CGR é a única empreiteira que não concluiu seu trecho na obra. Motoristas sofrem com o estado da pista e parte do asfalto está desmoronando.

Depois de reunião com o ministro dos Transportes, Sérgio Passos, do PR, no último dia 28, o governador Puccinelli, ladeado pelo deputado federal (PMDB) e os senadores Moka (PMDB) e Antônio Russo (PR), anunciou que o ministério vai liberar mais R$ 23.3 milhões para a conclusão dos últimos 20 quilômetros da BR-359, no norte do MS.

Segundo nota oficial, o governador justificou a necessidade de novos recursos, após a reunião com o ministro, dizendo que “faltam construir cerca de 20 quilômetros da rodovia”. No entanto, faltou explicar que o trecho sem asfalto era tocado pela empreiteira CGR, que agora está em recuperação judicial, desde 20 de dezembro.

Segundo a direção da empresa, a empreiteira tem dívidas não honradas de R$ 60 milhões, e por isso solicitou à Justiça a recuperação judicial, uma medida legal que se destina a evitar falências, protelando dívidas acumuladas até que um plano de parcelamento dos pagamentos seja apresentado aos credores.

Faltou explicar, ainda, que das quatro empreiteiras que venceram as concorrências da BR-359, só a CGR não terminou seu trecho. O pior é que o trabalho já realizado na BR-359 está desmoronando com chuvas e a má drenagem.

Há mais um detalhe importante: ao falar sobre a obtenção da verba, Puccinelli se referiu a um trecho sem asfalto de 20 quilômetros. Ocorre que informações de Alcinópolis, e do próprio canteiro da CGR na cidade, praticamente desativado, garantem que a extensão exata é de apenas 11 quilômetros. Se for exatamente isso, dos novos R$ 23.3 milhões, em torno de R$ 10 milhões estariam sobrando na conta.

CGR ganhou dois lotes milionários nas licitações

A BR-359 é extremamente importante para o escoamento da produção agrícola da região, centrada na soja, algodão e gado. Em 2008 saíram os dois primeiros editais para a pavimentação do trecho entre Coxim à Alcinópolis, no valor de R$ 103 milhões, à época.

A CGR, uma das duas escolhidas dessa primeira etapa, ficou com R$ 54,4 milhões para pavimentar 55,3 kms. Ou quase R$ 1 milhão por km construído. Durante a execução, o orçamento passou para mais de R$ 122,2 milhões: R$ 101 do governo federal e a contrapartida do estado de R$ 11.2 milhões. Aumento de R$ 19 milhões.

A previsão de inauguração do trecho era de abril de 2011, mas o convênio foi estendido até março deste ano. Em 2009, saíram as novas licitações do outro trecho, de Alcinópolis à divisa com Goiás. O valor do convênio federal foi de R$ 121.6, com contrapartida do governo estadual de R$ 13.5, um total de R$ 135 milhões.

Pelas informações disponíveis nos site de transparência do governo federal, a União já liberou R$ 114.8 milhões até agora. E com mais os R$ 13 milhões da contrapartida do governo estadual, faltam ainda R$ 8 milhões para quitar a dívida com as empreiteiras, totalizadas nos R$ 135 milhões.

Mas agora, com mais os R$ 23.3 milhões anunciados, a soma total subirá para R$ 151 milhões. O convênio acaba em maio. Resta saber quanto ficará para a CGR no trecho, além dos R$ 44,5 milhões que a empresa ganhou para asfaltar 28,9 kms, na base de R$ 1.5 milhão por km construído, deixando 11 km sem asfalto.

Além do que receberá agora na BR-359, a CGR teve mais de R$ 80 milhões em pagamentos da Agesul, em 2011. Do Dnit, foram mais R$ 29.5 milhões, por obras nas BRs 060, 262,158, todas no MS, e BR-101, em Santa Catarina.

Empreiteiras entregaram obra e CGR parou construção Todas as outras três empreiteiras – Sanches Tripoloni, Sercel e CCB – já entregaram seus trechos prontos e sinalizados. A CGR atrasou a entrega do seu primeiro trecho e agora não executou boa parte do segundo.

Com isso, o trecho da CGR que está apenas terraplanado, vai se esvaindo com a chuva pesada na região norte, como mostram imagens do site Alcinópolis.com. Além disso, outros trechos recentemente asfaltados sofrem com a drenagem mal feita.

Quem paga a conta são os motoristas da região. Quando chove, encalham na lama. Na seca, param na areia. Durante a construção da BR-359, os órgãos de controle encontraram irregularidades.

 Em reportagens anteriores, o Midiamax demonstrou que as obras da BR-359, comandadas pela Agesul de tempo do ex-secretário Edson Giroto, já foram enquadradas por superfaturamento e sobrepreço no Fiscobras de 2009. Os valores foram reduzidos.

Além disso, o gerente da obra, Hélio Komiyama, hoje o homem forte da Agesul, teve recomendação de inegibilidade do TCU, por aprovar pagamentos não realizados. Em reportagem de capa, a revista Isto é citou a empreiteira Sanches Tripoloni, do Paraná, como uma das grandes financiadoras das campanhas política do PR, ao tempo de Giroto