Especialista em segurança pública classifica como aberração episódio envolvendo delegado-geral de MS
Esta é a opinião de Diógenes Lucca, que é tenente-coronel da Polícia Militar em São Paulo e tem 42 anos de serviços prestados nesta área
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“Aberração”! É com este termo que o especialista em segurança pública Diógenes Lucca, que é tenente-coronel da Polícia Militar em São Paulo, classifica a atitude do delegado-geral de Mato Grosso do Sul, Adriano Garcia Geraldo, que perseguiu, constrangeu e consumou a ameaça a uma jovem de 24 anos com três tiros nos pneus do carro – um Renault Kwid. O delegado-geral ainda aterrorizou a jovem no estacionamento de uma escola de inglês, na avenida Mato Grosso, com agressões verbais.
Para o especialista Diógenes Lucca, o delegado-geral deve ser exonerado imediatamente do cargo porque, pelas imagens, está nítida toda ameaça à garota. “A função do funcionário público é servir à sociedade. Tanto é que se trata de um servidor público. A polícia, pela própria formação, é treinada para ter autocontrole e está acostumada a lidar com situações de tensão extrema. Não dá para entender uma atitude tão extremada apenas por ter levado uma ‘fechada’ no trânsito. Não era nem para ele ter buzinado. Quanto mais perseguir e atirar na vítima. Esse caso precisa ser investigado”, detalha Diógenes Lucca.
No fim da tarde desta sexta-feira, o delegado Adriano Garcia Geraldo entregou carta ao governador Reinaldo Azambuja com pedido para sair do cargo.
Descontrole emocional, irritação por motivo irrelevante e até abuso de autoridade podem ser enquadrados na postura do delegado-geral, na avaliação de Diógenes Lucca. Para o especialista, ainda que jovem tenha ‘estirado o dedo’ para o delegado, não tinha como ela saber que era contra uma autoridade do Estado, pois ele estava em um carro descaracterizado – ele estava à paisana. Além disso, segundo Diógenes Lucca, a atitude da garota aconteceu em consequência da buzinada que ela levou quando o carro se desligou na saída do semáforo.
De acordo com Diógenes Lucca, a atitude do delegado-geral é, no mínimo, descabida, e o Ministério Público de Mato Grosso do Sul, assim como a Corregedoria da Polícia Civil, devem tomar atitudes e mostrar a sociedade que estão atentas e são céleres, mesmo diante de uma ação impensada de uma autoridade. “Será uma vergonha para o Estado de Mato Grosso do Sul manter esse delegado-geral no comando. Pela honra da polícia, é bom que ele seja exonerado, afastado e investigado imediatamente. Se o governo do Estado não tomar essa atitude, dará a entender – para a população – que a polícia enlouqueceu”, afirma Diógenes Lucca.
Uma das maiores referências em segurança pública do País, Diógenes Lucca é tenente-coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo. Foi na corporação, onde atuou por 30 anos, que se tornou especialista em negociação e gerenciamento de crise. Diógenes Lucca foi fundador do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e passou 11 anos à frente do grupamento. Foram mais de 100 situações de negociação extrema que, para orgulho do militar, tiveram desfecho positivo tanto para os reféns quanto para os policiais envolvidos.
Lucca é bacharel em Direito, tem pós-graduação em Política e Estratégia pela USP (Universidade de São Paulo) e é mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Estudos Superiores da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Além disso, é professor de Negociação do MBA Executivo Internacional da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo, sócio-diretor da The First Consultoria e comentarista de segurança pública. Diógenes Lucca também é autor de dois livros: “O Negociador — Estratégias de negociação para situações extremas” e “Diário de um Policial — O submundo do crime narrado por um comandante do GATE”.
Especialista do Fórum Brasileiro de Segurança Pública também defende exoneração
Para Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a postura do delegado-geral Adriano Garcia Geraldo chama a atenção por ser tratar do número um da Polícia Civil no Estado de Mato Grosso do Sul. “Ele pôs muitas pessoas em uma situação de risco, até porque foi acionado todo um aparato policial e estrutura do Estado. É uma atitude atípica que merece ser investigada, pois pode haver indícios de abuso de autoridade. Não era para perseguir, nem tampouco atirar na garota”, destaca Rafael Alcadipani.
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