Motivado por guerra de facções, estratégia do PCC é dividir Estado em regiões, diz MP-SP
Conversas telefônicas interceptadas pelo MPE-SP (Ministério Público Estadual de São Paulo) em julho deste ano revelam traços significativos da organização da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em Mato Grosso do Sul. De acordo com as investigações, que culminaram na operação Echelon, do Gaeco-SP (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o […]
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Conversas telefônicas interceptadas pelo MPE-SP (Ministério Público Estadual de São Paulo) em julho deste ano revelam traços significativos da organização da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em Mato Grosso do Sul.
De acordo com as investigações, que culminaram na operação Echelon, do Gaeco-SP (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o Estado é alvo de disputa entre facções devido sua proximidade com a fronteira e por ser a principal rota de entrada de armas e entorpecentes do país. Na prática, relaciona-se o controle sobre o Estado com o fortalecimento da facção nas demais regiões do país.
Nas conversas interceptadas e que constam no relatório, membros e líderes do PCC discutem exaustivamente as estratégias de condução e de administração das diversas regiões de Mato Grosso do Sul. A transcrição das escutas também revelam detalhes do funcionamento do “Tribunal do Crime” – uma espécie de acerto de contas entre membros de diferentes facções ou de desertores.
Os registro detalham que o PCC divide a atuação em MS a partir da criação de quatro regiões, além da Capital. Cada uma delas teria características específicas, que requereriam estratégias diferenciadas. A região Norte, segundo as escutas, é composta pelos municípios de Sonora, Rio verde, São Gabriel do Oeste, Bandeirantes, Camapuã, Corguinho, Rio Negro, Rochedo, Cassilândia, Aparecida do Taboado, Inocência, Paranaiba, Chapadão do Sul, Costa Rica, Alcinópolis e Ribeirão.
Já a região sul – a mais tensa na disputa entre as facções – seria composta por Maracaju, Caarapó, Fátima do Sul, Rio Brilhante, Ivinhema, Jardim, Itaporã, Dourados, Glória de Dourados, Douradina, Deodápolis, Angélica, Ponta Porã, Tacurú, Novo Horizonte do Sul, Coronel Sampucai, Iguatemi, Mundo Novo, Amambai, Aral Moreira e Bela Vista.
O Bolsão é distinguida como Região Leste, composta por Água Clara, Santa Rita do Pardo, Ribas do Rio Pardo, Três Lagoas, Selvíria, Anaurilândia, Brasilândia, Nova Alvorada, Bataiporã, Nova Andradina, Bataguassu e Naviraí. A região do Pantanal, composta por Ladário, Corumbá, Coimbra, Miranda, Aquidauna, Anastácio, Bodoquena, Sidrolândia, Bonito, Nioaque, Caracol e Porto Murtinho, é considerada a Região Oeste.
Nas principais cidades de cada região, as escutas descrevem o funcionamento de estretégias chamadas de “Tabuleiros”, uma alusão ao tabuleiro de xadrez, nas quais a facção planejava alguma ação, seja uma emboscada para matar algum agente ou autoridade, seja a captura de algum rival. Ações como essas são descritas na região de Dourados, Rio Brilhante e Coxim.
A guerra entre as rivais PCC e o CV (Comando Vermelho) ocorrem pela disputa territorial e consequente controle de regiões estratégicas do Estado, considerado a principal rota de entrada de drogas e armas, além de controle da massa carcerária. A partir desta disputa, ocorre o que consta nos relatórios como “Tribunal do Crime”.
O método utilizado pelo PCC é descrito com exatidão, procedimento chamado de “julgamento”. Antes de serem mortos, os inimigos eram torturados, a fim de que informações das rivais fossem fornecidas. Na sequência, a sentença de morte era proferida por líderes da facção, os “juízes” que acompanhavam a morte em tempo real, mesmo que estivessem em presídios.
Após os assassinatos, que sempre ocorriam de forma violenta, fotos e filmagens das execuções eram frequentemente disseminadas em comunicadores como o WhatsApp. Áudio de uma ligação interceptada em 28 de setembro de 2017 é relacionada a uma morte pelo “Tribunal do Crime” em Mato Grosso do Sul.
INTERLOCUTOR 1: Ó nóis tá com um cara ali falando que é “CV” e que matou dois “PCC”.
INTERLOCUTOR 2: Mano faz um vídeo e ranca a cabeça dele fora, eu quero que ranca a cabeça dele fora.
INTERLOCUTOR 1: Mas já pode matar então?
INTERLOCUTOR 2: Já pode cortar ranca a cabeça dele, é “CV” confirmado certo”?
INTERLOCUTOR 1: É ele já falou aí é pra mandar o vídeo aí procê agora.
INTERLOCUTOR 2: Manda o vídeo aqui, ranca a cabeça dele agora, ranca a cabeça fora.
INTERLOCUTOR 1: Tá bão peraí.
Poucos dias depois, ocorreu de forma semelhante a morte de Rudnei da Silva Rocha, 22 anos, conhecido como Babidi. O jovem, que seria integrante do CV, foi encontrado morto em 7 de outubro de 2017. O corpo foi localizado numa estrada vicinal do Bairro Indubrasil, enrolado em um colchão, com marcas de tortura e decapitado. A cabeça da vítima estava ao lado do corpo.
De acordo com as investigações policiais, na época, o crime teria ocorrido numa residência no bairro Santa Emília. A vítima foi levada até a residência, onde foi torturado e passou pelo julgamento. Ao ser ‘condenado’, o jovem foi levado até o banheiro, amarrado e deitado no chão, onde foi morto e decapitado.
Operação Echelon em Campo Grande
Deflagrada em 14 de junho deste ano, o braço da operação na Capital contou com apoio operacional de policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros). Ao todo, seis mandados de prisão foram expedidos na Capital, dos quais três eram alvos que já estavam detidos nos presídios de Segurança Máxima, Semiaberto e Federal.
No interior, em Naviraí, um suspeito foi preso dentro do presídio onde já estava detido e mais 3 mandados de busca e apreensão foram executados. Em Dourados, mais um detento foi alvo de novo mandado de prisão e, em Nova Andradina, foi descoberto que um dos alvos já estava dentro de presídio em Campo Grande. Em Coronel Sapucaia, cidade sul-mato-grossense na fronteira com o Paraguai, a Polícia Civil paulista também cumpriu um mandado de busca e apreensão.
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