Pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no início do mês de maio apontou que Mato Grosso do Sul é o quarto maior Estado com percentual de pessoas que já sofreram violência psicológica, física ou sexual no país. Quase 400 mil pessoas com 18 anos ou mais, ou seja, 20,6% da população, a maioria mulheres, jovens e negros.

O relatório – que pode ser conferido clicando aqui – apontou que 59,1% das pessoas entrevistadas pela PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) em 2019 foi ofendida, humilhada ou ridicularizada nos 12 meses anteriores à entrevista. Dessas, 61,3% eram mulheres e 56,2% homens. O segundo tipo de violência psicológica mais citado foi ter gritado ou xingado com os entrevistados, correspondendo a 76,4% das vítimas (72,8% homens e 79,2% mulheres). Quanto às violências contra mulheres, o relatório também chegou à conclusão de que a maioria – 24,5% – eram cônjuge, companheiro ou namorado, e exs.

A médica psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina (Famed) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Danusa Céspedes Guizzo, o elevado índice de violência psicológica em mulheres e negros em Mato Grosso do Sul pode ser justificado pelo machismo, discriminação racial e até a fronteira entre Brasil e Paraguai. “A pesquisa deixa evidente que o machismo e a discriminação de raça ainda imperam em nosso Estado. Não podemos esquecer de que estamos situados em uma região de fronteira, onde o tráfico de drogas e a atuação de organizações criminosas também pode contribuir”, explica.

A pesquisadora ainda afirma que, apesar da conquista de mulheres ao longo do século passado, em direitos profissionais e civis, os dados que apontam maioria das violências psicológicas em jovens de 18 a 29 anos indica que elas podem ser perpetuadas por outras fases da vida adulta. “Vemos em muitos casos uma escalada da violência. Principalmente em relacionamentos abusivos, a violência frequentemente se inicia em termos psicológicos, evoluindo para agressões físicas, sexuais e até patrimoniais”, relata.

Desde o início da pandemia de Covid-19 no Brasil, a psiquiatra afirma que a disseminação do vírus, e consequente internação de familiares próximos, interferiu na piora da saúde mental da população, aumentando inclusive os casos de violência doméstica, devido ao isolamento social.

Onde procurar ajuda

O ambulatório de ginecologia e obstetrícia da UFMS oferece atendimento às vítimas de violência sexual em Campo Grande. A professora explica que é feito um acompanhamento multiprofissional. “Temos médico obstetra, psicólogo, assistente social e, se necessário, psiquiatra. É, inclusive, um dos poucos serviços do país que oferece a possibilidade de um abortamento legal nos casos previstos pela lei”, esclarece.

A médica ainda afirma que, pelo problema de a violência psicológica ter em suas raízes questões culturais e sociológicas, é preciso que muitas das vítimas – e dos agressores – façam tratamento para doenças mentais. “É um problema complexo. O que observo bastante em minha prática é que a violência surge em decorrência da falta ou inadequação de tratamentos para doenças como alcoolismo, dependências químicas, esquizofrenia e outros”, afirma Guizzo.

[Colocar ALT]
(Foto: Henrique Arakaki/ Arquivo Midiamax)

Além do atendimento médico, a Casa da Mulher Brasileira, funciona 24 horas, todos os dias da semana – inclusive aos sábados, domingos e feriados – e também conta com acompanhamento psicológico. No mesmo prédio, situado na Rua Brasília, Jardim Imá, funciona a Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), onde é possível requerer medidas protetivas e registrar boletim de ocorrência.

A professora ainda relembra que existe o Disque 100, serviço oferecido pelo Governo Federal como um canal de atendimento a graves situações de violência que podem ter ocorrido naquele momento ou ainda estão em cursos. Os atendentes acionam os órgãos competentes, possibilitando o flagrante do agressor.