Agentes fazem estágio nos presídios

Um áudio de conversa entre presidiários de dois estabelecimentos penais de Mato Grosso do Sul, interceptado por forças de segurança no início de janeiro, revela ameaça aos novos agentes penitenciários, que ainda fazem estágio para poderem assumir o cargo. O preso ainda revela uma tentativa de massacre.

No áudio, o preso afirma que detentos pegariam os ‘novatos', ou seja, os agentes penitenciários chamados no último concurso, que agora passam por estágio, como reféns. Eles ainda ‘quebrariam' a cadeia. O interno também revela que os presos que estavam no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), ou seja, as celas 100, 200, seriam assassinados.

No fim de 2016, presos do RDD, celas tratadas como ‘disciplina' pelos internos, confirmaram ao Jornal Midiamax serem membros do CV (Comando Vermelho), que estariam sendo ameaçados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Eles chegaram a dizer que os integrantes da facção rival os ‘buscaricam' nas celas e os executariam.

As ameaças de massacre foram registradas dias antes da chacina que ocorreu em Manaus, no dia 1º de janeiro. No áudio, o detento ainda fala sobre Mauri, e diz que ele “não é as três letras”, ou seja, do PCC. Ele se refere a Mauri Jorge da Silva Braga, de 32 anos, assassinado no dia 28 de dezembro de 2016 em Ponta Porã. Ele chegou a ser apontado como membro do PCC e cumpria pena no regime semiaberto.

O preso ainda chega a dizer que as afirmações de que Mauri seria integrante da facção criminosa teriam sido inventadas pela imprensa, assim como as brigas entre facções. No mesmo áudio, o preso diz que não transfere de presídio por conta dos preços de mercadorias no presídio, que seria a Máxima de , além da lotação das celas.

Ameaças e insegurança

Recentemente, o (Sindicato dos Servidores de Administração Penitenciária) fez visita em unidades penais onde os estagiários passam por treinamento. “O que falamos sempre é que eles não podem assumir a responsabilidade de um servidor efetivo e nem aceitarem serem colocados como responsáveis”, disse o presidente do sindicato, André Santiago.

Até o dia 20 deste mês o estágio deve ser finalizado, mas os agentes novatos ainda devem aguardar os trâmites burocráticos para serem nomeados pelo Governo. Sobre as ameaças, Santiago relembrou que são constantes as intimidações pelas quais os agentes penitenciários passam. “Áudios com ameaças diretas aos agentes já foram interceptados. O clima está tenso, não tem como alegar o contrário”, afirma.

Como prova do perigo que os agentes enfrentam em serviço, Santiago relembrou alguns fatos, como a morte do agente Carlos Augusto Queiroz de Mendonça, em fevereiro de 2015, o envenenamento de servidores na Máxima, as agressões sofridas por agentes em várias unidades, como em Corumbá, as inúmeras tentativas de fuga dos presídios.

Também foram lembradas as mortes a esclarecer, que acabam sendo apontadas como mortes causadas por outros presos que enforcam detentos ou os obrigam a consumirem um ‘coquetel' de drogas. A rebelião em Naviraí, onde presos foram decapitados, o atentato ao agente Enderson Severi, a lista de servidores ameaçados na Máxima em Campo Grande, o princípio de rebelião em Rio Brilhante e em Três Lagoas.

Por fim, os casos mais recentes foram um problema no Presídio Estadual de Dourados, em que quase houve um confronto entre membros de facções rivais, além do motim registrado em dezembro, na Máxima, de 33 presos que exigiam transferência para que não fossem executados.

“Não estamos vendo política eficiente para reforçar a segurança e o Estado está fazendo o contrário da tendência nacional. Nos outros estados, criam grupos de intervenção, regulamentam o porte de arma do servidor e capacitam e compram equipamentos para melhorarem a segurança e o agente possa enfrentar essa criminalidade”, afirmou Santiago.

O representante do sindicato dos agentes ainda disse ao Midiamax que carros dos servidores que ficam estacionados fora dos presídios tem sido danificados constantemente. Ele recebe várias fotos dos veículos danificados, mas as imagens não serão divulgadas pelo jornal para segurança das vítimas.

*Colaborou Geisy Garnes