Áudio indica possível ataque do no domingo (8)

Mato Grosso do Sul também também é vítima do caos gerado pela guerra entre organizações criminosas que assolou o país. Áudios obtidos pelas forças de segurança durante monitoramento dos criminosos, mostram uma série de trocas de informações, ordens de comando e discussão entre os grupos em relação ao que ocorre nos presídios.

Um dos materiais aos quais o Jornal Midiamax teve acesso mostra membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) discutindo os últimos acontecimentos de Manaus e Roraima e prometendo retaliações. Em um dos áudios, um dos homens, não identificado, dá a entender que o CV (Comando Vermelho) ou uma das organizações aliadas ao CV, irá atacar o Presídio Federal de Segurança Máxima de , território com maior domínio do PCC.

Ainda assim, o secretário-adjunto da (Secretaria de justiça e segurança pública), Antônio Carlos Videira, demonstrou tranquilidade e declarou que “a Secretaria está preparada para qualquer eventualidade, não só dentro dos presídios, como, também, foram dos presídios”, avaliando que a população carcerária, pertencente ou não à facções, e a sociedade civil, estão protegidas.

Confira os áudios:

 

 

Em um dos diálogos, um dos membros do PCC discute como a organização tem refletido as represálias do CV e das organizações aliadas – a exemplo da Família do Norte, responsável pelos ataques no presídio de Compaj, em Manaus, que deixou 56 mortos -. Ele relata uma espécie de reunião ‘extraordinária' dos membros da facção em uma das alas da Penitenciária de Presidente Venceslau, interior de São Paulo, afirmando que teriam ficado 4 dias sem dormir, dialogando. E afirma que “irão matar gente na rua”. Durante o áudio, dá entender que o objetivo é negociar as penas com o Estado, já que afirmam que “nossa intenção no sistema aí não é ficar 30 anos preso não”.

“Nós vai matar é na rua, ta ligado? Nossa intenção no sistema aí, véi, não é ficar 30 anos preso aí não. Nossos irmão aí ficar 30 anos preso não, entendeu? Só tipo assim, ‘cê' tá ligado, o ‘bagulho' tá em resumo [discussão] lá na W2, é a final do PCC, é a final do PCC lá em Venceslau, entendeu? Aonde os irmãos já se encontram a quatro dias sem dormir, tudo em debate nas ideias. Logo vai tá mandando um salve, um ok, aí. ‘Cê tá ligado? Pra começar um sangue a derramar, também”, afirma.

O secretário declara que as facções estão sendo monitoradas. “Na verdade o que acontece, nós já monitoramos as facções negativas dentro do presídio o tempo todo. Todas as agências de inteligência monitoram a população carcerária ininterruptamente, no caso da Agepen [Agência estadual de administração do sistema penitenciário] nós temos a Gisp [Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário]. Então, a Gisp norteia o diretor presidente e norteia também o diretor de operações”, relata.

Em outro áudio, um membro da organização também comenta sobre as violências registradas nos presídios do norte. “Esses caras tão fazendo covardia, mano. Se você ver aí na internet, os ‘cara' estão matando até mãe, mulher grávida, tudo, entendeu mano?”, afirma ele, em tom de preocupação.

“Na verdade, os presidiários, hoje, com a facilidade de acesso à telefones celulares e as mais diversas formas de introdução, o que vem sendo rotineiramente feito é a operação pente fino, e você tira o celular, tira o celular, e ainda assim são introduzidos, por visitas, por drone, como foi o caso de Dourados, então, o acesso à informação faz com que a população carcerária tenha informações do que aconteceu fora do estado. Isso produz um clima de insegurança na população carcerária. Agora, a viralização dos áudios, às vezes, não é nem de dentro, ele recebe áudio de outros estados, e isso cria um clima de insegurança”, conta o secretário.

Ataque no domingo

Um dos áudios anuncia o que parece ser um possível ataque do CV ou organizações aliadas ao Presídio de Segurança máxima no domingo (8). Ele afirma que uns “dez” homens teriam chegado a Mato Grosso do Sul e anuncia que estariam hospedados na “rodoviária velha”.

“O bagulho ta doido, entendeu mano? Ow fala pra cunhada nem ir aí domingo visitar vocês aí? entendeu? Seguinte, mano. A ideia que chegou pra nós aqui, mano. É que chegou dez dez mano, dez dos maluco aí no Noroeste. Os cara vai fazer um atentado aí na Máxima, chegou dez mano. Diz que tem outros maluco deles ali na rodoviária velha ali, entendeu mano? Dez parado ali no bagulho, entendeu parceiro, e que os cara até alugou um motel e tá parado ali, brother”, afirma.

Sobre o possível ataque amanhã, Antônio Carlos diz que o Estado está preparado. “A secretaria adota todas as medidas para evitar isso daí. A secretaria está preparada para qualquer eventualidade, não só dentro dos presídios, como, também, fora dos presídios, porque se tiver um problema dentro dos presídios, quem vai primeiro intervir são os agentes penitenciários que, inclusive, participaram de cursos de intervenção rápida no final do ano passado, e que estão sendo capacitados pra agir nesses casos de stress. Do lado de fora, se precisar, nós temos também o apoio do Choque, dos táticos”.

“Então, isso daí não excepcional, isso aí é rotina, porque como nós temos uma população carcerária maior que o número de vagas, e, principalmente, por conta do número de presos do tráfico de drogas e o tráfico de drogas é explorado, principalmente fora do estado, nos países vizinhos nossos, por facções criminosas, é imprescindível, para você poder manter uma população de presos maior do que a capacidade, essa engenharia de alocação”, complementa.

Por último, uma conversa mostra que o PCC está preparado pra reagir e descreve com detalhes como foi o ataque de represália em Roraima, que deixou 31 mortos.

“É nós guri, forte abraço aí. Isso é a resposta que o Comando tá passando aí, pra criminalidade do Brasil, inteiro, entendeu, bom? Em cima da morte dos irmão lá tá ligado, mano?! Em cima da covardia que fizeram com os nossos ‘irmão', em cima da tiração que fizeram com os nossos ‘irmão' e com a família dos nossos ‘irmão'. É lá em Roraima, matamos uns 30 e poucos deles lá. Arrancamos cabeça, perna, braço. Tá ligado, até coração, até coração balançando lá nós pegamos. (risos). É nós irmão. Mostra aí irmão, mostra pra população aí da penal, quem colar com CV, PGC [Primeiro Grupo Catarinense, organização de Santa Catarina, aliada ao CV], vai acontecer a mesma coisa, irmão. Não cola, não cola”.

O secretário finaliza, declarando que o governador está ciente e que a secretaria já se antecipa aos possíveis ataques.

“O governador está acompanhando par em passo, a preocupação do governador é que nós estejamos sempre alertas e preparados para dar uma resposta rápida, no caso de uma eventual ação dentro ou fora do presídio. Então, nossas agências de inteligência, quando eu falo agência de inteligência, não são apenas os órgãos estaduais, mas as agências de inteligência do Mato Grosso do Sul, tanto as estaduais, quando as federais: a Abin [A Agência brasileira de inteligência], a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a agência de inteligência do presídio federal, todas essas agências se comunicam. Inclusive com as agências de outros estados, inclusive onde aconteceram os episódios”, esclareceu ele.

Colaboraram Renata Portela e Joaquim Padilha