A morte de um bebê de 9 meses acabou virando caso de investigação com a prisão surpreendente da própria do , acusada da morte da criança, em Miranda, a 203 quilômetros de Campo Grande. O caso que aconteceu há 1 ano ainda choca o delegado Pedro Henrique que atendeu à ocorrência.

A mãe do bebê foi presa no dia 5 de agosto de 2021 pelo crime, junto do pai da criança e de mais dois ‘curandeiros'. Na época, eles foram indiciados pelo crime de homicídio qualificado pelo meio cruel. O delegado Pedro, que cumpriu as prisões dos acusados, contou que esse crime foi muito marcante. O bebê morreu em fevereiro, sendo seis meses de investigação. 

Ele ainda disse que para solucionar o caso teve de estudar várias religiões, já que não tinha nenhuma específica nesse caso para poder entender o que havia sido feito com a criança. “Estudamos a cultura religiosa indígena da etnia e vimos que não era compatível”, falou Pedro Henrique.

O delegado ainda contou que após os estudos chegou à conclusão que não havia nada compatível com o que tinha ocorrido, excluindo, assim, a questão cultural indígena. Pedro Henrique ainda falou que foram encontrados indícios de outras religiões, mas que não era cultural e sim a pretexto para coisas.

Segundo o delegado, foi um mês estudando as religiões para que pudessem chegar a uma conclusão do caso. “O direito à religião, não é maior que o direito à vida”, disse Pedro Henrique. Sobre a postura da mãe, o delegado disse que a mulher se mostrou muito fria, mesmo vendo o filho com todos os ferimentos no corpo.

O delegado ainda lembrou que uma das enfermeiras que atendeu o caso ficou tão chocada com a situação que até hoje chora ao lembrar da morte do bebê.

Morte após ritual de magia negra

O bebê já foi levado morto para o pela mãe, que alegava que a criança estava viva e, apenas, com ‘sapinho'. O bebê tinha diversas queimaduras, lesões pelo corpo e ainda possuía um terço com cruz de maneira envolto em seu pescoço. 

A criança, que estava com aspecto saudável e bem nutrido, apresentava queimaduras que pareciam ser de cigarro quente, na orelha, no braço e no tórax, circuladas de uma espécie de tinta vermelha. O bebê também possuía três bolhas de queimaduras e um hematoma na virilha, também circuladas por tinta vermelha e com a presença de substância de pó preto. 

Algumas lesões já estavam em fase de cicatrização, sugerindo que foram realizadas continuamente há alguns dias. Os funcionários e médicos do hospital informaram que não existia nenhum indício de “sapinho” na criança. O laudo necroscópico concluiu que a criança morreu de septicemia – infecção generalizada, provavelmente decorrente da lesão na virilha.

Na época, os pais deram versões contraditórias sobre as lesões e incompatíveis sob o ponto de vista médico, chegando a relatar que os ferimentos surgiram no mesmo dia e “do nada”. Só depois os pais confessaram que levaram o bebê de 9 meses a uma dupla de curandeiros locais. 

Ritual de 4 dias

A criança foi submetida a ‘procedimentos espirituais' durante 4 dias seguidos, num local chamado “santuário”, onde existia a presença de diversas imagens de entidades religiosas. Os pais informaram que as lesões no corpo surgiram após os rituais e que a mancha de pó preto e tinta vermelha também são oriundas destes procedimentos, que duravam aproximadamente 1 hora. Um dos curandeiros também informou que fizeram os referidos procedimentos ritualísticos – “simpatias”- com a criança, para a sua “cura”. 

Uma das curandeiras presa seria conhecida por realizar rituais satânicos e magia negra. Na residência da curandeira, a criança foi levada a um quarto, onde teriam diversas imagens de entidades religiosas, sendo que entoaram cânticos, invocando tais entidades, bem como passaram óleo com sementes pretas. Após isto, a curandeira informou que o “santo” lhe disse que “não era mais com ele” e deveriam levar a criança ao médico, o que foi feito.