Seis meses depois de matar ex-mulher, réu confessa e aguarda júri para defesa

Juliana morreu em abril e deixou três filhos 

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Juliana morreu em abril e deixou três filhos 

Na madrugada do dia 22 de abril, Juliana da Silva Fernandes, de 24 anos, foi assassinada a facadas no Jardim das Hortênsias, em Campo Grande. O motivo: a ‘obsessão doentia e sentimento de posse’ do ex-marido e pai dos três filhos da vítima, Michel Leite de Carvalho. Quase seis meses depois, o suspeito, assassino confesso, espera preso o julgamento no Tribunal do Júri, ainda sem data marcada.

A última movimentação do caso foi em novembro, com a manifestação do MPE (Ministério Público Estadual), logo após a última audiência na qual Michel prestou depoimento e contou detalhes do crime e de como pensava sua relação de 10 anos com Juliana. Diante disso, o MPE ofereceu denúncia contra por homicídio qualificado por motivo torpe – recurso que dificultou a defesa da vítima – além de feminicídio e violência doméstica e familiar.

Para a promotoria, em cada detalhe do depoimento fica claro que o crime aconteceu por motivo torpe, já que o suspeito confessou não aceitar o relacionamento da ex-mulher com outra pessoa, evidenciando o que seria uma “obsessão doentia e sentimento de posse” em relação à vítima, conforme traz o texto da denúncia. Com a confissão, a defesa de Michel afirmou que só vai se pronunciar no julgamento, ainda sem data, que acontecerá no Tribunal do Júri.

O casal viveu junto por 10 anos e estava separado há dois meses quando o crime aconteceu. Eram duas horas da manhã quando Michel saiu do bar, localizado no Bairro Aero Rancho – relembrou durante depoimento diante do juiz. Ele contou que já estava decidido a matar a ex-mulher e que por isso pegou uma faca e foi em direção à casa da irmã de Juliana, onde ela morava desde a separação. “Eu fui para matar ela. Porque eu não aceitei”.

“Eu não sei o que ela estava fazendo lá. Ela estava lá na rua, no meio da rua da favela lá”, narrou Michel. Sem dizer nada, ele se aproximou e atacou Juliana com a faca. Ele contou ainda que não se lembra quantos golpes desferiu, mas que ‘mirou o peito’ da ex-mulher.

Para fugir de Campo Grande, Michel contou com a ajuda de Domingos Salves Lopes Cordeiro, com quem teria mantido um relacionamento homoafetivo durante todo o casamento com Juliana. Por ajudar o amante, Domingos foi condenado a pagar um auxilio de R$ 880, podendo ser parcelado em quatro vezes de R$ 220, para a Apae Campo Grande e foi retirado do processo. 

Michel foi preso dias depois, por equipes da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), em Terenos. 

Depoimento

Michel detalhou que os dois se conheceram no Aero Rancho. A jovem tinha 15 anos, na época, e ele 17. Logo ele a ‘tirou’ da casa da família e a levou para morar com ele e a mãe. Do relacionamento, nasceram três crianças.

Seis meses depois de matar ex-mulher, réu confessa e aguarda júri para defesaLogo no começo de depoimento, o Michel alega que a ex-mulher não era “aquela pessoa que tanto falavam”. Ele narrou ao juiz que os 10 anos que viveu com a mulher foram conturbados e marcados por brigas. Nas palavras dele, Juliana era “desobediente, e por isso viviam brigando”, já que “ela não respeitava ele” (sic).

O homem lembra que em duas ocasiões as brigas levaram a agressões e que vivia com Juliana por viver. Em 2015 o casal se mudou para Terenos e em fevereiro de 2016 se separaram. O motivo, segundo o suspeito, seria a traição da esposa.

Segundo ele, na época o trabalho consumia grande parte do seu tempo e Juliana começou a visitar o irmão preso na Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande. Entretanto, as visitas não seriam para o irmão e sim para outro homem, segundo defendeu o preso em juízo. Michel teria descoberto o caso no dia 2 de fevereiro, quando acabou preso acusado de ameaçar a jovem.

Já separada, Juliana voltou a morar na Capital. Amigos e familiares dela contaram que já solteira, ela começou um novo relacionamento e estava feliz. Entretanto, a versão é contestada pelo suspeito, que sustentou que Juliana era ameaçada pelo outro homem e que ela teria chegado a pedir ajuda para Michel.

Nos meses separados, Michel também afirmou que continuou ajudando a ex e que quis reatar o casamento, mas que Juliana não quis. Por isso, e por não aceitar ela com outro homem, decidiu mata-la. “Larguei minha vida por ela, me deixei de lado por ela e pelos filhos. Sentia algo por ela, mas não sei se ela sentia algo por mim, esse era o problema, entendeu?”.

Mesmo mantendo um relacionamento extraconjugal também por 10 anos, Michel foi categórico ao dizer que não aceitava o envolvimento de Juliana com outro homem e repetiu mais de uma vez que não sabia se ela o amava, enquanto os sentimentos dele eram verdadeiros. Questionado por seu relacionamento homoafetivo, o suspeito só respondeu: “Uai, eu não sei como explicar esse caso. É uma coisa minha.”.

Protesto

A morte brutal de Juliana ganhou grande repercussão e resultou em uma manifestação por justiça. Revoltados com o crime que tirou a vida da jovem e com medo de represália por parte do assassino, moradores da Cidade dos Anjos fecharam ruas do Jardim Aero Rancho e atearam fogo em caixotes e pneus para pedir justiça e segurança no bairro.

Mulheres protestaram pelo assassinato de Juliana (Foto - Henrique  Kawaminami/Midiamax)

Com cartazes pintados a mão, os manifestantes – a maioria mulheres, reuniram-se no cruzamento das avenidas Presidente Tancredo Neves com Arquiteto Vila Nova Artigas. Pneus, caixotes e lixos serviram de combustível para o ato, que fechou os quatro pontos do cruzamento.

As amigas da vítima, na época, contaram que mesmo no velório e com toda a divulgação do caso, a família de Juliana foi ameaçados por Michel.  O suspeito teria afirmado que mataria os três filhos, de 8, 4 e 3 anos, e colocaria fogo na comunidade.

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