Jogo do bicho sobrevive em Campo Grande enquanto ‘guerra pelo controle’ segue nos bastidores
Conversas entre chefes antigos e políticos, além da corrupção de policiais, fazem parte da luta pelo jogo do bicho em Campo Grande
Mirian Machado –
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Mesmo com a prisão de ‘gerentes’ que supostamente atuavam nos dois lados na disputa pelo controle do jogo do bicho em Campo Grande, nos bastidores tudo corre normalmente e de forma aquecida. O Jornal Midiamax percorreu vários bairros da cidade descobrindo que as banquinhas continuam fazendo apostas.
A verdadeira ‘guerra’ pelo controle da contravenção no maior mercado sul-mato-grossense do jogo do bicho implica políticos, servidores da Sejusp e grupos antagônicos. Todos alegam ser os ‘herdeiros’ do Gato Preto, banca contraventora que dominou por décadas a atividade em Campo Grande, mas acabou destronada com a Operação Omertà.
Como na atividade ilícita não existem ‘contratos de sucessão’ assinados, as negociações pelo controle da atividade envolvem desde conversas entre os chefes mais antigos, acordos com políticos e a corrupção ou cooptação de policiais.
Assim, quase um ano após a ‘Operação Sucessione’ ser deflagrada em Campo Grande e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) prender supostos integrantes de organização envolvida, a contravenção continua atuando na Capital.
Nas bancas, anotadores só querem ‘paz e ordem’
No entanto, quem vive da contravenção pouco acompanha e muitos nem se importam com quem está no controle, desde que haja ‘paz e ordem’ no funcionamento do jogo do bicho em Campo Grande.
O Jornal Midiamax rodou alguns pontos da cidade e apesar de várias bancas estarem fechadas, duas, que estavam em funcionamento, estavam fazendo as apostas.
Em uma banca, um idoso de 76 anos diz que faz os jogos há 17 anos. Ele contou que parou por alguns anos, mas depois acabou retornando. Explicou ainda que é aposentado, mas consegue tirar uma ‘ajuda’ com as vendas, que são cerca de 20% do valor vendido.
Jogo do bicho em Campo Grande atrai políticos e ‘forasteiros’
Disse que atualmente trabalha com jogos de responsabilidade de fora do Estado, mas que ouviu dizer que o grupo de Campo Grande que atuava na contravenção está novamente tentando voltar a assumir o posto.
“Tudo é proibido. Já fui pra cadeia três vezes, prestar depoimento, pagar uma cesta básica. Pela idade que a gente tem, a gente passa vergonha, é feio”, lamentou.
Sobre a briga entre quem quer assumir o poder do jogo do bicho na cidade, o aposentado explica que a situação não chega para quem vende. “A gente é o último a saber. Quando chega pra gente, a gente já vai pra cadeia. Eles não falam nada. É entre eles lá. Quando começa, a polícia tem que vir onde tem banca, onde tem jogo”, explicou.
Ele afirmou ainda haver um boato de que a antiga organização estaria tentando retomar o poder. “Essa que nós fazemos é do Rio. A que estava aqui em Campo Grande acabou, mas parece que tá querendo entrar novamente. Então, tá essa discussão, essa briga aí. Um quer tomar o poder do outro né”, lembrou.
O idoso contou ainda que trabalha no local com a venda de cigarros, doces, carvão e lenha, mas que o jogo ajuda na renda. “Todo mundo fala que vai regularizar. Conversa com deputado, prefeito, todo mundo fala que vai regularizar. Só fica na promessa”, reclama.
Bets e apostas online crescem, jogo do bicho diminui
Ele afirmou que muitos colegas acabaram abandonando as vendas. Uns faziam em bancas, outros em bares e lojas, mas reduziram mais da metade. Um dos motivos também seria porque há muitos outros tipos de apostas online, outras que oferecem mais segurança, já que as pessoas são desconfiadas quanto ao jogo do bicho.
“Muita gente já parou. Antigamente tinha mais jogo e mais gente que fazia”, afirma. Já em outra banca, em uma região próxima, mesmo após a equipe conseguir flagrar uma aposta no local, depois de se identificar como sendo da reportagem, a dona da banca negou.
Disse que trabalhava com a contravenção tempos atrás, porém depois que precisou ser intimada no Fórum para esclarecimentos e assinar ‘papéis’, afirma ter parado de vender o jogo.
“Eu fazia, não faço mais, porque eu respondi processo. Então eu larguei mão. Não tenho mais contato, mais nada, não converso mais sobre isso. Isso me causou danos, tive que ficar dois anos indo lá no Fórum. Meu irmão é da polícia, e disse pra eu sair fora”, afirmou.
Ela ainda lembrou que acredita ter reduzido, pois há muitas apostas online atualmente.
A reportagem tentou contato com a Corregedoria da Polícia Militar sobre os policiais envolvidos no crime e também com o Gaeco, através do Ministério Público, para obter informações atualizadas sobre o processo e investigação, mas não tivemos retorno. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
‘Sucessione’
Em dezembro do ano passado, o Gaeco deflagrou a operação Sucessione contra o jogo do bicho em Campo Grande. As investigações descobriram fortes indícios de que a organização criminosa supostamente estava inserida nos órgãos de segurança pública de Mato Grosso do Sul.
A operação cumpriu 10 mandados de prisão temporária e 13 mandados de busca e apreensão em Campo Grande e Ponta Porã. O deputado Neno Razuk (PL) foi alvo da operação, que cumpriu contra ele um mandado de busca e apreensão. Quatro assessores do deputado foram presos.
Segundo as investigações, a organização criminosa era responsável por diversos roubos praticados em plena luz do dia e na presença de outras pessoas, em Campo Grande, na disputa pelo monopólio do jogo do bicho local.
Jogo do Bicho na Sejusp
Além do envolvimento direto de servidores públicos supostamente cooptados para atuar em favor do crime organizado, pressão política e até ameaças estariam por trás da mobilização dos grupos que disputam o mercado milionário do jogo do bicho campo-grandense.
Após a apreensão de 700 máquinas eletrônicas usadas pelo jogo do bicho em uma casa no bairro Monte Castelo, a Sejusp teria se tornado foco da medição de forças entre os grupos que estavam tocando o jogo do bicho descentralizado em Campo Grande e um grupo que tem se anunciado como ‘novos donos do negócio’.
Disputa e roubo de malotes
Três boletins de ocorrência estão registrados por roubo dos malotes, e duas das três vítimas reconheceram o sargento da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) como autor dos assaltos.
Nas três ocasiões, segundo os registros, o sargento teria usado uma pistola, ameaçado e intimidado os apontadores, na tentativa de fazê-los mudar de lado. Citando o nome do suposto interessado em assumir o jogo do bicho em Campo Grande, o policial da reserva sempre deixava um ‘recado’ ameaçador.
Na casa onde as máquinas foram apreendidas, uma pistola foi encontrada. A investigação das máquinas encontradas está a cargo do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado). Além do sargento, um major aposentado da Polícia Militar também foi flagrado na residência.
A disputa pelo jogo do bicho em Campo Grande, que estaria sob o comando de um grupo de outro estado, teria envolvimento de servidores públicos da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul). O grupo rival teria assumido a Capital logo após a Operação Omertà desmantelar o grupo que mantinha a contravenção em Campo Grande.
Este grupo rival, logo após assumir, teria ‘comprado’ rivais para que não se instalassem na Capital. Agora, o grupo que lidera a região de fronteira de Mato Grosso do Sul tenta tirar do grupo rival o controle do jogo do bicho campo-grandense.
Vácuo de poder desde a Omertà
Desde que a Omertà desarticulou o grupo que chefiava o jogo do bicho em Campo Grande, o vácuo de poder do ‘Gato Preto’ virou alvo de disputa. Operadores da jogatina passaram a tocar pequenas bancas independentes que dividiram a cidade em 5 ou 6 áreas de atuação.
Segundo a denúncia, desde que a briga começou, começaram ameaças veladas a servidores, pressão contra delegados e reuniões com políticos interessados.
Em 2021, a tensão atingiu o auge com a Operação Deu Zebra, apontada por policiais como uma forma de a Polícia Civil interferir na disputa. Além disso, servidores e contraventores reclamam que as investigações nunca chegaram sequer perto dos verdadeiros donos do jogo do bicho.
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