Os dois aparecem como envolvidos num caso que teriam forjado uma prova de crime eleitoral contra o deputado estadual do PT, Semy Ferraz

Durou ao menos duas horas o depoimento do advogado Júnior, filho do governador André Puccinelli, do PMDB, na 5ª Vara Federal, em Campo Grande. Ele saiu sem conversar com a imprensa.

A audiência tratou do processo que investiga um caso ocorrido nas eleições de 2006, episódio que atira suspeita sobre Puccinelli Júnior de ter agido num esquema que teria forjado provas de crime eleitoral contra o então deputado estadual Semy Ferraz, do PT. O caso corre no TRF-3 (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, que fica em São Paulo.

O ex-secretário de Obras, Edson Giroto, candidato a deputado federal pelo PMDB, também incluído na ação como testemunha, não foi à audiência.

A suposta trama participada por Puccinelli Júnior, que também consta como testemunha na ação, e Giroto, ocorreu no fim de setembro de 2006, dois dias antes da eleição para o governo.

De acordo com a assessoria de imprensa da Justiça Federal, Giroto prestaria depoimento se quisesse ao menos nessa fase do processo, tido como de instrução.

Policiais federais acharam santinhos do então deputado, que brigava pela reeleição, dinheiro e uma lista com nomes de supostos eleitores de Semy Ferraz.

A papelada estava no banco traseiro de um Fiat que era usado por Benoal Prado Sobral, coordenador do comitê eleitoral da campanha do parlamentar petista.

No dia 17 de janeiro de 2007, quatro meses depois, investigação conduzida pela própria PF, batizada de “Operação Vintém”, inverteu os papéis dos envolvidos na questão e o deputado saiu da condição de réu para vítima.

Puccinelli Júnior disse ao sair do prédio da Justiça Federal que não comentaria o teor do depoimento porque o caso é apurado em segredo.

Trechos da operação Vintém, contudo, o qual o Midiamax teve acesso, narra diálogos travados entre um quarteto que teria azarado as intenções políticas de Semy Ferraz, não reeleição à época.

De acordo com escutas telefônicas conduzidas pela PF, autorizadas judicialmente, a suposta prova forjada contra o parlamentar contou com a participação além de Pucinelli Júnior e Edson Girotto, de Micherd Jafar Júnior, então presidente regional do PRTB (Partido da República Trabalhista Brasileira), e Edmilson Rosa, conhecido como Rosinha.

Os envolvidos comentam a trama por diversas vezes nas conversas telefônicas. Rosinha foi quem teria colocado os santinhos e o dinheiro dentro do carro do coordenador de campanha de Semy. Note alguns diálogos:

Conversa de Micherd Jafar Júnior com alguém que seria o governador Puccinelli, que estava ao lado do filho:

André Puccinelli: “Oi!”

Micherd Júnior: “Fala”

André Puccinelli: “Alô!”

Micherd Júnior: “To escutando! Pode falar!”

André Puccinelli: “Éhh… você pode vir aqui em casa?”

Micherd Júnior: “Onde cê mora?…. Alô?”

André Puccinelli: “Oi!”

Micherd Júnior: “Onde você mora?”

André Puccinelli: “Pode vir aqui… em casa?… ta, eu vou passar pro Júnior!”

Micherd Júnior: “Quem que falou? Foi seu pai?”

André Jr.: “Ô Júnior… é…. vem prá cá! Vem aqui no apartamento aqui”

Júnior: “To chegando”.

No caso, segundo o trecho do diálogo, incluído no inquérito da Polícia Federal, o governador estaria chamando o presidente do PRTB em sua casa.

Logo adiante, outra conversa que fortaleceria a tese de conspiração contra Semy Ferraz: “20/09 – 18h29 – Júnior [Micherd] liga para “Rosinha” e pergunta sobre a “lista” que Giroto teria passado. Rosinha informa que está fazendo um “serviço”, mas que tem uma cópia na Secretaria (ainda não identificada qual seria)

Rosinha: “Fala Micherd”

Micherd: “O Giroto te passou uma lista? Tá com você uma lista do Semy?”

Rosinha: “Tá”

Micherd: “E por quê você não passou prá mim ainda?”

Rosinha: Porque não é prá passar procê! Eu to fazendo um serviço com ela”

Micherd: Não senhor! Eu to aqui na ……. aqui”

Rosinha: “Quê?”

Uma voz grave no fundo diz: “To puto com E…. e com o Giroto! To puto com dois!”

Rosinha: “Cê ta aonde? … Alô!”

Micherd: “Oi! Eu to aqui na casa do André. Essa lista tem que chegar aqui em cinco minutos!”

Rosinha:? “Aaaiiiii meu Deus! Ta lá na Secretaria! Vou lá pegar! Tchau” Micherd: “Cê tem cinco minutos”

A tal “lista do Semy” apareceu depois dentro do carro do coordenador de campanha do deputado.

Outro trecho dos diálogos: “29/09 – 18h36 – “Rosinha” dá detalhes de como “plantou” a lista e dinheiro e “santinhos” no carro. E fica clara a anuência de Júnir [Micherd, do PRTB], quando este fala que isso tem que acontecer em meia-hora: Rosinha: “… no jornal. Debaixo do banco traseiro. Junto”. Micherd: “Meu filho” O Girotto falou aqui que essa lista tga na sua mão faz três dias”.

Rosinha e Micherd Júnior comentando que a prova já está no carro do coordenador de campanha do petista:

Rosinha: “Tá! Eu tenho uma cópia da lista! Só que esta lista que eles me deu, eu pus dentro do carro do cara!… Junto com o dinheiro e os santinho grampeado!… Cabamo de pôr! Ele ta dentro… ta na frente do jonral! Entendeu como?”.

De acordo com as transcrições da PF, após Rosinha deixar a papelada no carro de Semy, Edson Girotto chamou um policial federal que se chamaria Aparecido, que teria ido ao carro com um papiloscopista para examinar os papéis.

O coordenador de campanha de Semy, embora tenha negado que o material era dele, foi levado para a superintendência da PF. O deputado, que achava que ia berm na campanha e não foi reeleito. Hoje ele mora em Rio Branco, capital do Acre.

Vingança

Semy disse ter sido vítima da trama por impor uma política de oposição a Puccinelli na Assembleia Legislativa. Foi o petista que denunciou uma empreiteira que prestava serviço à prefeitura de Campo Grande, à época administrada por Puccinelli. A empresa tinha como dono dois garis. Não fosse a denúncia, Edson Girotto seria o candidato a prefeito de Campo Grande, intenção frustrada depois. A vaga acabou caindo no colo do atual prefeito Nelsinho Trad.

Note esse diálogo entre Girotto e Mercher, segundo a transcrição da PF:

Giroto:”Ué! Levaram! Prendeu!

Mercher: “hummmmm. Então ta! Foi jubiloso o negócio lá!?

Girotto: “Nossa vin… vingança será maligna” (os dois riem)