Outra empresa contratada por Bernal não funciona no endereço descrito em nota fiscal
Reportagem procurou dono de empresa contratada sem licitação para fornecimento de gás, mas encontrou local vazio. Suposta funcionária tenta manter versão insustentável
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Reportagem procurou dono de empresa contratada sem licitação para fornecimento de gás, mas encontrou local vazio. Suposta funcionária tenta manter versão insustentável
Existe um forte indício de que a Jagás Comercio de Gás Ltda., empresa com contrato com a prefeitura de Campo Grande em março deste ano, só tenha sido ativada para ser contratada pela prefeitura de forma emergencial, sem licitação, apesar de ter ficado em segundo lugar num pregão presencial.
Os fatos:
A Jagás recorreu do resultado do pregão, que deu vitória à Micmar Comércio e Serviços. Mas enquanto a situação questionada não se resolvia, a contratada foi ela própria, tendo recebido R$ 101 mil pelo fornecimento de botijões de gás por 60 dias à Secretaria de Assistência Social (SAS) e outras secretarias. Com um detalhe: por R$ 24 mil a mais que a primeira colocada, a Micmar.
A Jagás emitiu 20 notas fiscais para a prefeitura, de número 001 a 20, até junho, o que indica a sua entrada em atividade para essa finalidade. Mas depois de investigação da CPI da Inadimplência, ou do ‘Calote’, as contratações cessaram. O caso continua em análise, na CPI, segundo o relator, o vereador Elizeu Dionizio (PSL).
O dono da Jagás, Elton Luiz Crestani, que assinou com a prefeitura, chegou a depor na CPI, mas não soube explicar o contrato.
“Eu pedi para Elton o “romaneio” da entrega dos materiais, usado quando a pessoa faz a entrega de um produto. Ele não emite a nota fiscal ali na hora. Ele faz um romaneio, o funcionário assina falando que recebeu aquele material, colocando a data, a hora e o local onde recebeu, dá um “de acordo” e, posteriormente, a empresa fatura todo o produto que forneceu. Mas ele alegou que não tem tinha nenhum romaneio. Então como é que ele controlar a empresa dele?”, questionou o vereador.
Para checar a autenticidade da existência da empresa, a reportagem tentou entrar em contato com Elton Crestani, mais de uma vez, tanto por telefone, quanto em idas diretas no local onde deveria funcionar a empresa.
Ocorre que no endereço que consta nas notas e no CNPJ da empresa na Receita Federal não existe a tal Jagás. Na rua Estevão de Mendonça, 508, Vila Nasser, Campo Grande, havia um pequeno comercio de gás, mas o nome que parece em fotos de satélite do Google é Taty Gás, com o respectivo telefone.
Vizinhos informam que o pequeno depósito foi desativado há cerca de dois meses, ainda no período de fornecimento de botijões de 13 e 45 quilos da Jagás para a prefeitura.
Por telefone, a reportagem conseguiu entrar em contato com, supostamente, uma funcionária de empresa, que atendeu a ligação como sendo da Junior Gás – o nome fantasia da Jagás, segundo a Receita Federal.
Ela não só confirmou a localização da Jagás no endereço acima, como iria, no mesmo momento, passar a ligação para Elton Crestari. Mas em poucos instantes votou atrás. Ouça e acompanhe o diálogo:
Mulher: Junior Gás, boa tarde!
Reportagem: De onde?
Mulher: Junior Gás!
Reportagem: Por favor, o senhor Elton…
Mulher: Quem gostaria…
Reportagem: Meu nome é Pio Redondo, repórter do Midiamax, e estou fazendo uma reportagem sobre a Jagás. Preciso falar com ele, não posso publicar sem falar com ele.
Mulher: Repete o seu nome, por favor que eu vou anunciar.
Reportagem: Pio, é um minutinho…
Mulher: Tá, vamos ver…
(…) pausa
Mulher: Oi, ele não se encontra!
Reportagem: Só pra confirmar, o endereço daí é rua Estevão de Mendonça, 508 ?
Mulher: Isso
Reportagem: Mas eu fui lá não tinha ninguém…
Mulher: Então… mas é esse mesmo.
Reportagem: Mas está funcionando?
Mulher: Sim!
Reportagem: Você está nesse endereço, agora ?
Mulher: Agora, não.
Reportagem: Mas eu fui lá e não tinha ninguém…
Mulher: (risos)
Reportagem: Está escrito TaTy Gás lá na porta, não entendi nada.
Mulher: Então, mas eu não estou lá.
Reportagem: Como eu posso me encontrar com ele?
Mulher: É difícil, porque ele está viajando, ele não está aqui.
Reportagem: Mas você falou que ele estava aí agora!
Mulher: Ele não está! Eu tentei ligar para ele.
Reportagem: Então é rua Estevão de Mendonça, 508, Vila Nasser…
Mulher: hahan…(confirmando)
Reportagem: Funciona lá ainda?
Mulher: Hahan (confirmando)
Reportagem: Obrigado.
Por causa da evidente contradição, o relator da CPI tem uma forte desconfiança quanto a alguns dos contratos assinados pessoalmente por Bernal.
“A gente tem encontrado essa situação recorrente nessa administração. Não é a primeira vez, a gente encontra uma empresa contratada por essa administração que não possui sede em Campo Grande, que contraiu contrato com a prefeitura, de forma irregular, e pago, já foi tudo pago. Essas empresas que foram criadas no curso espaço de tempo, empresas que foram contratadas de forma irregular, essas pagas imediatamente. Exatamente como a Salute, que ganhou uma licitação de R$ 4,3 milhões nessas circunstâncias”.
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