Dupla acusada de estrangular e enterrar corpo em casa no Amambai é condenada
O corpo foi enterrado aos fundos de uma quitinete, no bairro Amambai, em Campo Grande
Diego Alves, Victória Bissaco –
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Andres Adonios Fajardo e Thales Silva dos Santos foram condenados por estrangular e enterrar o corpo de Wagner Vicente Pereira da Silva, de 30 anos. Wagner foi morto estrangulado com fios de um aparelho de TV em novembro de 2023. O corpo foi enterrado aos fundos de uma quitinete, no bairro Amambai, em Campo Grande.
A sentença ainda será publicada, conforme o Poder Judiciário de MS. Venezuelano, Andres disse ao Júri, na manhã desta quarta-feira (6), que negou pedido para matar a vítima, já que não veio ao Brasil para cometer homicídio. Acompanhado de uma tradutora, o venezuelano contou sua versão sobre os fatos, que também envolvem os acusados Everson dos Santos Alencar e Thales Silva dos Santos, tio e sobrinho.
No relato de Andres, Everson, que tinha um relacionamento com Wagner havia cerca de 2 anos, queria matar a vítima porque tinha ciúmes do companheiro. Isso porque Wagner costumava se relacionar com outros homens para conseguir dinheiro. Somado a isso, também furtava objetos da casa em que morava com Everson para trocar por drogas.
O homem, que também mantinha um relacionamento com o venezuelano havia cerca de 3 meses, teria convidado Andres para cometer o homicídio. “Everson me ligou e me pediu um favor. Eu disse que estava ocupado, mas ele me chamou para a casa dele. Então, me disse precisar matar o Vicente, porque ele teria roubado a casa dele”, declarou. Andres disse ser melhor ir à polícia antes de ir matá-lo. No outro dia, perguntou de novo se poderia ajudar a matar o Vicente. “Eu disse que não, porque não vim para o Brasil cometer um homicídio”. Ele insistiu, logo, Andres disse que iria terminar a relação.
Mais um dia se passou até Everson avisá-lo que teria desistido de matar Wagner. “Everson disse que Wagner estava em uma clínica. Eu juntei minhas coisas e fui morar com ele”. De madrugada, bateram na porta. Era Wagner, que havia fugido da clínica. “Everson me disse ‘tenho uma notícia, é Vicente’”.
Assim, a vítima voltou a morar no local. Na manhã seguinte, Andres disse ter se arrependido, pediu ajuda para a chefe dele para mudar de novo para o próprio apartamento. “Se Vicente roubar o Everson, rouba a mim também”.
À noite, estava com Everson e Thales bebendo. Andres disse para irem para a casa dele, mas Everson disse que não, porque abriu um buraco no tanque. Andres relata que Everson disse: “vão ter dois mortos: ou Vicente, ou você”, alega.
Assédio sexual e estrangulamento
A denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) aponta que Wagner assediava Andres. Em uma das ocasiões, chegou a apalpá-lo nas nádegas. Também mandava mensagens de cunho sexual para o amante do namorado. Essa teria sido a motivação de Andres para assassinar Wagner, conforme a acusação.
Andres nega que essa tenha sido a motivação. “Ele passou, sim, mas nunca me ocorreu pela mente matar uma pessoa porque ela me passou a mão. Mas ele [Wagner] já tinha planejado, até porque se eu quisesse matar alguém por passar a mão, já teria matado diversas pessoas”, afirma.
No dia do crime, 19 de novembro de 2023, Everson, Thales – o sobrinho dele, que morava na mesma casa – e Andres estavam na casa de Everson ingerindo bebidas alcoólicas. Segundo o venezuelano, Everson coagiu o sobrinho e ele para matarem Wagner.
Antes de atraírem a vítima para a casa, o trio cavou uma cova perto do tanque de lavar roupas, com uma tampa de panela de alumínio. Mais tarde, procuraram Wagner pelas ruas. Já em casa, Everson perguntou porque Wagner estava assediando sexualmente Andres, mas Wagner negou. Andres disse ter provas, pois havia tirado prints de mensagens.
“Ele disse: ‘tudo bem, isso vai acabar aqui’. Então Everson colocou a mão no pescoço da vítima e a outra tampando o nariz. Thales colocou a mão na boca, para que não fizesse barulho. Nesse momento eu coloquei o fio”, relata.
Wagner caiu no chão e suspirou. Andres afirma que desistiu de matar, mas Thales continuou porque disse que Wagner mataria Everson e Andres caso retornasse a vida. Uma vizinha ajudou na ocultação de cadáver, orientado a comprar cal para que o corpo não começasse a emitir odores. Após o crime, Everson teria dito “vou sepultar ele na minha casa, para tê-lo mais perto”.
“Eu ainda via seu rosto”
No dia seguinte, Andres contou para a irmã sobre o caso. Ele conversou com Everson antes de serem presos. “Ele disse que se fosse para a cadeia, quando saísse, iria me matar e depois sumir”.
Sentindo-se pressionado, Andres decidiu tirar a própria vida, mas foi interrompido pelas irmãs. “Ela disse ‘você tem que ser homem e se entregar’, mas eu não queria e queria fugir”. Ele foi embora da casa, mas se arrependeu. Foi até o trabalho da irmã, que procurou a polícia. Andres se apresentou e disse ter colaborado com a polícia. “Contei tudo. Sobre o homicídio, onde estava Everson, onde estava o corpo”.
Questionado se planejava ficar com Everson após o homicídio do namorado dele, negou. “Ficaria com culpa. Imagina viver em uma casa onde alguém está sepultado, onde ocorreu um homicídio. Eu ainda via seu rosto”.
Homicídio qualificado e ocultação de cadáver
Além de Andres, Thales Silva dos Santos também encarou o júri popular nesta quarta-feira. Everson é um dos réus no processo pelo homicídio qualificado por motivo fútil e ocultação de cadáver, contudo, recorreu à decisão do juiz Aluizio Pereira de levar o trio ao julgamento popular. Logo, será decidido se ele encara ou não o júri popular.
A vizinha mencionada por auxiliar na ocultação de cadáver também foi uma das rés do processo, mas apenas por esse crime. Por ter bons antecedentes e não ter participação significativa no caso, o processo contra ela foi suspenso.
‘Fecho os olhos e enxergo ele morto’
Sem a presença de Everson dos Santos Alencar, que era companheiro de Wagner e um dos acusados pelo crime, o julgamento ouviu o depoimento de duas testemunhas.
Uma delas foi a irmã de Andres, Francis Lovera. Ela foi uma das peças-chave na descoberta do homicídio, uma vez que o irmão contou sobre o crime.
A irmã dele foi ouvida por videoconferência. Ela relatou que Andres sempre foi muito pequeno sendo grande, por ser muito chorão. “Para mim, era muito difícil acreditar no que ele estava falando. Mas quando ele me falou ‘irmã, me leva na delegacia porque eu fecho os olhos e consigo enxergar aquele homem morto’, aí eu acreditei”, conta a irmã.
Entenda o crime
Everson foi preso por policiais em seu local de trabalho, em um restaurante em um shopping da cidade onde trabalhava como cozinheiro. Ele confessou o crime e disse que matou o companheiro por estar sendo ameaçado, mas não revelou que tipo de ameaças.
Os comparsas relataram que Everson matou Wagner por ciúmes, já que a vítima estava apresentando comportamento diferente e aparecendo com roupas novas em casa.
O crime foi premeditado pelo menos 11 horas antes do assassinato, quando o trio chegou a discutir a melhor maneira de matar Wagner sem que sujasse a casa de sangue.
A morte, então, foi determinada por estrangulamento de fios, assim, não faria ‘bagunça’ na residência,
O trio atraiu Wagner por volta das 20 horas de domingo (19) até a casa, quando começaram uma discussão e cometeram o assassinato.
Uma cova já havia sido cavada no quintal da residência, onde o corpo foi enterrado sob orientações da vizinha Maria Nazaré para não deixar cheiros e o crime fosse descoberto.
O trio comprou argamassa, cimento e materiais de construção para enterrar o corpo de Wagner, que foi desenterrado por equipes da DHPP, após a denúncia do crime. Foi determinada fiança de R$ 1.320 para Maria Nazaré e para os outros presos e feito o pedido de prisão preventiva.
Dia do crime
No domingo (19), Everson, companheiro de Wagner, recebeu mensagens de uma pessoa que seria endereçada à vítima. Logo após as mensagens, Everson, Talles, Andres encontraram a vítima no Horto Florestal e de lá todos foram para a casa, no Amambaí. Já na residência, o companheiro passou a agredir com tapas Wagner e logo depois os três passaram a enforcar a vítima com fios.
Wagner foi assassinado e o corpo jogado dentro da cova. A vizinha foi quem teria dado orientações de como fazer para que o corpo não exalasse cheiro e fosse percebido que alguém estava morto dentro da residência. Contra todos já havia pedido de prisão preventiva.
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