Depoimento que vereador tenta derrubar revela esquema de compra de voto

Coordenadores de campanha confirmaram ‘esquema’ que pode ter distribuído R$ 100 mil em vale-combustível na campanha de 2012

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Coordenadores de campanha confirmaram ‘esquema’ que pode ter distribuído R$ 100 mil em vale-combustível na campanha de 2012

O depoimento de quatro testemunhas em processo que pode cassar o vereador Alceu Bueno (PSL) pode ter revelado como funciona o esquema de compra de votos em Campo Grande. No depoimento, as testemunhas alegam que trabalhavam na coordenação da campanha do vereador e explicaram como funcionava o esquema, onde podem ter oferecido até R$ 100 mil distribuídos em R$ 25 semanais para vários eleitores colocarem combustível.

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) está analisando se aceitará ou não a inclusão de quatro depoimentos no processo que investiga a suposta compra de votos. O vereador conseguiu liminar para derrubar o desmembramento do processo e evitar a inclusão dos novos depoimentos. Agora, cabe ao TRE definir se separa o processo dele dos demais vereadores investigados: Delei Pinheiro (PSD), Paulo Pedra (PDT) e Thais Helena (PT) e se aceita a inclusão dos novos depoimentos.

O Midiamax teve acesso aos depoimentos feitos ao promotor Clóvis Smaniotto e pode comprovar a gravidade das denúncias. No dia 20 de junho de 2013 o promotor recebeu duas testemunhas que afirmaram ser da coordenação de campanha do vereador. A primeira testemunha ouvida, Roger de Jesus Freitas, disse ao promotor que era responsável pela logística do repasse para aquisição de combustível, em um plano que, segundo ele, foi arquitetado pelo próprio vereador em cinco campanhas dele, incluindo a de 2012, quando foi eleito vereador.

Roger acredita que o Alceu gastou R$ 50 mil distribuindo R$ 26 semanais a cada eleitor cooptado. Ele afirma, que ao final da campanha, tinha uma lista de 500 eleitores cadastrados. Esta relação foi entregue ao promotor em um “pen drive”. A testemunha afirma que recebia o dinheiro das mãos de Alceu, mas não sabe a origem e acredita que não tenham sido declarados, visto que não teria como “demonstrar origem lícita”.

Roger relatou que oficiais de Justiça aprenderam uma lista com 70 nomes de pessoas que recebiam combustível e R$ 300 em notas de R$ 5 no comitê. Segundo ele, a lista e o dinheiro eram utilizados para o “vale-combustível” e no dia da apreensão teria repassado R$ 3 mil a eleitores. A outra lista, com 500 nomes, não foi entregue a Polícia Federal porque estava digitalizada.

A testemunha afirma que embora tenha trabalhado como coordenador logístico da campanha, o nome dele não apareceu na prestação de contas porque era empregado do “Depósito Bueno”, de propriedade do vereador. Ele disse ainda que em agosto, setembro e outubro de 2012 recebia seu pagamento do comitê, com dinheiro que acredita ser de “caixa dois”.

Adair Souza da Mata também prestou depoimento ao promotor no dia 20 de junho. Ele se apresentou como coordenador financeiro da campanha e contou a mesma história relatada por Roger. Ele revelou ao promotor que o esquema era feito pelos coordenadores de campanha, inclusive ele, que eram incumbidos de angariar eleitores que aceitassem a proposta de adesivar o carro e pegar o vale-combustível ou o dinheiro em espécie no comitê.

Adair garante que o esquema foi arquitetado pelo próprio candidato, que ordenava os coordenadores da campanha. Ele acredita que Alceu gastou mais de R$ 100 mil no esquema, distribuindo R$ 25 semanais para eleitores.

O promotor também ouviu duas testemunhas no dia 1º de julho. Eles afirmaram que receberam combustível para colocar adesivo no carro. José Luiz Pessoa de Oliveira disse ao promotor que ficou sabendo da distribuição por um amigo, que passou o telefone de Roger. Após contato telefônico, ele passou a abastecer o carro semanalmente, por um mês. Porém, afirma que não foi contratado pelo comitê para ser cabo eleitoral. Jovair Torres também confirmou a troca de votos por combustível. No depoimento ele disse que recebeu R$ 26 por cinco ou seis semanas, mesmo sem ser contratado como cabo eleitoral do candidato.

A reportagem tentou contato telefônico com o vereador, mas o celular estava desligado. Em entrevista na quinta-feira (11) o vereador negou irregularidades e informou que está entrando com processo contra uma testemunha, que foi assessor dele. “Fui chantageado e estou entrando com uma ação criminal. Era meu assessor e ficava chantageando dizendo que ele está devendo para agiota e que se eu não arrumasse dinheiro, tinha pessoa por trás dele que daria dinheiro. Tenho gravações que comprovam. Estamos pedindo perdas e danos e a prisão”, declarou.

Outros Casos

O Ministério Público Eleitoral denunciou os quatro vereadores por suposta troca de combustível por voto. A Justiça encontrou requisições de vale combustível em um posto na avenida Cel. Antonino, constando placa de veículos ou nome de beneficiários, mesmo com nota emitida em nome dos candidatos. Durante a investigação a Justiça teria apreendido lâminas de cheque e R$ 16 mil em espécie. Porém, os vereadores negam irregularidades e afirmam que os vales referem-se a contratados como cabo eleitoral.

Recentemente, a juíza Elisabeth Rosa condenou o presidente da Câmara, Mário César (PMDB), à perda imediata do mandato, inelegibilidade por oito anos e ao pagamento de multa de 50 mil UFIR (R$ 53 mil de multa). Ele foi acusado de compra de votos por meio de distribuição de combustível nas eleições de 2012. Porém, conseguiu liminar e continua com o mandato até o julgamento da ação pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

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