A ocupação da Câmara de Vereadores de Santa Maria (RS) entrou no quarto dia sem perspectiva de solução. Os parentes das vítimas da Boate Kiss pedem o fim da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a tragédia, que deixou 242 mortos, a exoneração do procurador jurídico da Câmara e a renúncia de três vereadores que integram a CPI.

De acordo com o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Adherbal Alves Ferreira, os manifestantes, que estão no local desde o fim da tarde de terça-feira (25), não deixarão a tribuna enquanto as reivindicações não forem atendidas. “Continuamos a ocupação porque não recebemos nenhuma resposta da Câmara. Existe uma articulação para que a CPI não dê em nada e ninguém se manifestou”, diz.

Segundo Adherbal, o número de manifestantes varia ao longo do dia. Em alguns momentos, chega a 300, mas pelo menos 70 pessoas se revezam na ocupação permanente das tribunas. O plenário é ocupado apenas à noite para os manifestantes montar acampamento. “Durante o dia, o plenário está livre para as sessões. Não queremos atrapalhar o dos parlamentares até porque esperamos uma resposta deles”, ressalta.

O presidente da associação destaca que a mobilização é ordeira e civilizada. “Passamos aspirador de pó no plenário para fazer uma limpeza simbólica da Câmara”, diz. Segundo Adherbal, o prédio chegou a sofrer pichações provocadas por vândalos de fora do movimento, mas a associação se mobilizou para limpar a fachada do prédio.

A ocupação foi motivada pelo vazamento de uma conversa entre a presidente da CPI, vereadora Maria de Lourdes Castro (PMDB), o vice-presidente, Tavores Fernandes (DEM), e um assessor, que seria o autor da gravação. No áudio, de 42 minutos, eles mostram preocupação de que a investigação possa chegar ao secretário de Relações de Governo e Comunicação de Santa Maria, Giovani Mânica, e ao prefeito Cezar Schirmer.

Os parlamentares também reclamam da mudança de postura da relatora da CPI, Sandra Rebelato (PP). Na gravação, o trio critica a relatora por supostamente pressionar outros integrantes da comissão para que as investigações não dessem em nada. Maria de Lourdes também critica o procurador jurídico da Câmara, Robson Zinn, por se omitir em relação à postura da relatora.