Alunos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) decidiram passar a noite no prédio da reitoria, em Florianópolis, após o tumulto que resultou em cinco estudantes presos e dezenas de feridos. Ao final das deliberações, como forma de protesto, alguns estudantes acenderam cigarros de maconha e chamaram pela presença da Polícia Federal.

Em assembleia realizada pelos próprios estudantes, eles decidiram permanecer no local até a manhã desta quarta-feira, quando um encontro será realizado com a reitora Roselane Neckel. O clima de revolta é contra a ação da Polícia Militar, que disparou balas de borracha contra os jovens, e com a Polícia Federal, que prendeu os estudantes que carregavam uma pequena quantidade de maconha na mochila.

Do lado de fora do prédio da reitoria, pelo menos 15 jovens feridos se reuniam para ir até a delegacia para prestar queixa e realizar exames de corpo delito. A ação da PF revoltou professores e a direção da UFSC. De acordo com Carlos Antonio Vieira, chefe de gabinete da reitoria, a suposta infração cometida pelos alunos deveria ter sido informada à universidade.

“A Polícia Federal foi intransigente depois que a confusão de formou. Eles filmam e investigam aqui na universidade, mas deveriam prender os alunos somente do lado de fora”, disse. “Estamos contando os feridos, os alunos decidiram permanecer aqui e nesta quinta iremos avaliar a situação para processar a Polícia Federal e o delegado Paulo Cassiano Junior que chamou a Tropa de Choque para agredir os envolvidos daquela maneira.”

O professor de arquitetura Lino Peres, que é vereador do PT em Florianópolis, também não escondia a irritação com a ação policial. Ele disse que a questão da presença de polícia no campus da UFSC já foi muitas vezes debatido com as autoridades de segurança. E que a prisão teria sido, “além de inadmissível”, contrária à lei de autonomia universitária.

“Isso é ilegal em qualquer lugar, polícia invade morros, sem notificações e comete todas as arbitrariedades. Só que aqui, existe uma massa crítica e jovens que não se calam”, disse ao participar da ocupação da reitoria. “Já fui chefe do departamento de arquitetura e conseguimos estabelecer regra de convívio sem precisarmos dessa arbitrariedade. Não é porque é jurisdição federal que a PF pode fazer como quiser. Tem que pedir permissão à reitoria. Foi ferida a lei federal de autonomia universitária em seu artigo 200.”

O comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Araújo Gomes, revelou que a Tropa de Choque foi acionada pela própria Polícia Federal para garantir a integridade dos agentes que flagaram os jovens com a maconha no campus.

Maconha na reitoria

Após a confusão, os estudantes protestaram na noite desta terça-feira fumando maconha dentro do prédio da reitoria.

O presidente do Instituto Cannabis, Lucas Lichy, destacou que a organização (que trabalha com estudos sobre o uso terapêutico da cannabis e foi recentemente reconhecido pela Justiça) irá auxiliar juridicamente os cinco estudantes presos e aqueles que se feriram no tumulto. “Lamentamos profundamente o que aconteceu, acendemos maconha aqui como uma forma de protesto”, disse. “Já deslocamos advogados para ajudar os que foram presos e estamos aqui para dar toda assistência aos maconheiros”.

Conhecido após disputar as eleições para vereador com o personagem Presidente THC, Lucas de Oliveira também participou do protesto dentro da Reitoria. “Fumamos aqui para protestar contra a ação da PM.

“Universidade tornou ilha de excelência onde havia democracia. O que aconteceu hoje aqui ultrapassou todos os limites e pareceu com as coisas que a ditadura militar fez no passado”, disse. “Jogaram bombas e atiraram a esmo nas pessoas. Nossa reação é essa: ocupamos a reitoria e vamos ficar aqui até que os estudantes sejam liberados e que a policia garanta que não vai mais invadir o campus”.