Gerente admite que expulsa desempregado que pede comida em mercado de Campo Grande

Pedinte afirma que registrará boletim de ocorrência por ameaça e injúria racial

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Homem usa placa feita com pedaço de papelão e escrita à caneta para pedir ajuda
Homem usa placa feita com pedaço de papelão e escrita à caneta para pedir ajuda

Homem de 30 anos em situação de rua alega ter sofrido ameaça e injúria racial por pedir ajuda no estacionamento de um supermercado em Campo Grande. Para sensibilizar os clientes e conseguir comida, ele usa uma placa com um pedaço de papelão com o apelo “pode me ajudar?” escrito à caneta. 

Na manhã desta quinta-feira (25), enquanto o rapaz estava do lado de fora do estabelecimento, localizado na Rua Pernambuco, o proprietário do local teria lhe mandado embora, dizendo que estava atrapalhando. “Me humilhou e disse que não era pra eu ficar lá e nem pedir esmola”, conta o morador ao Jornal Midiamax.

O rapaz diz ainda que um funcionário — que não conseguiu identificar o cargo ou função — perguntou se ele estava com fome. “Por que ia me dar uma banana porque sou negro”, afirma. “Eu estava na calçada, na rua, do lado de fora. Nunca pedi dentro do mercado”, alega o homem.

Desempregado

Ele disse ao Jornal Midiamax que é divorciado, tem uma filha de 6 anos e veio de Cuiabá para Campo Grande há 3 meses. Trabalhava como pedreiro na capital de Mato Grosso, mas foi demitido e não conseguiu mais arrumar emprego no outro Estado. Foi aí que decidiu vir para MS tentar a vida, mas também não arranjou um trabalho por aqui e decidiu pedir esmola. 

“Eu não tenho nem desodorante pra passar”, lamentou à reportagem. No episódio da manhã desta quinta (25), o proprietário teria ido até o estacionamento do supermercado acompanhar uma senhora que havia acabado de fazer suas compras até seu veículo, e, segundo o pedinte, o dono disse que não era para ele ficar ali pedindo. Em seguida, a senhora foi embora e os funcionários chamaram a polícia.

O rapaz em situação precária diz que os policiais mandaram ele sair dali e disseram que iriam deixá-lo na saída para São Paulo, do outro lado de Campo Grande. O filho do proprietário, que também estava no local, avisou o homem que não era para ficar pedindo esmola na rua. Ele ainda disse que o dono do mercado teria ‘colocado medo’ em uma senhora que iria dar moedas para ele. 

Versão do mercado

A reportagem do Jornal Midiamax conversou com o gerente do estabelecimento, já que o proprietário e seu filho não estavam mais no supermercado no momento. O gerente disse que os clientes relatam “abordagens invasivas” e já tiveram que chamar a polícia diversas vezes em razão de outras pessoas que estavam pedindo ajuda por ali. Ele nega ter chamado a polícia para este pedinte.

Em relação à banana, afirmou ao Midiamax que não acredita que isso tenha acontecido porque a situação configuraria preconceito e a empresa emprega funcionários indígenas e negros. O gerente confirmou que o rapaz em questão nunca entrou para pedir nada, fazendo seus apelos apenas na calçada, e relatou que, quando tem problemas com pedintes, aciona o 190 para não ter contato direto com a pessoa.

O gerente alega que já levou várias coisas para o homem que veio de Cuiabá, mas parou de incentivar os clientes a levarem os produtos. Disse também que tenta conversar quando aparece alguém em situação de rua. Segundo ele, o rapaz já chegou algumas vezes alterado pelo consumo de bebida alcoólica e, na semana retrasada, foi levado para a delegacia, mas dias depois já retornou pedindo ajuda novamente.

O pedinte desempregado afirmou que registrará boletim de ocorrência na delegacia por ameaça e injúria racial.

Pedir comida não é crime

A contravenção de mendicância foi revogada há 12 anos, em 2009, pela lei 11.983/09. Desde então, o ato de mendigar deixou de ser um ilícito penal, não sendo mais permitida sua punição.

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