A presidente Dilma Rousseff deve retomar na quarta-feira as conversas sobre a reforma ministerial com o PMDB, o maior partido de sua ampla base aliada no Congresso, depois de enfurecer deputados peemedebistas que chegaram a emitir uma nota abrindo mão de indicar nomes para o primeiro escalão do governo, disse à Reuters uma fonte do Executivo nesta terça-feira.

A última rodada de negociações com o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, foi há duas semanas e, desde então, a presidente interrompeu o canal de comunicações com a legenda. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, procurou Temer, mas assessores próximos não deram mais detalhes sobre a conversa.

Porém, em vez de acalmar o PMDB, a demora de Dilma em retomar o diálogo pode ter tornado as negociações mais complexas, segundo a fonte do governo. Nesse período de silêncio, o consenso que se formou no partido é de que, agora, a presidente precisa acenar com uma proposta muito mais atraente para fazer a bancada recuar de sua posição.

As negociações da reforma ministerial com o PMDB estão tendo implicações diretas nas alianças estaduais entre petistas e peemedebistas e podem ter efeitos também na aliança nacional.

A fonte do governo, que falou sob condição de anonimato, avaliou que mesmo que a aliança de Dilma com o PMDB seja mantida e Temer seja seu vice na chapa à reeleição, há um clima muito grande de insatisfação com o tratamento dispensado pela petista.

“O que pode acontecer é haver aliança formal, mas não ter comprometimento com a reeleição lá na base”, explicou a fonte.

Na segunda-feira, num gesto para aplacar o descontentamento do PMDB, Dilma participou de um jantar com prefeitos peemedebistas de São Paulo no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer em Brasília, distribuiu abraços, tirou fotos e fez um discurso valorizando a aliança com o partido e o papel do vice-presidente.

Uma segunda fonte do Executivo disse à Reuters que Dilma só deve fazer novas trocas nos ministérios depois de voltar das viagens internacionais à Itália e à Bélgica no dia 25.

Atualmente, o PMDB está à frente de cinco ministérios (Previdência, Minas e Energia, Aviação Civil, Agricultura e Turismo). O partido espera manter essas pastas e assumir o comando da Integração Nacional ou da Secretaria dos Portos, que eram comandadas pelo PSB até setembro do ano passado, quando e legenda deixou o governo para lançar uma candidatura própria à Presidência.

Na reunião no começo de fevereiro, porém, Dilma disse aos peemedebistas que não poderia atender ao pedido porque precisava acomodar outros aliados para ampliar sua aliança para a reeleição. Dilma está usando a reforma para atrair o maior número de partidos para seu projeto e, com isso, ter mais tempo de propaganda eleitoral na TV.

Dilma disse ainda que os deputados peemedebistas, que hoje indicam os ministros da Agricultura e do Turismo, perderiam uma dessas indicações. E que a pasta da Integração poderia ficar sob o comando do partido, desde que o líder da bancada no Senado, Eunício Oliveira (CE), fosse indicado.

O desenho imposto por Dilma provocou a ira dos peemedebistas, e o líder da bancada na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que sempre teve uma relação turbulenta com o Palácio do Planalto, reuniu os deputados e conseguiu apoio para emitir uma nota em que eles abriam mão de indicar correligionários para qualquer ministério.

Desde então, os deputados peemedebistas têm atuado na Câmara para dificultar as votações de interesse do governo e fecharam posição para tentar derrubar vetos presidenciais e votar contra o Marco Civil da Internet, matéria considerada essencial por Dilma.