Marcada audiência de funcionário que matou pecuarista com golpes de facão após discussão em fazenda

Autor chegou a dizer que era irmão da vítima e teria direito a uma futura herança da família, mas o pai do réu negou

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(Processo / Redes sociais)

Um ano se passou depois que Juliano Ramos Gonçalves, 40 anos, matou o patrão Humberto Faria Damasceno, 40, com golpes de facão durante uma discussão na fazenda da vítima, em Bonito, cidade a 300 km de Campo Grande.

O crime aconteceu no dia 21 de novembro de 2023, por volta das 7h, na fazenda Santa Cecília, de propriedade da vítima e familiares. Juliano, segundo o Ministério Público, cometeu o crime de homicídio qualificado por motivo fútil.

Uma nova audiência de instrução de julgamento foi marcada para o próximo dia 12 de dezembro, às 13h30. Como o réu está preso em Jardim, ele deve participar por videoconferência.

Juliano afirmava que era filho do pai de Humberto. Ele teria sido adotado por outra família, com quem teria convivido até os 37 anos. Por este motivo afirmava que teria direito a futura herança do pai de Humberto. Ele chegou a contar essa versão para a polícia.

Conforme a denúncia, no dia dos fatos, durante uma discussão relacionada a bens materiais, inconformado e na posse de um facão, Juliano desferiu golpes nas mãos de Humberto, que correu, mas foi alcançado pelo autor, que disse: “Já que comecei, eu vou ter que terminar”.

Assim que alcançou a vítima, o autor desferiu outros golpes, desta vez na cabeça, e mesmo caída, a vítima continuou sendo agredida.

Roupas do autor usada durante o crime e casa onde roupas foram abandonadas. (Reprodução processo)

Após o crime, na casa, Juliano pegou duas armas de fogo, uma pistola Taurus 9 mm e uma espingarda flobe calibre 22 m, munições, além do carro de Humberto e foi até a cidade.

Lá ele se apresentou na base da Polícia Militar e confessou o crime.

Apesar dele afirmar ser irmão da vítima, a família de Humberto e o próprio pai do autor negaram a versão.

A família da vítima, pai e mãe, disse que Humberto era tranquilo. Contaram ainda que conheceram Juliano pouco tempo antes do crime, naquele mesmo ano. O pai de Humberto disse ainda que conhecia o pai de Juliano, mas que não conhecia o autor antes. Consta ainda que todos demonstraram surpresa de Juliano afirmar ser irmão de Humberto, pois ninguém o conhecia antes.

Já o pai de Juliano contou que ele é, sim, seu filho e de sua ex-esposa. Disse que ficou surpreso com o caso e que não sabe o porquê do filho ter criado esta versão. Explicou que Juliano sempre morou em Aquidauana e que havia ido para Bonito, onde o pai lhe apresentou à família da vítima para trabalhar.

O MP apresentou denúncia e requereu ainda que ele seja condenado à reparação civil material e moral à família da vítima no valor de R$ 50 mil.

Foram arroladas 6 testemunhas entre policiais, mãe, pai e irmãos da vítima, além da mãe do autor.

Áreas onde vítima foi atingida (Reprodução processo)

Discussão e briga por herança

Durante interrogatório, Juliano contou que conhecia a vítima desde criança. Ele contou que é natural de Aquidauana e foi morar com uma família quando tinha 5 anos, com quem ficou até os 37 anos. 

Explicou que esteve em uma fazenda em Caracol, onde ficou por 30 dias. No dia 19 de novembro, foi para Bonito de carona. Humberto o buscou e o deixou na porteira da fazenda.

No dia seguinte (20), Humberto chegou na fazenda e foi roçar o pasto enquanto o autor retirava postes do local.

Na terça-feira (21), data do crime, Humberto teria ido ao local montado em uma cavalo e tentava retirar os postes, quando em certo momento puxou um poste e o cavalo começou a pular, e a vítima então teria caído do animal.

Juliano contou que Humberto levantou do chão, bravo e começou a xingar, dizendo que a culpa era do autor que fez com que o cavalo pulasse. 

Nesse momento, o autor, que já estava com um facão nas costas, sacou e deu uma golpeada na mão da vítima, que correu para dentro da casa. Segundo relato do autor, a vítima teria o xingado: “Seu filho da p*@#… Você me paga, eu ia passar os papéis para você assinar. Iria passar a chave do carro, bem como o carro para seu nome”, contou.

Nisso, o autor teria dito: “Já que eu comecei, vou ter que terminar”, e então passou a golpear a vítima. 

Após o crime, o autor tomou banho e deixou as roupas numa casa de madeira. O facão guardou em uma caixa de ferramentas. Depois pegou as armas da casa da vítima, o carro dela e foi para a delegacia.

Disse ainda que, como a delegacia estava fechada, se apresentou na base da PM.

O inquérito policial, já encerrado, mostrou que Juliano era funcionário da fazenda a menos de 30 dias e que cometeu o crime ao ser xingado pela vítima.

Insanidade mental

A defesa chegou a pedir incidente de insanidade mental, já que o réu afirma fazer parte da família da vítima e consequentemente de uma futura herança.

A ex-esposa do réu contou que tem 4 filhos com ele e que em 2020 ele foi à casa dela visitar os filhos, mas não os reconheceu e saiu correndo. Em 2021, disse que ele não falava coisa com coisa sobre seus pais.

A alegação é de uso excessivo de álcool, ausência de memória e surto.

A instauração do incidente de insanidade mental foi indeferida pela Justiça.

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