Ligação ao 190 mostra PRF discutindo no local da morte de Adriano
Policial foi denunciado pelo MPE
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Policial foi denunciado pelo MPE
Minutos antes dos disparos que mataram o empresário Adriano Correia do Nascimento, 33 anos, no dia 31 de dezembro, o policial rodoviário federal Ricardo Hyun Su Moon, 47 anos, fez uma ligação para o 190. Em meio à conversa com o militar que atendeu a ligação, é possível ouvir uma discussão calorosa entre as vítimas e o PRF, já denunciado por homicídio qualificado pela MPE (Ministério Público Estadual).
Todas as ligações feitas pela Polícia Militar e também para o Corpo de Bombeiros através do 193 foram requisitadas pela Polícia Civil durante as investigações. Quatro delas, três que seriam de testemunhas do crime e um do próprio policial, foram analisadas por peritos e transcritas nos laudos do inquérito.
O desespero com a situação, mesmo antes dos disparos e o desconhecimento de que Ricardo Hyun Su Moon fosse realmente policial, ficam evidentes nas ligações. Mas é a conversa entre o policial rodoviário federal e o policial militar que atendeu a chamada, que detalhou a polícia a discussão que antecedeu o homicídio.
Logo no começo da ligação, o policial pede reforço, indica que está na “Geisel… perto do parquinho” e pede viaturas da Polícia Militar no local. Sem entender, o militar pergunta o que está acontecendo e em resposta Ricardo explica que o empresário, só depois identificado, quase tinha causado um acidente e estava ‘batendo boca’ com ele.
“E o motorista tá bêbado. Tá. Ele tá indicando índice, indício de embriaguez”. O policial ainda pergunta se o PRF também está embriagado, mas ele explica que não, que estava indo trabalhar. Neste momento da gravação, o policial rodoviário começa a discutir com umas das vítimas que estavam na caminhonete Hilux, mas a briga é ilegível.
“É o seguinte. O cara, o cara fez uma barbeiragem aqui. Quase entrei num acidente e tá batendo boca comigo”, voltou a explicar, “Tem três passageiros suspeitos aqui. Eu sou PRF TÁ. Tem três passageiros suspeitos aqui tá”. É a partir daí que a discussão fica mais clara.
Ao fundo, as vítimas pedem para o PRF mostrar a identidade policial. Ricardo Hyun Su Moon afirma que vai mostrar, passa novamente o endereço para o policial e depois afirma para quem está gravando a cena, que o celular com as imagens serão apreendidos como prova.
No decorrer da conversa, o PRF pede o etilômetro aos militares, mais de uma vez e volta a discutir com as vítimas, alegando que também vai fazer o teste.
“Você tá louco rapaz”, diz uma das vítimas. “Vocês três estão loucos! Aê rapaz” responde. A discussão continuou. “… só apresentou a arma para nóis”, informou um dos envolvidos. “Vou apresentar. Ó, vocês em atitude suspeita. O rapaz que tá com cara de suspeito”, diz o PRF se referindo ao adolescente de 17 anos, que estava no banco de trás do veículo.
Nesse ponto da conversa, a vítima e o policial falam sobre o jovem e sobre a suspeita, como relatado por Ricardo em depoimento, do adolescente estar armado. Ouvindo a conversa, o militar do outro lado da linha pergunta novamente o que aconteceu, o PRF reforça a manobra perigosa supostamente feita por Adriano e ao fundo as vítimas rebatem. “Mentira”.
O policial rodoviário ainda afirma estar ‘encurralado’, “três contra um aqui” e começa a mandar as vítimas se afastarem e ficarem na caminhonete, alegando que eles estão ‘avançando’ para ele. Eles voltam a discutir sobre a abordagem, sobre a suspeita do adolescente estra armado e dos envolvidos estarem bêbados.
“O senhor também deve tá. Eu sei que o rapaz de trás tá”, relatou o policial, possivelmente falando com Adriano. A discussão se alonga. “Meu” Tá errado você! Eu pedi para você se identificar como policial”, falou a vítima. “Fica lá, fica lá”, reforço o PRF. “A hora que você me mostrar a sua identidade eu vou me afastar. Eu não saio daqui enquanto você não me mostrar”, fala o empresário.
As vítimas ainda falam em crueldade na abordagem, falam que o policial rodoviário estava armado e recebem ordem para se afastar. “Ameaçaram, ameaçaram. Por isso que eu tive que me defender, entendeu? Três contra um, tá? Então. Vamo espera a PM chegar aqui para resolver então. Beleza”, diz o PRF.
A vítima responde com um tá bom e o policial reforça: “Beleza? Vocês fizeram errado. Vieram bater boca e quer avançar em mim”. A conversa acaba pouco depois de barulhos de novas discussões.
O socorro
Depois dos tiros, testemunhas voltam a ligar para a polícia. Na denúncia eles contam que já existe uma viatura da Polícia Militar no local. Que a Hilux colidiu com um poste e que um homem ferido está dentro do carro. “E tem uma pessoa alvejada aqui dentro do carro e ninguém ainda fez nada aqui”, relatou.
Ao fundo, lamentações sobre a morte de Adriano são ouvidas e o Agnaldo Espinosa da Silva, de 48 anos, que também estava no veículo, desmente o PRF, afirmando que ninguém o ameaçou. A testemunha então volta a falar. “Se demora essa guarnição a população vai tomar a providência cabível aqui nesse momento. Imediatamente…. O mesmo cidadão que disparou o tiro contra a caminhonete a Hilux tá colocando a mão na arma tentando alvejar o mesmo”.
Nas outras duas ligações, populares informam o acidente e pedem socorro. Em uma delas, o policial militar explica que um dos envolvidos é também é policial e a testemunha alega a preocupação, já que ele não estava fardado.
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