Além dos esquemas com locadoras para o recebimento de ‘bônus' para a restituição de veículos roubados recuperados, os policiais civis presos na última segunda-feira (25) durante deflagrada pelo (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) também desviavam drogas da delegacia.

Em relatório do Ministério Público, foi apontado que o investigador aposentado Jonatas Pontes Gusmão retirava maconha apreendida que ficava depositada na 2ª Delegacia de Polícia e entregava o entorpecente para João Batista Olmedo Júnior e Ricardo Alexandre Olmedo para fazer a revenda da droga.

João e Ricardo são irmãos de Vladenilson Daniel Olmedo, conhecido como ‘Vlad', preso na primeira fase da Operação Omertà. O investigador aposentado junto dos irmãos tinham códigos para tratar sobre os desvios da maconha, como ‘remédio pra tereré', e ‘coisa', quando em ligações combinavam sobre a retirada da droga para revenda. Ainda durante uma das conversas, Jonatas teria sido questionado se estava fazendo a proteção da população e em tom de deboche o investigador respondeu, “protegendo a sociedade e combatendo a criminalidade”, demonstrando o envolvimento com ações ilícitas, de forma um tanto quanto descarada, segundo relatório do Gaeco.

Também foi apurado durante as investigações que João Olmedo Júnior desenvolvia diálogos de cunho criminoso, mencionando que se fosse exposto iria “se vingar”, matando terceiros e seus filhos. Ele ainda teria dito ter recebido cobranças supostamente ligadas a dívidas do tráfico de entorpecente.

Segundo o relatório, ainda foi apurado que João fez uma viagem junto de outros policiais, em um Ford Ka que havia sido roubado em Belo Horizonte. No retorno da viagem, já em Ponta Porã, acabou abordado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) recebendo voz de prisão. Nesse caso, foi registrado boletim de ocorrência, mas não houve o do policial aposentado que foi preso pela PRF.

Esse fato evidencia a interferência de Jonatas, já que telefonou para a 1ª Delegacia de Polícia Civil para se inteirar do ocorrido, o que sinaliza um possível vínculo entre tais investigados.

Outra parte do relatório do Gaeco traz que João Batista Olmedo Júnior havia recebido uma ligação de terceiro que aparentemente seria para encomendar droga e o fornecedor seria Jonatas Pontes Gusmão, por conta de diálogos que já tiveram anteriormente, em que esse providenciou o ‘remédio verde da folha'. 

Tiveram as prisões preventivas decretadas Jonatas Pontes Gusmão, Valdenei Peromalle, Márcio André Molina Azevedo, Adriana Jarcem da Silva, Mauro Ranzi, Rogério Insfran OCampos, João Batista Olmedo e Ricardo Alexandre Olmedo.

‘Bônus' de locadoras

Os policiais tinham um esquema com locadoras de carros para a restituição de veículos que eram recuperados. Em dois meses, os policiais chegaram a receber mais de R$ 47 mil, no que eles chamavam de ‘bônus', ou seja, propina, para devolver os veículos, segundo as investigações.

Valdinei havia armado um esquema junto com o escrivão Jonatas Pontes, que também era do controle de apreensão na mesma delegacia. O investigador aposentado chegou a entrar em contato com um procurador de locadoras de automóveis para dizer que as restituições de carros eram feitas a partir de recebimento de ‘bônus' a ser ofertado aos policiais.

Em um primeiro momento, o procurador das locadoras afirmou que não era costume fazer este tipo de negociata, mas depois acabou aceitando fazer o pagamento aos policiais que ajudassem nas restituições de veículos das empresas. 

Em dois meses, de 20 de junho de 2018 a 27 de agosto de 2018, os policiais receberam o valor de R$ 47.665. Entre os meses de julho de 2017 a agosto de 2018, os investigados também receberam R$ 17.650 de uma empresa de assessoria, nas restituições de veículos recuperados. 

Nas interceptações telefônicas feitas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), foi percebido que os policiais usavam códigos para tratar sobre os ‘bônus' recebidos pelas empresas. Após os recebimentos, Valdinei — sempre no dia posterior — fazia a distribuição do dinheiro para os participantes do esquema, que também incluía Adriana Jarcem da Silva, que trabalhava na 1ª Delegacia de Polícia Civil.

Interceptação telefônica

Interceptação telefônica durante a investigação do Gaeco contra policiais acabou na descoberta de que o delegado, Patrick Linares, estaria envolvido com os outros colegas na busca de obtenção pecuniária de forma ilícita.

Segundo o relatório do Gaeco, em uma das conversas entre dois policiais presos na operação, um deles fala que Patrick Linares havia dito que não queria mais saber de se envolver em bronca, já que havia sido aprovado em um novo concurso público.

Ainda durante as investigações, foram identificados pelo Gaeco vários depósitos em espécie, que foram feitos na conta do delegado e de sua esposa. Entre os anos de 2017 e 2019, foram feitos 18 depósitos, totalizando R$ 17.060, na conta bancária do delegado.

Já na conta da esposa do delegado, foram descobertos 190 depósitos que totalizaram o valor de R$ 214.597, com algum tipo de identificação — outros 86 créditos no valor total de R$ 89.980 não tinham identificação ou estavam precárias.

Foram esses depósitos que chamaram atenção durante as investigações. Além disso, a esposa do delegado, que também é funcionária pública, não teria declarado outra atividade remunerada perante a Receita Federal, conforme foi mencionado pelo Ministério Público.

Ainda segundo o relatório, foram identificados indícios de que o recebimento das quantias pelos investigados sinalizavam o recebimento de valores de forma irregular, já que — como agentes públicos — a única fonte de renda conhecida viria do Estado, não se justificando o depósito de tantos valores sem origem aparente. O Gaeco ainda aponta que a conta bancária da esposa do delegado poderia estar sendo usada como ‘laranja' no recebimento de propinas.

* Atualizada às 18h03 para correção de informação