Por se tornarem cada vez mais frequentes, os furtos ocorridos em pontos de ônibus de fazem aumentar não só as estatísticas a cada ano, como também o medo de moradores de áreas conhecidas pela concentração de ocorrências. Os roubos — quando feitos com ameaça ou de arma de fogo — geralmente são rápidos, com o autor junto a um comparsa, em motocicletas.

Nos pontos de ônibus próximos à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), o número de vítimas cresce a cada mês, principalmente de alunos, no final da tarde. O medo faz com que alguns criem estratégias para não ficar sem os bens materiais ou até mesmo a mochila com os livros e cadernos utilizados.

O acadêmico do curso de Ciências Biológicas da UFMS, Fernando Munir Calarge, de 17 anos, resolveu andar com um celular estragado para não ter o aparelho novo levado pelos bandidos, caso seja furtado. A ‘estratégia' surgiu após ele ter sido assaltado e passar um bom tempo para pagar o novo aparelho.

“Comecei a ter aulas noturnas na universidade e tive que pegar ônibus à noite, saindo da aula. Umas três semanas atrás um bandido me assaltou e, em vez de dar meu celular do dia a dia, ofereci o meu antigo estragado”, relata o estudante.

Fernando costumava pegar um ônibus na volta para casa, fora do câmpus, mas após o episódio traumático, começou a esperar outras duas linhas, no ponto do lado de dentro. “Eu trabalhei muito para comprar meu celular atual, e se eu perdesse ele seriam meses somente para pagar, então tive que pensar em alternativas caso o pior acontecesse”, lamenta.

A acadêmica de Direito, de 19 anos, Ana Luiza do Prado Martins, veio de para fazer a graduação na universidade. Com os dois primeiros semestres de ensino remoto, ela já presenciou, nos poucos meses em que está na Capital, diversos relatos de amigos que foram assaltados.

Moradora de um condomínio próximo à faculdade, que concentra grande número de acadêmicos como ela, Ana Luiza adotou o costume de mandar foto para sua mãe e localização em tempo real, toda vez que precisa pegar ônibus. A maioria dos alunos usa o coletivo que a própria universidade disponibiliza, gratuitamente, para deslocamento de um bloco à outro.

“A maioria [das vítimas] são os alunos que vêm à noite para a universidade, e pegam o ‘businho' das 16h ou 17h. Certa vez, um menino ficou tão assustado ao ser assaltado no ponto em frente ao condomínio, que urinou nas roupas e pulou as catracas. Outro colega contou que levaram a mochila e ele só conseguiu pedir ‘por favor, não leva nada, tem meus trabalhos aí dentro'. Eu não fico mais mexendo no celular no ponto”, relembra.

(Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Moradora do condomínio citado por Ana Luiza, Pauliana de Omena Oliveira, de 32 anos, chegou a alertar os outros moradores do bloco após ser assaltada no ponto de ônibus em frente à sua residência. Ela costuma esperar o transporte na entrada do condomínio, e não mais na calçada da rua, após ter sido assaltada. “Hoje não consigo mais ficar no ponto de ônibus, fiquei traumatizada”, afirma.

Pauliana foi abordada por dois homens em uma e teve o celular roubado. “Era um domingo, final de tarde, e eu ainda estava indo trabalhar. Um deles desceu e veio para pegar meu celular, mas eu reagi. Depois que foi cair minha ficha que eu poderia ter levado um tiro”, lembra.

Após o susto, Pauliana correu para o interior do condomínio e lembra que um motorista, que estava estacionado próximo, saiu do carro para ajudá-la. “Acho que por isso eles não fizeram nada, o senhor saiu do carro e eles foram embora”.

Segundo o síndico do condomínio Castelo de Luxemburgo, que fica próximo à UFMS, foram feitas solicitações informais de moradores para que câmeras de segurança fossem instaladas em frente ao ponto de ônibus. “O projeto é de vontade minha sim, mas precisa ser aprovada em assembleia, em julho, porque apesar do custo não ser tão alto, não está na previsão orçamentária, é uma taxa extraordinária e necessita passar por essa aprovação”, explica Helder Lacerda.

Conforme explicado pelo síndico, também é de vontade dele e dos moradores que o ‘businho' tenha uma parada dentro do condomínio, para aumentar a segurança dos alunos que utilizam o transporte. “Dentro do condomínio é mais simples, conseguimos administrar”.

Já conforme explicado por Alex Arce, síndico do condomínio Castelo de San Marino, também localizado na Avenida Senador Antônio Mendes Canalle, até o momento nenhum morador procurou a administração para relatar casos de furtos ou roubos. “O ponto fica em frente ao condomínio, eles [os acadêmicos] já descem e entram, tem a guarita na frente. O pessoal reclama da escuridão na Rua Portuguesa, na subida lateral da UFMS onde já aconteceram vários assaltos”, afirma.

2022 já supera ocorrências de 2021

Segundo dados da Sejusp-MS (Secretaria Estadual de Justiça e de Mato Grosso do Sul), foram registradas 8.012 ocorrências de furtos na cidade de Campo Grande, somente em 2022. Desses, 1.531 são jovens e 83 adolescentes.

Nos primeiros cinco meses do ano, o mês com maior incidência de casos até agora foi o de abril, com 1.675 ocorrências, seguido de março, com 1.580. Em junho, até esta segunda-feira (6) já foram registrados 146 furtos na Capital. Durante todo o ano passado, foram registrados 14.956 furtos. Todos os meses de 2022 já superam os registros do meses correspondentes de 2021.

Número de furtos de 2022 ultrapassa 2021, mês a mês, de janeiro à junho. (Foto: Reprodução/ Estatísticas Sejusp)

A reportagem entrou em contato com a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e com o síndico dos condomínios Parque Castelo de Gibraltar e Castelo de Mônaco, mas até a publicação não obteve resposta. O espaço segue aberto para posicionamentos.