Com penas somadas em 70 anos, delegados condenados por homicídio e estupro em MS são transferidos
Eles chegaram a ficar 4 meses na carceragem da 3ª DP até ocuparem cela especial no Centro de Triagem
Arquivo –
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Condenados por homicídio, estupro e furto de cocaína, com penas que chegam a 70 anos de prisão, os delegados da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Eder Oliveira Moraes e Fernando Araújo da Cruz Júnior, foram transferidos para o Centro de Triagem Anísio Lima. Eles ocupavam cela na 3ª Delegacia de Polícia e cumprirão o resto da pena em cela especial.
A transferência ocorreu apenas quatro meses após a condenação de Fernando Araújo, ex-titular da Deaji (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância, Juventude e Idoso) de Corumbá, cidade a 425 quilômetros, a 20 anos e 10 meses de prisão, na última quarta-feira (29). Ele é acusado de matar o boliviano Alfredo Ranger Weber dentro de uma ambulância, em fevereiro de 2019.
Já por estupro de vulnerável, Eder Oliveira cumprirá 37 anos de prisão em regime fechado, além de outros 14 anos e 7 meses de pena pelo ‘sumiço’ de 101 quilos de cocaína da delegacia em que atuou, em Aquidauana, a 141 quilômetros da Capital, em junho de 2019.
Além disso, foi determinada pela Justiça a perda do cargo de delegado, considerando que “Eder estava envolvido com grupo criminoso e utilizou de sua posição para facilitar o furto da droga”. Em março deste ano, ele foi demitido da Polícia Civil.
Boliviano morto em ambulância
O boliviano Alfredo foi esfaqueado em uma festa e depois socorrido, sendo levado de ambulância para Corumbá. Então, o delegado interceptou a ambulância e o matou a tiros antes de chegar ao hospital. Mas Fernando, achando que não havia testemunhas do crime, foi pego de surpresa quando foi informado pelo investigador da Polícia Civil, Emmanuel Contis, de que a irmã da vítima estava na ambulância e viu o assassinato.
Em meio a toda a trama do homicídio, testemunhas foram coagidas — uma delas o motorista da ambulância, que teve como advogada a mulher de Fernando, Silvia. No entanto, o que o casal não esperava era que policiais bolivianos e até um promotor usassem de chantagem para extorquir os dois, com pedido de R$ 100 mil para que não implicassem o delegado ao assassinato.
Na tentativa de encobrir os rastros do crime até execuções dos policiais e delegados que estavam investigando o caso foi arquitetada por Fernando e Emmanuel, que informava ao delegado todos os passos das investigações.
Tráfico x Minotauro
O delegado ainda estaria ligado ao tráfico de drogas, já que ele e a mulher estariam em contato com Fernando Limpias, que já havia trabalhado para Adair José Belo conhecido como ‘Belo’ e para Sérgio de Arruda Quintiliano, o Minotauro, que foi preso em Santa Catarina, no dia 4 de abril.
Fernando Limpias estaria comprando fazendas, com pista de pouso, na Bolívia para o transporte de drogas e estava à procura de ‘parcerias’. Silvia, então, teria oferecido a ‘parceira’ através da logística de reabastecimento dos aviões. Nas conversas com o traficante, é perceptível o domínio do assunto tanto pelo delegado como por sua mulher. A defesa do delegado negou as acusações sobre envolvimento com o tráfico de drogas.
Assim, Fernando e Emmanuel foram presos em 29 de março, em ação da DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) e Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros).
Sumiço de cocaína
O delegado da Polícia Civil, Eder de Oliveira, é o personagem central da história descoberta no dia 10 de junho de 2019, quando se percebeu que os 100 quilos de cocaína ‘sumiram’ misteriosamente da delegacia. Em uma delação premiada feita à Corregedoria da Polícia Civil, os comparsas do delegado, a advogada Mary Stella e seu marido, Ronaldo Alves de Oliveira, revelaram detalhes de como foi organizado todo o processo para a retirada da droga da delegacia.
No documento a que o Jornal Midiamax teve acesso, Mary Stella revela que o delegado Eder a chamou, logo após a apreensão da droga que foi depositada no prédio da delegacia. Eder pediu para que ela checasse com seu marido Ronaldo o valor do quilo da cocaína no mercado, já que o homem conheceria compradores. Ainda segundo o depoimento, Eder teria combinado com o casal o valor de R$ 100 mil para que o plano fosse colocado em prática. A cocaína apreendida estava sendo negociada com terceiros e a suspeita é que a droga pertencia ao grupo criminoso que ‘perdeu’ o carregamento durante a batida da PRF.
Decidido a colocar o plano em prática, o delegado Eder apresentou para Mary Stella detalhes do prédio da delegacia e registros fotográficos de pontos ‘frágeis’ do local foram feitos por ela. Eram locais onde câmeras de segurança não filmavam, os conhecidos ‘pontos cegos’. As fotos foram enviadas pela advogada para o celular do marido.
Conversas de WhatsApp, do dia 11 de junho de 2019, mostram transferências bancárias feitas para a conta de Mary Stella. O dinheiro era depositado na conta da advogada para que não ficasse registrada a entrada de valores na conta do delegado Eder, que por sua vez recebia o dinheiro até em sacolas de perfumes entregues pela advogada a ele.
Execução do plano e substituição por cal
Com o mapeamento da delegacia pronto, era a hora de escolher os dias para a subtração da droga. A decisão foi retirar o carregamento do prédio em duas etapas. Os dias escolhidos para o ato criminoso foram aqueles em que estaria de plantão um policial conhecido por ‘ter medo’ de averiguar barulhos que escutava no pátio da delegacia.
Com tudo arquitetado, o delegado Eder pediu para que Ronaldo e Mary Stella contratassem alguém para poder executar o furto e entrar na delegacia pelos fundos para invadir o depósito. O próprio delegado, conforme a delação premiada, foi quem quebrou a alavanca de uma das janelas da delegacia, o que facilitaria a retirada da cocaína que estava em sacos transparentes armazenados em prateleiras. Uma escada foi usada para que os comparsas contratados pudessem pular o muro de 2,5 metros e entrar no local.
Mas, o plano que parecia ser perfeito, acabou caindo por terra por um erro. Tudo começou quando um carro Toyota Corolla que levaria a droga da delegacia acabou passando em frente ao prédio. No local, havia câmeras de segurança que flagraram o veículo.
Para o primeiro dia de retirada da cocaína da delegacia, foram contratados dois presos do semiaberto. Eles receberam cada um R$ 10 mil pelo trabalho, e um deles acabou comprando uma motocicleta no valor de R$ 8 mil. Mas, como foram penalizados no semiaberto por não se apresentarem no horário marcado, a situação poderia levantar suspeitas e eles acabaram ficando de fora do segundo dia de retirada da droga, que aconteceu na madrugada de domingo para segunda, em 10 de junho, dia em que se descobriu o furto da droga.
Na segunda retirada da cocaína, foram cerca de 30 minutos entre a invasão no prédio, o furto da cocaína e a saída, sendo que o embarque da droga no Corolla demorou cerca de 40 segundos. A cocaína seria substituída por pacotes de cal e a ideia era que ninguém percebesse a troca, já que a incineração da droga estava marcada para dali algum tempo.
Pagamentos
O delegado Eder de Oliveira teria recebido em ocasiões diversas, na rua e até dentro da própria delegacia, valores da advogada Mary Stella referentes aos pagamentos pelo furto da cocaína. Ao todo, segundo a delação, foram três repasses de R$ 5 mil, depois R$ 15 mil e mais R$ 20 mil. O dinheiro era depositado na conta da advogada para que não deixasse rastros na conta do delegado.
Marido de Mary Stella, Ronaldo disse em delação premiada que do valor acordado para o furto, recebeu apenas R$ 80 mil, já que com a descoberta precoce do sumiço da cocaína não houve tempo de receber o restante.
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