O município de Maracaju vem sendo sacudido, desde a quarta-feira (12), por uma série de denúncias, acompanhadas de documentos, de doação de terrenos e casas, que retroagem, inclusive, à administração anterior.

O mais recente episódio envolvendo as disputas políticas no município atinge diretamente o mais mordaz crítico da atual administração, vereador Valdenir Portela Cardoso (PSDB) que, na sessão de quarta-feira (19), foi acusado pelo vereador João Gomes Rocha (PDT), de se beneficiar da doação de um imóvel, feita em 2007, pelo primo de sua esposa, Larissa de Carvalho Azambuja Cardoso, o prefeito Maurílio Ferreira Azambuja (atual PMDB), que exercia o mandato, à época, pelo PSDB.

Conforme Termo de Doação n° 122/2007 de 15 de outubro de 2007, um terreno de 255m² com residência de 40,04m² no Conjunto Habitacional Napoleão Alves Ferreira, destinado a pessoas carentes, foi doado ao vereador, agropecuarista, e à sua esposa que, conforme informações obtidas, o transformaram em duas kitnets, alugadas desde 2007. João Gomes foi incisivo ao afirmar: “É muito estranho um agropecuarista, dono de fazendas, máquinas, tratores, produtor de soja, receber um título gratuito que poderia estar beneficiando uma pessoa carente, que poderia ser até uma daquelas que lhe deu um voto. Será que ele precisava desta casa há 4 anos?”

O vereador Laudo Sorrilha (PDT), comentou a questão: “Entendo a doação como algo salutar quando o beneficiado necessita, doação ao nobre vereador é imoral e mancha essa casa. O homem público tem que ter o entendimento de que ele é analisado por suas atitudes, principalmente para quem pretende e é pré-candidato a prefeito de Maracaju”.

O início da questão

O vereador Valdenir Portela Cardoso (PSDB), adversário político e critico contumaz do atual prefeito, Celso Vargas (PDT), apresentou em sessão plenária de 12 de outubro, documento de compra de terreno pelo procurador do município, Erimar Hildebrando, imóvel que havia sido anteriormente doado ao tio da esposa do procurador, com o agravante de a transação haver sido efetuada apenas trinta dias após o termo de doação.

Desfecho e consequências

Em entrevista coletiva no gabinete do Prefeito Celso Vargas, nesta quinta-feira (20), o procurador da prefeitura de Maracaju, Erimar Hildebrando colocou seu cargo à disposição do prefeito e solicitou abertura de sindicância para apurar as denúncias. Disse, ainda, que o referido terreno foi adquirido de forma legal, conforme comprovado por documentos e que sua esposa não tem laços de parentesco com o beneficiário vendedor.

“Será realizado levantamento em torno das doações nos últimos 15 anos, doa a quem doer”, enfatizou Celso Vargas que acatou o pedido de afastamento e irá nomear uma Comissão para analisar possíveis casos de tráfico de influência.

Portela antecipa defesa

Antevendo as possíveis reações e informado por “fontes seguras”, Portela concedeu entrevista, na terça-feira (18), ao site Maracaju Speed. “Estão preparando um grande bomba para detonar amanhã, durante sessão da Câmara. Vão me detonar publicamente porque estou atirando pedra e eu tenho, também, sujeira comigo. Tem documentos que me detonam, que vai dar o maior escândalo em Maracaju”, afirmou Portela, em entrevista.

Na mesma reportagem explicou que o terreno foi doado quando da criação do bairro. O beneficiário vendeu o imóvel, que o revendeu para o irmão do vereador em 2003. Portela comprou o imóvel entre 2006 e 2007, mas a procuradoria do município à época do mandato do Dr. Maurílio, orientou que seria mais interessante fazer como termo de doação, evitando as despesas com escritura.

Sobre o terreno adquirido pelo procurador Erimar, diz que “pode até estar legal, mas não é moral”.

Legalidade e justiça

Os dois casos podem ser considerados legais, e devem assim ser considerados pois, em ambos, procuradores do município estiveram direta ou indiretamente ligados, por aquisição ou por orientação.

No caso do vereador, que adquiriu o imóvel e depois foi agraciado com um termo de doação para que evitasse o custo das transferências de escritura, não teria economizado, também, nos impostos? E isso não seria lesar o município?

De quem está falando, afinal, o vereador Portela, quando diz que “pode até estar legal, mas não é moral”?

Nossa reportagem ligou no celular do vereador Portela, sem êxito.