‘Queremos que seja feita Justiça’, diz filho de pescador morto em acidente causado por assessor de Reinaldo

Filho de Carlos Américo Duarte, vítima fatal de acidente ocorrido no sábado (1º) no Rio Miranda, o estudante Cae Duarte, de 32 anos confirmou que Nivaldo Thiago Filho de Souza seguia em alta velocidade no momento da colisão e que teria se livrado de garrafas de bebida dentro da embarcação. A informação também consta no boletim de ocorrência registrado por ele na Delegacia de Miranda, na tarde do acidente.
Ao Jornal Midiamax, Cae relatou que o acidente ocorreu pouco após o meio-dia, cerca de 15 minutos após ele, o pai e o piloteiro, Rosivaldo Lima, saírem para pescar. “Começamos a subir o rio e estávamos muito felizes, aproveitando o momento. Depois de uns 15 minutos, tirei uma selfie com meu pai. Foi quando uma lancha em alta velocidade nos atingiu”, relatou.
Cae conta que, durante o impacto, o pai e o piloteiro foram atingidos pela outra embarcação enquanto ele perdeu a consciência. “Quando voltei à realidade, me deparei com o autor do crime tentando funcionar o barco para fugir e jogando todas suas bebidas alcoólicas no rio”, conta. “Nesse momento, me levantei e me deparei com meu pai caído, já sem vida”, acrescenta.
Fuga
Após a tragédia, e percebendo que o barco iria afundar, eles trocaram de embarcação. Enquanto outros pescadores seguiram atrás do autor, que havia fugido (confira o vídeo abaixo), Cae, Rosivaldo e o corpo de Carlos seguiam para a margem do rio, na altura da pousada.
“Ficamos esperando a PMA (Polícia Militar Ambiental) chegar, liberar tudo. Mandaram a gente de volta para onde tínhamos deixado os carros e a polícia orientou passar na PRF (Polícia Rodoviária Federal). Quando parei lá, o criminoso já estava no local, tinham pego ele. Estava tudo numa boa, ele mexendo no celular. Mas, eu não o reconheci naquela hora, estava de cabeça baixa. Só fui reconhecer na delegacia, quando ele chegou escoltado pela PRF”, diz.
Após ter depoimento coletado, Cae e o piloteiro foram para o hospital, em Miranda, onde passaram por atendimento. Ambos tiveram alta no mesmo dia. Rosivaldo saiu por volta das 23h do sábado e está em casa, com bastante dor e sob efeito de analgésicos, mas sem risco de morte.
“Machuquei meu braço, minha perna, meu pé. O piloteiro teve alguns cortes e se machucou, também. Meu pai perdeu a vida. Quando estávamos no hospital, a Marinha chegou e me entrevistou, fez algumas perguntas, mas a gente perdeu a fé, porque já sabíamos que ele [Nivaldo] tinha se recusado a fazer o bafômetro, mas assumido que bebeu. E mesmo assim foi solto. Queremos que seja feita Justiça e que ele pague por tudo”.
Ocorrência
Conforme o boletim de ocorrência, ao qual o Jornal Midiamax teve acesso, Nivaldo Thiago Filho de Sousa foi abordado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) no posto Guaicurus, na BR-262. Os policiais teriam tentado obter exame de alcoolemia, mas este foi recusado por Nivaldo. No entanto, o suspeito confirmou que havia bebido cerveja pela manhã, cerca de 4 garrafas de 205ml. Segundo o registro, ele não apresentava traços de embriaguez.
O boletim também traz que não houve perícia no local por não se saber exatamento onde o acidente ocorreu e porque as embarcações não foram recolhidas. O boletim traz, no entanto, que a PMA teria recolhido a embarcação de Nivaldo enquanto a das vítimas estaria na Pousada Beira Rio, onde estavam hospedados.
Naquela ocasião, ainda segundo o boletim de ocorrência, a Marinha compareceu à delegacia para solicitar cópia da ocorrência e afirmou que iniciaria a perícia na manhã desta segunda. A informação foi confirmada ao Jornal Midiamax por meio de nota. O boletim aponta, ainda, que Nivaldo não era habilitado para conduzir a embarcação.
Temor por impunidade
Pescadores que testemunharam o acidente que matou Carlos Américo Duarte temem pela impunidade na responsabilização do autor, Nivaldo Thiago Filho de Sousa. Isso porque, conforme relatos, Nivaldo teria envolvimento com diversas autoridades, que o pretegeriam das imputações. Ele é genro de parlamentar de MS e nomeado a cargo comissionado na Casa Civil de MS.
Depoimento de um pescador que presenciou o acidente narra que o autor estava na contramão do rio e em alta velocidade no momento da colisão. Conforme o relato, Nivaldo estava conduzindo a lancha – para a qual não seria habilitado – ao lado da esposa, também embarcada. O veículo teria motor com potência de 115 cavalos, o que não seria permitido para o Rio Miranda.
“Ele veio na contramão e bateu de frente com a lancha (…). Ele jogou toda a bebida no Rio e fugiu (…). Levou um amigo nosso e o piloteiro está em estado grave. Quando ele viu que matou nosso amigo lá, ele jogou toda a bebida no rio e fugiu”, traz o depoimento de integrante de grupo de pescadores que não será identificado por temer represálias de grupo político.
O relato também descreve que os pescadores esbarraram em dificuldade para identificar Nivaldo, que contaria com acobertamento de autoridades da região, sem especificar quais. A partir desta situação, surgiu o temor da impunidade. Nivaldo também teria “ficha longa” de problemas recorrentes na região, sem a devida responsabilização. Nesse contexto, depoimento comemora a entrada da Marinha nas investigações do caso.
“Conseguiram pegar ele. Ele fugiu dos outros piloteiros, chegou escoltado pela Polícia [Rodoviária] Federal. A gente tem que divulgar o máximo, porque poderia ser um de nós”, conclui o relato, que pode ser conferido na íntegra abaixo: