Vergonha, medo de ficar marcada para o resto da vida, ser julgada por conhecidos e, agora, pelo ‘tribunal da internet'. Esse é um resumo possível dos temores pelos quais passam as vítimas de um crime de estupro. O que se vê, muitas vezes, são pessoas culpando a mulher por ser estuprada. Nos comentários em matérias postadas, como no feed do Jornal Midiamax nas , um “esquecimento” é comum: o único culpado é o criminoso que abusou da vítima.

“Ah, mas, ela estava andando sozinha e à noite na rua, com uma roupa provocante”. Também é possível ver muitas vezes alguns que dizem: “Mas, ela aceitou o convite e depois disse não”, traz um dos comentários presentes nas redes sociais do Jornal Midiamax, acerca de publicação que noticiou o estupro de uma adolescente no início da semana.

A delegada da (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Maíra Pacheco Machado, que já atendeu vários casos de estupros contra mulheres, disse ao Jornal Midiamax que situações de julgamento como as relatadas acima são “irracionais e desumanas”, como fazem os ‘inquisidores' da internet.

“A cultura do estupro ainda é muito forte, ou seja, responsabilizar alguns comportamentos da vítima como ensejadores daquele ato, daquela violência. Por exemplo, a vítima está usando uma saia um pouco fora do ‘padrão' de comprimento, de biquíni, ou se embriagou, ingeriu bebida alcoólica… Sempre há alguém tentando observar na vítima um fundamento daquela violência”, disse a delegada.

Maíra Pacheco ainda fala que “julgar a vítima por qualquer comportamento dela é irracional. A gente precisa olhar não só com o olhar jurídico que nem todos têm acesso, mas com olhar humano”. Como no caso já citado, no qual uma menina de 14 anos foi levada para o quarto de um hotel, onde foi oferecido a ela bebidas alcoólicas e depois a garota foi estuprada. 

“Era uma menina de 14 anos. E ela foi até o local, ingeriu bebida ou deram — aí já tem um outro crime — acabou não consentindo com o ato. A lei entende que ela não tem como se opor com o estado que ela venha ficar”, falou a delegada.

Sentenciada

O tribunal da internet, nesse caso, já tinha dado a sentença de que a menina tinha se colocado naquela situação, portanto, era culpada pelo abuso cometido contra ela. “Mas isso chega a beirar o ridículo, é desumano, não tem como a gente julgar uma pessoa que é frágil, que está na adolescência, e mesmo que não estivesse, pode acontecer com uma mulher adulta também. Ela foi violentada e aí a gente julga essa pessoa? Nós mulheres precisamos ser respeitadas a partir do nosso não”, falou Maíra.

Casos de estupros cresceram cerca de 8,3% no Brasil no ano passado. Nos primeiros seis meses de 2021, foram 26.709 casos no país contra 24.664 do mesmo período de 2020. A variação dos crimes de estupro no Brasil entre 2019 e 2020 era de queda, de -15,7%. Em  2019, foram registrados 29.242 casos contra 24.664 de 2020. Foram quase 30 mil pessoas violentadas no primeiro semestre de 2021.