Padre que atendeu feminicida antes de morte na igreja pede para fiéis ‘se abrirem’

O frei Silvio José dos Santos, pároco da igreja São José Operário, disse ao Jornal Midiamax que antes de Rosemir Fernandes de 52 anos se matar, ele teria pedido para que fosse perdoado pelos crimes que havia cometido, na noite de domingo (12), em Dourados a 225 quilômetros de Campo Grande quando matou a ex-mulher Lucineide Maria […]

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O frei Silvio José dos Santos, pároco da igreja São José Operário, disse ao Jornal Midiamax que antes de Rosemir Fernandes de 52 anos se matar, ele teria pedido para que fosse perdoado pelos crimes que havia cometido, na noite de domingo (12), em Dourados a 225 quilômetros de Campo Grande quando matou a ex-mulher Lucineide Maria dos Santos Ortega e feriu outras pessoas a tiros.

O pároco franciscano contou que estava distribuindo a hóstia aos fiéis no sistema drive thru, quando Rosemir chegou em sua motocicleta, desceu e teria falado para o padre, “me perdoa, fiz uma bobagem”. Em seguida, o homem entrou na igreja e dentro ficava gritando que havia matado oito pessoas, entre elas o filho dele.

Frei Silvio conta que tentou convencer a desistir do ato suicida, mas não teve tempo suficiente. Em seguida ele se sentou sobre a escada do presbitério,   que é o espaço onde fica o altar.  “Moço, por favor não faça não faça isso. Eu vou entrar e vou conversar contigo”, disse o frei.

Nisso, Rosemir se armou e atirou na própria cabeça na escadaria do altar e caiu para trás. “Parecia que ele estava com um peso muito grande sobre si. Esse senhor tinha muito culpa e eu não consegui evitar essa tragédia.

Segundo ele, o susto foi muito grande e o que fica é uma imagem muito triste e lamentável ver as pessoas chegarem a esse ponto de desequilíbrio emocional. “Precisamos trabalhar o lado espiritual e procurar ajuda de um profissional para conversarmos e nos abrir para que possamos lidar com as frustrações e decepções”, disse o frei, aconselhando a pessoas a não ficarem presas em suas próprias limitações.

Sob o entendimento da fé, esse tipo de situação vivenciada no último domingo, diante da pandemia que assola o mundo, representa uma espécie de síntese existencial. “As pessoas se encontram num momento de cada um fazer uma síntese de sua vida e perceber uma história muitas vezes com bastante fracasso”, que segundo ele, é o que pode ter acontecido com Rosemir, que não conseguir aceitar a separação com a esposa.

“Muitas vezes as pessoas não conseguem perceber que a vida não e simplesmente possuir alguma coisa. E assim elas ficam vulneráveis em qualquer situação e ficam fechadas em si mesmo, sem conseguir lidas com essas fragilidades que são próprias do ser humano”, pondera o pároco.

O caso

Rosemir Fernandes de Souza assassinou a ex-mulher a tiros, baleou duas crianças, uma de três anos e outra de nove e ainda atirou no ex-cunhado, em uma amiga da família depois se matou sobre o altar de uma igreja em Dourados no início da noite de domingo (12). A motivação seria o fato dele não aceitar o fim do relacionamento amoroso que manteve com a vítima, como Lucineide Maria dos Santos Ortega.

O homem teria ido até a rua Rangel Torres, Jardim Santa Brígida, onde após ter matado a ex-mulher ele atirou em duas crianças, sendo duas meninas. Uma delas, a de três anos, deu entrada no hospital com um ferimento na cabeça e está em estado grave. Ele também atirou nas costas de uma amiga da ex-esposa e no ex-cunhado. Rosemir pegou uma moto Honda CB-300 cilindradas, de cor preta e se dirigiu até a casa de um advogado, na região do Jardim Independência que, segundo informações, teria trabalhado na causa do seu primeiro divórcio.

No local o advogado estava conversando com um amigo. Ele apontou a arma e disparou sobre os dois, que se jogaram no chão e não foram atingidos. Em seguida, ele foi até a vila Cachoeirinha. Parou na frente de uma casa, chamou por uma mulher que supostamente estaria devendo dinheiro para ele e efetuou alguns disparos. Ela foi atingida nas costas de raspão e foi socorrida por vizinhos. As vítimas atingidas por Rosemir foram socorridas pela equipe Alfa do SAMU e também pelo Corpo de Bombeiros e foram levadas até o Hospital da Vida.

Depois ele foi até a Igreja São José Operário, localizada na Avenida Marcelino Pires, entre as ruas Floriano Peixoto, com Joaquim Teixeira Alves, área central de Dourados. Rosemir parou a moto em frente à igreja, caminhou em direção a alguns fiéis que estavam recebendo a hóstia e logo em seguida entrou na igreja. O pároco observou que Rosemir sentou no altar, pegou o telefone e ligou para uma pessoa.

Segundo relatos de testemunhas, ele pegou o telefone, gravou um áudio para a irmã relatando o que tinha acontecido e que a intenção não acertar as crianças e em seguida e atirou sobre a própria cabeça. No altar da Igreja a polícia apreendeu um revólver calibre 38, com várias cápsulas deflagradas e ainda várias munições intactas, que estavam dentro dos bolsos da calça dele. A reportagem apurou que há quatro meses atrás, um amigo do Rosemir gravou um vídeo falando que ele mataria cinco pessoas. Nas imagens, que já estão com a polícia ele chega a fazer gestos com mão e diz também, que após cometer os crimes se mataria.

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