Operação que teve Ronnie Lessa como alvo em Campo Grande prendeu delegados do Rio de Janeiro

Grupo é investigado por manter rede de jogos de azar

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Ronnie Lessa está preso em Campo Grande – Divulgação/ PF

A Operação Calígula, realizada nesta terça-feira (10), prendeu dois delegados da Polícia Civil do Rio de Janeiro (RJ), sendo que a delegada Adriana Belém teve a prisão preventiva decretada nesta tarde. A ação cumpriu mandado contra Ronnie Lessa, que está detido no Presídio Federal de Campo Grande.

A prisão da delegada licenciada Adriana foi decretada pelo TJRJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Alvo de mandado de busca e apreensão, ela tinha em casa R$ 1,8 milhão em espécie. A residência fica localizada em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, segundo informações do portal Uol Notícias.

Realizada nesta terça, a ação cumpriu mandados contra uma rede de jogos de azar, que seria comandada por Rogério de Andrade e tinha como integrante o ex-policial militar Ronnie Lessa, preso pela morte da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 2018.

O valor apreendido na casa de Adriana foi apontado pelo Ministério Público como forte indício de lavagem de dinheiro. Ao menos 12 pessoas foram presas na operação, entre elas o delegado Marcos Cipriano.

A Polícia Civil informou que os dois delegados não ocupam cargos atualmente. “Eles estão afastados e lotados e outros órgãos. A Corregedoria-Geral da instituição solicitará acesso às investigações para dar andamento aos processos administrativos necessário”, relatou ao portal Uol.

A delegada Adriana ocupa cargo de assessora na Secretaria Municipal de Esportes do Rio de Janeiro e a prefeitura informou que ela será exonerada ainda hoje.

Operação Calígula

O MPRJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro), por meio da Força-Tarefa do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) para o caso Marielle e Anderson, com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência, deflagrou nesta terça-feira a Operação Calígula.

A ação é voltada a reprimir as ações da organização criminosa liderada por Rogério Costa de Andrade Silva, contraventor conhecido como Rogério de Andrade, e seu filho Gustavo de Andrade, integrada por dezenas de outros criminosos, incluindo Ronnie Lessa, denunciado como executor do homicídio da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.

A operação tem como objetivo o cumprimento de 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão, incluindo quatro bingos comandados pelo grupo, tendo sido alvos de denúncia um total de 30 pessoas, pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, conforme o MPRJ.

Os mandados requeridos pelo MPRJ foram expedidos pela Vara Especializada. Além das prisões, foram apreendidos 17 aparelhos de celular, 5 notebooks, um HD e um pen drive, R$ 1,8 milhão na casa da delegada Adriana Belém, alvo de busca e apreensão, além de R$ 48.251,20, 2.200 dólares, 4.420 pesos argentinos, 70 pesos uruguaios, todos em espécie, R$ 3.800 em cheque, documentos, chips, noteiros, máquinas de cartão, 107 máquinas de caça-níqueis, cópias de processos e componentes eletrônicos.

Conforme denúncias oferecidas pelo MPRJ, Rogério de Andrade e Gustavo de Andrade comandam uma estrutura criminosa organizada, voltada para exploração de jogos de azar não apenas no Rio de Janeiro, mas em diversos outros Estados. A estrutura se fundamenta em dois pilares: a habitual e permanente corrupção de agentes públicos e o emprego de violência contra concorrentes e desafetos, sendo esta organização criminosa suspeita da prática de inúmeros homicídios.

Além disso, a organização estabeleceu acertos de corrupção estáveis com agentes públicos integrantes de diversas esferas do Estado, principalmente ligados à Segurança Pública, incluindo tanto agentes da Polícia Civil, quanto da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Agentes da Polícia Civil do Rio de Janeiro mantinham contatos permanentes com outros policiais corruptos, pactuando o pagamento de propinas em contrapartida ao favorecimento dos interesses do grupo liderado por Rogério.

Por outro lado, oficiais da Polícia Militar do RJ serviam de elo entre a organização e Batalhões de Polícia, que recebiam valores mensais para permitir o livre funcionamento das casas de aposta do grupo. Em um destes episódios, o delegado Marcos Cipriano intermediou encontro entre Ronnie Lessa, Adriana Cardoso Belém, então delegada de Polícia titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), e o inspetor de Polícia Jorge Luiz Camillo Alves, braço direito de Adriana Belém.

Isso resultou no acordo que viabilizou a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níqueis apreendidas em casa de apostas da organização criminosa, tendo o pagamento da propina sido providenciado por Rogério de Andrade. Na mesma linha de atuação, foi denunciado como integrante do grupo o policial civil aposentado Amaury Lopes Júnior, elo do grupo com diversas delegacias, e foi denunciado como receptor de propinas, agindo em favor de integrantes do alto escalão da PCERJ, o Inspetor Vinícius de Lima Gomez.

Parceria entre Rogério de Andrade e Ronnie Lessa para a prática de ações criminosas é apontada nas denúncias como antiga, havendo elementos de prova de sua existência ao menos desde 2009, quando Ronnie, indicado como um dos seguranças de Rogério, perdeu uma perna em atentado à bomba que explodiu seu carro.

Posteriormente, em 2018, ano da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, os dois denunciados se reaproximaram, e Rogério novamente se aliou a Ronnie e pessoas a este ligadas, abrindo uma casa de apostas na localidade conhecida como Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, havendo elementos indicando a previsão de inauguração de outras casas na Zona Oeste do Rio.

Conforme o MPRJ, o bingo financiado por Rogério, e administrado por Ronnie, Gustavo de Andrade e outros comparsas, foi fechado pela PMERJ no dia de sua inauguração. Em seguida, após ajustes de corrupção com policiais civis e militares, a mesma casa foi reaberta e as máquinas apreendidas foram liberadas.

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