Traumas ocorridos por abuso e violência

Com intuito em contribuir na elevação da autoestima e na cura dos traumas ocorridos por abuso e violência, das custodiadas do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi”, e prepará-las para o retorno e convívio social após o cumprimento da penalidade, a Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Funtrab) firmou parcerias com a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e a Associação Pro-Eva com o Programa de Empoderamento às Vítimas de Abusos.

Encontram-se no “Irmã Irmã Zorzi” 359 custodiadas, a primeira etapa do projeto tem 15 participantes. O programa teve início em no dia 7 de dezembro com previsão de duração de 14 semanas e está no 11º encontro, sendo possível constatar os resultados por meio dos relatos das participantes.

A custodiada J.A.P.S, de 32 anos, presa por tráfico, tem um histórico familiar conturbado, em seus relatos à violência e  abuso sexual sofrida aos oito anos dentro de casa, cometidos pelo tio e o avô. Após os abusos, ela saiu de casa e foi morar na rua, no orfanato, acabou se envolvendo com drogas. “Eu era uma pessoa amarga e triste, vivia chorando, sofrendo, mas aprendi a perdoar os meus agressores e, principalmente, a perdoar a mim mesma; sou uma pessoa diferente agora”, destacou a custodiada.

O projeto visa incentivar uma conversa franca e aberta sobre vários assuntos e romper com o silêncio que protege os autores dos crimes de abuso e violência, que na maioria dos casos são praticados por pessoas próximas. Para isso, foi montada uma equipe multidisciplinar composta por psicólogas, assistente social e pedagoga.

Nas histórias contadas pelas participantes, há os mais diversos tipos de abusos sofridos durante a vida, traumas que dificultaram as relações sociais e, muitas vezes, acabaram contribuindo para inserção no mundo do crime. “Trabalhamos com elas a conscientização sobre a violência e suas consequências, buscamos o resgate da dignidade e valores para a restauração do caráter e expectativa de vida”, destaca a psicóloga coach da Funtrab e coordenadora do projeto, Gisele Oliveira.

O diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, participou de uma reunião do grupo nesta semana e pode ouvir relatos das internas sobre as transformações proporcionadas por meio do aprendizado no Pro-Eva. Ailton Stropa destacou a importância de iniciativa como essa ser realizada no ambiente prisional, no sentido de reinserir positivamente as custodiadas no seio social.  “A missão do sistema prisional não é mantê-las presas, é devolvê-las a sociedade melhor do que quando entraram, para que não voltem a cometer crimes. Não queremos vocês aqui, queremos vocês em liberdade e com uma vida digna”, disse o dirigente à internas.

Para que haja o empoderamento dessas mulheres é que o projeto foi criado, o intuito das terapias é o fortalecimento psicológico, elevação da autoestima das participantes, que sairão prontas para o retorno e ao convívio social. As profissionais realizam o esclarecimento sobre o que e considerado como abuso, os diferentes tipos de violência, psicológica, sexual, moral, patrimonial, física, dentre outras, pontuar e diagnosticar alguns dos sentimentos mais comuns de quem sofre por um trauma, medo, ódio, culpa, vergonha, dentre outros. Segundo a diretora Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi”, Mari Jane Boleti Carrilho, o resultado do projeto está sendo muito positivo, já que as internas têm essa possibilidade de enfrentamento em busca da superação das dores e mágoas, o que acaba refletindo na disciplina das custodiadas.

O encontro contou também com a participação do diretor de Assistência Penitenciária, Gilson Martins. Ele destacou que o trabalho realizado pelo Pro-Eva oferece uma concepção diferente sobre as maneiras diferentes de enfrentar a violência sofrida, dando condições para que as custodiadas possam aceitar e buscar essa mudança na vida delas. “Nosso trabalho na Agepen é possibilitar que essa transformação aconteça e o Pro-Eva está nos ajudando de maneira significativa nisso”, afirmou.

A violência contra mulher é uma ação que persiste mesmo com várias políticas públicas implantadas, campanhas e outras ações que visam combater à violência contra as mulheres. Esse tipo de violência no MS possui dados preocupantes, entre os Estados no país, o MS ficou em 2ª lugar em números de denúncias pela Central de Atendimento à Mulher (180), com uma quantidade em 1.126 registros, e entre as capitais no país, foi a capital com a maior taxa de atendimentos registrados em 2014.