Quase 2 anos depois, morte de militar é mistério e réu diz que estava em mercado: ‘Nunca matei ninguém’

Sidnei Clever Alves, o único dos três suspeitos identificado, passa por julgamento popular

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Sidnei Cleber Alves negou o crime – (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

Quase dois anos depois do homicídio do militar do Exército Dionathan Goldoni Vilhalba, na Avenida dos Cafezais, em Campo Grande, a motivação do crime segue misteriosa. O único identificado dos três suspeitos encara julgamento popular nesta quarta-feira (30). Sidnei Cleber Alves, de 35 anos, negou o crime aos jurados.

O réu é acusado também de tentar matar a esposa de Dionathan, Arielly Monteiro Barroso, e o irmão dela, Juely Lescano Barroso. A mulher foi ouvida como testemunha e relata reconhecer Sidnei como um dos atiradores. “Ele tinha um olho meio puxadinho, estava de boné baixo. Só consigo lembrar do olhar dele”, diz.

No dia do crime, 14 de dezembro de 2022, Arielly, Juely e Dionathan almoçavam em um terreno ao lado da loja de variedades do casal quando foram surpreendidos por três homens em um Uno vermelho. A testemunha relata que dois atiradores descerem e passaram a disparar na direção das vítimas.

O primeiro tiro não atingiu ninguém e as três vítimas correram, mas Sidnei teria conseguido balear a perna do militar do Exército, que caiu no chão, conseguindo se levantar em seguida. Dionathan tentou fugir novamente, mas foi atingido na barriga e caiu ao solo. A esposa tentou ajudá-lo, sendo baleada na perna como uma forma de aviso para ir embora.

Arielly conseguiu entrar na loja enquanto Sidnei ‘descarregou’ a arma no marido dela. O outro atirador baleou Juely. O trio fugiu em seguida e trocou o Uno vermelho por um Polo branco. Vizinhos e outros familiares de Arielly conseguiram socorrer as vítimas até a Santa Casa, mas Dionathan morreu no trajeto.

Troca de carros foi filmada por câmeras de segurança – (Vídeo: Victória Bissaco)

A mulher teve que passar por cirurgia, contudo, conseguiu realizá-la após o velório do companheiro de 10 anos. Hoje em dia, convive com o trauma. “Além da mente, ficou a cicatriz marcada na pele. Não tem um dia que eu não pense no que aconteceu. Antes de dormir, é insônia, ansiedade. Mas não tem o que fazer, tem que seguir”, declarou.

A viúva relatou que o marido não possuía desavenças com ninguém e não sabe o porquê do ocorrido. A única coisa que lembra é que, antes do homicídio, o pai dela comprou uma corrente de ouro, contudo, devolveu por não se tratar de uma peça verdadeira. “Mas não teve atrito nenhum”, pontua.

“Sou inocente”

Sidnei foi o único dos três suspeitos a ser identificado, tanto por Arielly, quanto por uma cunhada dela que presenciou o tiroteio. O réu relata ser proprietário do Uno vermelho, mas afirma que o carro estava penhorado para o dono de um lava-jato na época do crime. “Não tem documento, tudo no ‘boca-a-boca’”.

Quanto aos fatos, diz ser completamente inocente. No relato dele, estava na Santa Casa na semana anterior ao homicídio. Ele conta ter deixado o hospital na sexta-feira (9) após passar 5 dias internado em decorrência de um acidente de trânsito. Contudo, não conseguiu comprovar a estadia no hospital.

Réu diz ser inocente – (Foto: Nathalia Alcântara)

Já na quarta-feira em que Dionathan foi assassinado em plena luz do dia, afirma que passou pelo local apenas em um carro de aplicativo, pois seguia para um atacadista na Avenida dos Cafezais na companhia da irmã e da sobrinha, de 6 anos.

O homem foi preso no dia 11 de agosto de 2023, quando já estava detido em Minas Gerais por tráfico. Alega que apenas soube que era acusado do crime quando foi intimado dentro do presídio. “Fiquei sabendo quando chegou para mim (sic.) assinar a citação”, afirma.

Ele conta que não conseguiu ir atrás de provas por estar preso. “Tentei mandar ‘bereu’ (carta) para tentar falar com o defensor, chegava na minha assistente social, mas nada […] Minha mãe é idosa, é a única pessoa que tenho aqui. Ela ainda nem foi me visitar porque não tem condições, então não tive como pedir para ela também”.

Finaliza ressaltando a inocência: “Eu sou problemático, viu? Tenho um monte de processos, mas nunca matei ninguém, nunca. Fiz, trafiquei, roubei, porque minhas condições não eram boas, mas matar não”.

Morto ao meio-dia

Conforme relato de testemunhas, Jonathan estava almoçando em um estabelecimento quando os três suspeitos chegaram em um Uno vermelho. Dois homens desceram do carro e fizeram os disparos.

A princípio, o local seria o comércio de uma das vítimas. As três vítimas foram socorridas pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mas, segundo familiares, Jonathan não resistiu.

O cunhado de Jonathan ficou em estado grave, entubado na Santa Casa de Campo Grande. Já a mulher sofreu ferimentos nas pernas e foi levada para o posto de saúde. Ainda segundo relato das testemunhas, os bandidos teriam abandonado o Uno vermelho e fugido em um Polo branco.

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