Dia 25 de julho de 2017, o corpo de Mayara Amaral, 27 anos, foi encontrado ainda em chamas. O fogo queimou parcialmente a vítima e se alastrou pelas margens da estrada na região do Inferninho, em , isso chamou a atenção de peões de fazendas na região que a acharam ali, vítima de mais um . A musicista não foi a primeira, menos ainda a última, mulher assassinada de forma brutal no país. O caso dela, que repercutiu internacionalmente, irá a julgamento nesta sexta-feira (29).

A musicista foi morta com golpes de martelo pelo baterista Luís Alberto Bastos Barbosa, 29 anos. Ela também teria sido esganada e teve R$ 17,3 mil em bens roubados. A defesa do acusado usou como estratégia o fato de Luís ser usuário de drogas e pediu uma avaliação de sanidade mental do rapaz, por acreditar que o crime tenha sido motivado por um distúrbio muito além de sua vontade.

Além de Luís, mais dois homens foram presos no dia seguinte ao achado do corpo, acusados de participação no assassinato, mas após investigações concluíram que o baterista agiu sozinho.

Em uma decisão do juiz responsável pelo caso, Carlos Alberto Garcete, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, constava que Luís não teria afirmado ser totalmente incapaz de entender o caráter ilícito cometido por ele. E que durante o depoimento ele se mostrou consciente das acusações, inclusive dando detalhes do dia do crime.

Do desaparecimento, crime, depoimentos, investigações, briga por mudança na tipificação, já que por um momento o ato foi considerado como e não como feminicídio, até esta sexta-feira (29) dia em que começa o julgamento do acusado, se passaram 614 dias. Mais de um ano, e até o momento.

O início do júri está marcado para às 8h, os crimes pelos quais Luís é acusado são homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel, recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio. Ele também será julgado pelos crimes de furto e ocultação/destruição de cadáver, com emprego de fogo

A defesa do baterista solicitou um teste de sanidade mental que classificou o acusado como semi-imputável – tem capacidade de pensar limitada – que será apreciado pelos jurados. Mas o juiz ressaltou que Luis respondeu aos questionamentos se mostrando plenamente orientado.

Em uma das entrevistas, o advogado de defesa Conrado Passos disse que nem mesmo a família acreditava na soltura de Luis, já que teriam ficado bem tristes com todo o acontecido e também estariam preocupados com a família da vítima. “Eles querem que a Justiça seja feita e que ele responda pelo crime”, explicou.

Símbolo nacional

Vida, quem tem o direito de te interromper? Fica Um nó na garganta quê que eu vou fazer? ”, trecho da música Vida da cantora campo-grandense Marina Peralta,  que traz como inspiração a dor causada pelo assassinato da musicista.

Mayara virou símbolo nacional contra o feminicídio após a repercussão internacional de sua morte. A história, é uma ferida para a família da musicista saiu para um encontro amoroso e nunca mais voltou para casa. “Se tirasse a qualificação do feminicídio do caso seria uma outra violência. Uma forma de violência institucional por parte da Lei. A gente está tentando se fortalecer para aguentar esse julgamento que não vai ser fácil. Estamos preparadas sabendo que o advogado dele vai tentar fazer o que todo advogado de um feminicida faz”, ressaltou a jornalista Pauliane Amaral, irmã de Mayara.

Ao Jornal Midiamax, a jornalista ainda conta que, para o julgamento, acredita que a defesa de Luís irá usar de métodos machistas para abrandar a do autor. “Já estamos esperando que ele vá denegrir a imagem da minha irmã, colocar ela como uma pessoa desqualificada. Pintar ela como se fosse uma p**a. E quanto a lei, ainda é jovem. A doutrina ainda está sendo construída pelas práticas. Portanto, cada caso vai construir esses antecedentes para que nos próximos julgamentos a Justiça tenha referência”.

Para a família, outros pontos de questionamento para o júri desta sexta são o peso do crime cometido já que na lei o crime de latrocínio – roubo seguido de morte – tem uma pena maior que a de feminicidio. E a inimputabilidade devido ao uso de drogas.

“Certamente ele (advogado) vai tentar convencer os jurados da inimputabilidade, o que é uma grande invenção. Se fosse assim, todas as pessoas que tem problema com drogas seriam convertidas automaticamente a assassinos. Não é o que acontece. Essa questão de tirar a responsabilidade de uma pessoa por ter cometido um crime tão violento como esse cara cometeu alegando a questão do uso de drogas é inaceitável, ” conclui Pauliane.

Julgamento

O julgamento de Luis Alberto, que seria realizado em novembro do ano passado, foi cancelado após a defesa do acusado entrar com recurso e está marcado para esta sexta-feira (29) às 8h. No mesmo horário, a família da musicista marcou uma manifestação em frente ao Fórum, em Campo Grande, para marcar a abertura do julgamento.