S.V., R$ 100 mil de I.M., R$ 68,5 mil com C.L.S. e R$ 47 mil com M.S.T.. Quem supostamente emprestou não tinha intenções de caridade, pois os valores teriam supostamente sido cedidos mediante promessa de cargos e participações na Prefeitura, caso Olarte ficasse com o cargo de Bernal.

Segundo processo, sob o comando de Olarte, Ronan teria procurado as pessoas pedindo cheques e prometendo cargos. A mulher que emprestou o cheque de um filho chegou a ser flagrada em conversas onde, por meio de rede social, cobra diretamente ao novo prefeito pelas promessas não cumpridas após a cassação de Alcides Bernal.

A mulher chega a pedir R$ 3,5 mil ao prefeito e diz que o filho dela nem conversa mais com ela, visto que ficou negativado por conta dos cheques que voltaram por não terem fundos. Há no processo, por exemplo, várias indicações de que ela teria recebido salário da Prefeitura, já com Olarte no comando, sem nem ter trabalhado.

Em uma das gravações anexadas ao processo, esta testemunha relata que Olarte utilizaria parte do dinheiro para pagar pessoas para demonstrar insatisfação com a gestão de Bernal e parte para conquistar apoio junto a membros do Poder Legislativo, favorecendo a queda do próprio companheiro de partido e mandato para ficar com o cargo.