‘Era para ser lazer e se tornou uma tragédia’: amigo de Carlão que organizou pescaria fala sobre acidente
Grupo se reúne anualmente para pescar no mesmo lugar
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Dois dias após o acidente que vitimou Carlos Américo Duarte, de 59 anos, o ‘Carlão’, o amigo Elias Martins que organiza a pescaria anualmente relatou a tristeza dos últimos momentos com o colega. Carlão morreu após ser atingido pela lancha pilotada por Nivaldo Thiago Filho de Souza, assessor do Governo do Estado e genro da deputada estadual Mara Caseiro (PSDB).
Elias contou ao Midiamax que anualmente organiza a pescaria na região conhecida como Touro Morto, em Miranda. Ele contou que a pescaria começaria na tarde daquele sábado (1º). “Carlão era um amigo da gente, foi convidado para participar da pescaria. Brincamos antes de entrar no hotel e a diária iria começar no sábado, ele nem pode desfrutar”, lamentou.
Ainda segundo Elias, Carlão foi para a pescaria com o filho, Cae, antes dos amigos que foram almoçar. “Chamei ele para almoçar, mas ele disse, ‘Não, vou pescar já’”, relatou. Mesmo com o filho e os amigos insistindo para que ele almoçasse antes, Carlão queria aproveitar a pescaria. Assim, ele foi com o filho e o piloteiro para o rio.
Conforme explicou Elias, cada dupla na pescaria contava com um piloteiro, justamente para evitar qualquer tipo de acidente, mesmo com aqueles que sabem e têm permissão para pilotar. Depois do almoço, Elias e mais um amigo foram em direção ao barco com o piloteiro para começarem a pescaria, quando viram Nivaldo passando com a lancha.
“Ele passou devagar com a mulher e as crianças. Depois que saí com meu barco vi ele passando de novo muito rápido”, contou. “Ainda comentamos ‘Pra que passar num canal desse tão rápido’”, disse Elias, que até então não sabia do acidente. “Ele estava fugindo e a gente nem imaginava”.
Quando subia o rio, os outros amigos que já estavam nas águas começaram a falar do acidente. “Quando chegamos lá na frente vimos os barcos. O Cae gritava ‘O cara matou meu pai’”, lembra. “Acabou com a alegria de todo mundo. O que era para ser um lazer se tornou uma tragédia”, lamentou Elias.
Passou despercebido
Sem relatar sobre o acidente a nenhum outro pescador, Nivaldo teria passado com a lancha descartando cervejas que estavam dentro da embarcação no rio. “Pessoas viram ele jogando a cerveja fora. Ainda não sabiam do acidente e diziam ‘Olha que cara porco jogando a cerveja no rio’. O que não sabíamos era que ele estava se desfazendo das provas”, afirmou Elias.
Depois, o grupo soube que a lancha estava escondida e que um oficial foi apreender a embarcação. “Ela deveria ter sido deixada no local, para que fosse feita a perícia”, lembrou o amigo de Carlão. Para ele, é difícil acreditar que não houve proteção para Nivaldo. Ele conta que não viu os filhos chorando quando ele passou correndo com a lancha, mas que ao ser detido pela polícia na camionete, alegou que estava socorrendo o filho após o acidente, e não fugindo.
De acordo com Elias, não é fato isolado. Apesar do grupo de pescadores nunca ter sofrido qualquer outro tipo de acidente em todos os anos de pesca, as irresponsabilidades de outros são comuns. “Sempre tem pessoas com lanchas grandes que passam sem reduzir a velocidade, balançando as outras embarcações e colocando em risco”, contou. Até mesmo os ribeirinhos reclamam de tal irresponsabilidade na região.
Para Elias, Nivaldo assumiu o risco de matar alguém. Apesar de alegar que tinha conhecimento, ele não tinha o Arrais, a documentação exigida para pilotar embarcação. “Eu tenho Arrais, mas não piloto quando vou beber ou quando vou em águas perigosas”, contou. “Ele não pode dar R$ 150 para um piloteiro?”, questionou Elias.
O pescador lembra que Nivaldo estava com a família, colocando em risco não só as outras pessoas como a própria esposa e filhos. Segundo ele, o que foi dito no local do acidente é que Carlão e o filho estavam na embarcação, em uma curva, quando Nivaldo surgiu com a lancha em alta velocidade, não conseguindo reduzir. Como não conseguiu fazer a curva desviando, a lancha acabou subindo em cima da outra embarcação.
A princípio, a lancha bateu no meio, onde estava Carlão, que foi atingido pela lancha e morreu na hora. A ponta da lancha ainda passou por cima do piloteiro, que só não ficou mais grave porque o motor do barco teria impedido que a lancha o esmagasse. “O piloteiro ainda falou para ele não fugir, mas ele foi embora sem falar nada”, relatou Elias.
O caso é investigado pela Polícia Civil e também pela Marinha. Nivaldo pode responder por homicídio culposo ou homicídio como dolo eventual se entendido que assumiu o risco de matar a vítima. Ele também responderá pelas lesões causadas ao filho de Carlão e ao piloteiro do barco.
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