A volta do ex-ministro José Dirceu às instâncias decisórias do PT faz parte da estratégia do partido de controlar com mão de ferro a campanha de Dilma Rousseff ao Planalto neste ano e de trabalhar para suprir o provável “corpo mole” de aliados em Estados importantes.

A ele se juntarão na missão os deputados federais José Genoino e João Paulo Cunha. Os três, réus no processo que apura o mensalão (transferência de recursos a congressistas) no Supremo, estão fora da estrutura partidária desde 2005 e foram oficializados no sábado como membros do Diretório Nacional, instância que arbitra conflitos e promove resoluções.

A despeito das prováveis críticas da oposição no aspecto ético, a nova direção do partido, que toma posse em fevereiro, considera imprescindível a “experiência” do trio para um eventual sucesso de Dilma.

Dirceu e Genoino são ex-presidentes do PT e terão de agregar a militância em torno da candidata, especialmente onde o partido apoiar nomes de legendas aliadas ao governo.

As gestões de ambos no comando da sigla ficaram marcadas pela maneira centralizadora de administrar conflitos. João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, tem bom trânsito em outros partidos e uma base sólida em São Paulo, onde o PT planeja lançar Ciro Gomes (PSB-CE) ao Palácio dos Bandeirantes (leia texto nesta página).

“Não tem sentido prescindir da experiência desses companheiros em um momento tão importante como este”, afirmou o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra (SE).

Conforme diagnóstico feito pela ala majoritária da sigla durante encontro no final de semana, em São Roque, é desejo de Lula que o PT apoie candidatos de outros partidos aos governos de Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraná, São Paulo, Goiás e Minas -neste último, o partido está dividido.

O primeiro desafio do “trio de ferro” Dirceu, Genoino e João Paulo será evitar que as rusgas internas inviabilizem as costuras com PMDB e PSB.

O segundo passará a ser engajar a militância petista nas campanhas de Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Eduardo Campos (PSB-PE), por exemplo.

“O PT vai ser o principal eixo de sustentação da campanha. Não estamos retirando a importância dos outros partidos, que são fundamentais. Mas a gente sabe que há Estados onde o PMDB não fará campanha para a gente”, afirmou Dutra, avalista da volta de Dirceu, João Paulo e Genoino ao Diretório Nacional (veja quadro).

Dirceu

Segundo Dutra, ainda existe a possibilidade de Dirceu assumir um cargo executivo, o que daria ao ex-ministro ainda mais poder. “Não discutimos isso ainda. É importante o Zé estar no diretório. Se ele vai estar na Executiva ou não, é um assunto para ser resolvido mais adiante”, disse o presidente eleito.

Semana passada, Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda absolvido pelo Supremo da acusação de ter violado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, também decidiu que não disputará a indicação do PT para concorrer ao governo de São Paulo. Quer se dedicar à campanha de Dilma, na qual terá papel fundamental nas negociações com empresários.