Policiais civis cruzam os braços em 12 Estados e dividem opiniões sobre greves
Em mais uma paralisação antes da Copa do Mundo, policiais civis de 12 Estados decidiram cruzar os braços nesta quarta-feira, além de organizarem protestos em diversos pontos do país e uma marcha em Brasília. O movimento conta com apoio da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, que embora não devam integrar a greve poderão […]
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Em mais uma paralisação antes da Copa do Mundo, policiais civis de 12 Estados decidiram cruzar os braços nesta quarta-feira, além de organizarem protestos em diversos pontos do país e uma marcha em Brasília. O movimento conta com apoio da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, que embora não devam integrar a greve poderão fazer parte da manifestação na capital.
Alardeado como a “Paralisação Nacional da Força Policial”, cuja intenção era interromper o trabalho de policiais civis, militares, federais e rodoviários federais, o movimento da Cobrapol (Confederação Nacional dos Trabalhadores Policiais Civis) dividiu opiniões e acabou ganhando adesão maior entre os agentes civis.
De acordo com a entidade, a greve incluirá os policiais civis de Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo.
Entre as demandas principais estão pressionar o governo federal por um plano nacional de segurança pública, que vise melhorar o sistema como um todo, e cuja modernização traria, por consequência, melhores condições de trabalho para os policiais.
Em entrevista, o presidente da Cobrapol, Jânio Bosco Gandra, diz que “este é o primeiro de outros alertas que poderão ser dados caso o governo não tome providências. Decidimos que o 21 de maio seria o início destes alertas que serão feitos até a realização da Copa”.
Sobre o Mundial, ele afirma que o brasileiro terá uma sensação de segurança devido à mobilização de todo o efetivo das diferentes corporações, Força Nacional e os recursos extraordinários que foram investidos, mas que “não haverá legado”.
Questionado por mais detalhes sobre as demandas do movimento e se as queixas incluem reivindicações por maiores salários, Gandra negou que a busca por aumentos fosse o problema principal – ao contrário dos policiais militares que entraram em greve em Recife e Salvador dias atrás, que demandavam reajustes e melhores condições de trabalho.
“Longe disso, longe disso. Não se trata de aumento. Esse movimento trata de buscar um modelo melhor de segurança pública. Não vai haver reivindicação salarial direta. Agora se você adotar uma política de modernização, automaticamente a remuneração, folgas, etc, tudo vai melhorar. Nós temos várias ideias para apresentar”, disse.
Após citar o “caos da segurança pública brasileira”, o líder diz que uma das propostas seria unificar todo o registro de identidade nacional. “Não temos essa unificação. Uma pessoa pode tirar 27 carteiras de identidade, uma em cada Estado. Isso atrapalha nosso trabalho”, argumenta.
Discordância e representatividade
Embora as paralisações da Polícia Militar em Salvador e Recife, dias atrás, tenham gerado cenas de caos, com o envio da Força Nacional, saques, tiroteios e supostamente um aumento do número de homicídios, a interrupção do trabalho dos agentes civis deve ser menos problemática, na visão de especialistas.
Isto porque a Cobrapol não teria representatividade suficiente para colocar em prática a “paralisação nacional das forças policiais” nem mesmo apenas entre os agentes civis, muito menos entre as outras corporações, como anunciado no início da semana.
A Feneme (Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais), por exemplo, deixa claro em seu site que não apóia o movimento.
“Com relação a uma convocação para paralisação de policiais civis e militares, marcada para o dia 21 deste mês e que se encontra circulando na internet e na mídia em geral, informamos que a Feneme não é signatária da mesma, nem mesmo apóia tal movimento de militares. Trata-se de uso indevido do nome desta Federação, que preza e sempre prezará pela negociação de alto nível, respeitando-se o ordenamento jurídico nacional”, diz a entidade.
Para José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo e professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da mesma corporação, as razões apresentadas pelo movimento grevista são duvidosas.
“Não há grande adesão. Falam em paralisação nacional. Vi que houve assembleias com 40 oficiais em Estados com 10 mil agentes. Fora isso, trata-se de uma demanda muito genérica. O Brasil não tem planejamento nacional de segurança pública, todos sabem disso, há décadas”, diz.
Para Silva Filho a movimentação tem como objetivo “marcar posições políticas dentro das entidades. Estão jogando para suas plateias. Não acho que tenham como missão o interesse público”.
Ao comentar as greves das PMs em Pernambuco e na Bahia e a paralisação nacional da Polícia Federal marcada para o próximo sábado, ele diz que tratam-se de “tiros no pé”.
“Essas corporações precisam entender que só vão ganhar o repúdio da opinião pública. Em Recife e Salvador vão demorar muito para recuperar o prestígio, já que a população sentiu medo. No Estado, quem tem armas não faz greve. É preciso negociar de outras maneiras. Eles precisam perceber isso”, avalia.
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