Coletivo que ajuda índios convida deputada a conhecer realidade das aldeias

“Vamos prestar contas e não temos nada a esconder”

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“Vamos prestar contas e não temos nada a esconder”

O Coletivo Terra Vermelha, alvo de ataques na tribuna pela deputada estadual Mara Caseiro (PT do B), respondeu à parlamentar com uma nota de repúdio sobre suas reiteradas declarações contra os índios. Os representantes do coletivo ainda convidaram a deputada a conhecer a realidade das aldeias. 

“Durante nossas visitas, constatamos que esses povos indígenas, passam fome sim, a senhora nunca deve ter pisado num território sagrado, pois, saiba que o Poder Público, para qual a senhora trabalha, é omisso e negligente”, responderam. 

Confira a nota na íntegra:

“O Coletivo Terra Vermelha vem se manifestar publicamente contra as acusações proferidas pela Deputada Estadual, Mara Caseiro (PT do B), desta Unidade Federativa, que usou a tribuna da Casa de Leis, no dia 17 de setembro de 2015, no intuito de ofender a imagem deste Coletivo, afirmando que os “índios não passam fome”, indagando para onde o dinheiro que estamos arrecadando na vaquinha online (https://www.vakinha.com.br/vaquinha/arrecadacao-de-fundos-de-apoio-aos-guarani-kaiowa) vai ser destinado, requerendo que o MPF (Ministério Público Federal) e MPE (Ministério Público Estadual) nos investigue.

Pois bem, Deputada, primeiramente, é importante que a senhora saiba como começou a nossa história. O Coletivo Terra Vermelha é uma entidade da sociedade civil que surgiu no final de 2011, após o assassinato da liderança Guarani-Kaiowá, Nísio Gomes, já em 2012, com a carta que chocou o mundo da comunidade de Pyelito Kue, mais pessoas começaram a se solidarizar pela luta dos povos indígenas, então, nesse ano, nos consolidamos como um movimento social que apoia a luta pela demarcação das terras indígenas.

Somos advogados, professores, estudantes, artistas, jornalistas, cidadãos, que resolveram agir, braço a braço, com os nossos irmãos índios. Não somos ligados a partidos políticos, nos autofinanciamos, somos uma entidade horizontal, autônoma e independente, tiramos dinheiro do próprio bolso para fazer a nossa militância, em outros momentos mais apertados, vendemos bolos, tortas, rifas e camisetas, em eventos culturais, também contamos com contribuições voluntárias e difusas dos setores urbanos sensíveis à luta dos indígenas.

Sendo militantes, visitamos as aldeias e áreas de retomadas sempre que podemos, e assim, nessa perspectiva de “estar lá” com os indígenas, conseguimos criar laços com os vários povos étnicos que habitam o Mato Grosso do Sul.  Durante nossas visitas, constatamos que esses povos indígenas, passam fome sim, a senhora nunca deve ter pisado num território sagrado, pois, saiba que o Poder Público, para qual a senhora trabalha, é omisso e negligente. 

O Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados Federais, Paulo Pimenta, quando visitou Guyra Kamby´i, relatou em reunião com os movimentos sociais, que os Guarani- Kaiowá estavam se alimentando a base de mandioca e ovo. Não chegam cestas básicas, conforme a senhora afirmou. A bem da verdade, segundo o jornal El País, os bebês indígenas brasileiros tem a mesma taxa de mortalidade dos bebês africanos, então, a senhora não deve estar muito bem assessorada dos fatos que ocorrem embaixo do seu umbigo.

Ademais, a senhora também há alguns dias, disse na tribuna da Assembleia Legislativa, que não eram os indígenas que escreviam os textos divulgados nas redes sociais, querendo corroborar aquele velho pensamento colonizador e preconceituoso, lá do século retrasado, que os índios são incapazes, pois, saiba Deputada, que mais uma vez a senhora desconhece a questão que tanto vem a criticar, existem muitos, mas muitos mesmo, indígenas que tem curso superior, pós-graduação e doutorado.

E quando a senhora disse que os índios “invadem as terras”, saiba, que o direito de ocupar e ter o seu território demarcado está assegurado pela Constituição Federal de 1988, vide artigos 231 e 232.

Repudiamos toda e qualquer forma de criminalização dos movimentos sociais que apoiam a luta dos povos indígenas no MS, a senhora está a todo custo, tentando instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa, para investigar o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), uma entidade que é vanguarda na luta indigenista, resistente desde a época dos anos de chumbo. Por que a Assembleia Legislativa não instala uma CPI para investigar os Sindicatos Rurais que patrocinam o genocídio nesse estado?

Para finalizar, convidamos a ilustríssima Deputada a ir conosco entregar os alimentos que ainda vamos comprar, quando a vaquinha online conseguir arrecadar o valor estipulado. Já afirmamos e reafirmamos agora, vamos prestar contas sim, através do nosso site e redes sociais, não temos nada a esconder, e pode ter certeza que o que mais amedronta a Deputada, não é o recurso auferido nessa vaquinha, mas sim, a solidariedade que está surgindo pelo país afora aos povos indígenas do MS. Ajuda humanitária nunca foi crime nessa República Federativa do Brasil, negar ajuda, pode até não ser uma conduta ilícita, mas criminalizar quem o faz, é postura de Estado fascista.”

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