Condenado por homicídio em ambulância, delegado é réu por liberar preso sem fazer flagrante

Ação cível tramita na Fazenda Pública e de Registros Públicos de Corumbá

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Delegado Fernando foi condenado por homicídio
Delegado Fernando foi condenado por homicídio

Condenado a 20 anos de prisão por matar um boliviano dentro de uma ambulância na fronteira em Corumbá, a 425 quilômetros de Campo Grande, o ainda delegado Fernando Araújo da Cruz Júnior é réu em outro processo, por improbidade administrativa. Ele é acusado de liberar, sem nem mesmo registrar boletim de ocorrência, um suspeito preso pela Polícia Militar em um flagrante de poluição sonora na cidade de Ladário.

A juíza Luiza Vieira Sá de Figueiredo, da Vara de Fazenda Pública e de Registros Públicos de Corumbá, agendou para o próximo dia 10 de maio de 2022, às 15 horas, a audiência de instrução e julgamento do caso, oportunidade em que serão colhidas as oitivas de testemunhas arroladas pela defesa e acusação, bem como será feito o interrogatório do réu. Por conta da covid-19, o procedimento deve ser realizado por videoconferência.

Os fatos

Conforme ação civil proposta pelo MPMS (Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul), no dia 23 de maio de 2016, como então delegado de Ladário, Fernando libertou um preso sem lavratura do flagrante ou mesmo registro da ocorrência. Consta que, na madrugada daquele dia, a PM foi acionada para comparecer a um clube no centro da cidade, que promovia uma festa com som alto, que incomodava a vizinhança.

A equipe constatou a irregularidade e deu voz de prisão ao responsável, que foi conduzido à Delegacia de Polícia Civil local, para formalização do flagrante. “Ocorre que foi liberado sem que qualquer providência tenha sido promovida por parte da autoridade policial, o ora requerido Delegado de Polícia Fernando Araújo da Cruz Júnior, já que o conduzido não foi preso em flagrante e sequer foi registrada a ocorrência pela Polícia Civil para posterior investigação”, afirma o promotor de Justiça Luciano Bordignon Conte.

Consta que o delegado chegou a criticar policiais que participaram da ação e disse que não iria adotar nenhum procedimento sobre. Mesmo assim, os fatos foram levados ao conhecimento do Ministério Público, que ofereceu denúncia contra o preso e moveu ação por improbidade contra o delegado.

Homicídio

O delegado foi condenado a mais de 20 anos de prisão e expulsão, pela morte de Alfredo Rangel Weber dentro de uma ambulância, em fevereiro de 2019. Ele continua como delegado, pois ainda não foram esgotadas todas as instâncias para recorrer.

O boliviano Alfredo foi esfaqueado durante discussão com Fernando em uma festa e depois socorrido, sendo levado de ambulância para Corumbá. Então, o delegado interceptou a ambulância e o matou a tiros antes de chegar ao hospital. Mas Fernando, achando que não havia testemunhas do crime, foi pego de surpresa quando foi informado pelo investigador da Polícia Civil, Emmanuel Contis, de que a irmã da vítima estava na ambulância e viu o assassinato.

Em meio a toda a trama do homicídio, testemunhas foram coagidas, sendo uma delas o motorista da ambulância, que teve como advogada a mulher de Fernando, Silvia. No entanto, o que o casal não esperava era que policiais bolivianos e até um promotor usassem de chantagem para extorquir os dois, com pedido de R$ 100 mil para que não implicassem o delegado ao assassinato.

Na tentativa de encobrir os rastros do crime, até a execução dos policiais e delegados que estavam investigando o caso foi arquitetada por Fernando, que recebia do investigador todas as informações sobre as investigações.

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