Mulheres, irmãs, filhas e mães de detentos se reuniram na tarde desta segunda-feira (10), na Praça da República, em um protesto por melhores condições de saúde, higiene e para cobrar ações contra superlotação das celas dos presídios de Campo Grande. A expectativa do grupo é reunir pelo menos cem pessoas e seguir pelas ruas do Centro, até o Fórum da Capital, onde esperam ser recebido pelo Juiz Albino Coimbra Neto, da 2ª Vara de Execução Penal.

Com o marido preso, a dona de casa Mariah Lima, 28 anos, diz que o protesto surgiu nas conversas entre as mulheres nas filas dos estabelecimentos penais de Campo Grande. As mulheres decidiram que alguma coisa teria que ser feita para chamar atenção para a situação dos presos.

Mariah comenta que muitas pessoas pensam que os presos “passam bem” nos presídios, comendo de graça, morando e recebendo auxílio, mas que a realidade dentro das celas não é essa. “Só quem passa por isso sabe como é. As pessoas que não tem um parente preso acham que eles comem bem, mas a marmita é um feijão azedo, sem tempero. Eles tratam o preso como se fosse bicho, como que uma pessoa pode se ressocializar assim”, questiona. O marido dela cumpre pena há 13 anos e segundo ela, já deveria ter sido posto em liberdade em 2010.

A estudante Claudiciane Ledesmo, 22 anos, diz que tem o marido e o irmão presos no presídio de trânsito da Capital. A transferência do irmão para o estabelecimento foi feita justamente para que facilitasse as visitas, mas agora, ela só pode levar mantimentos para um deles em cada visita. “Fica assim, um domingo eu levo para um, no outro para outro”, diz.

Os familiares são unânimes em dizer que a situação dos detentos nos estabelecimentos é precária e as queixas são várias:

-Uma vez meu marido disse que ficou sem água e que eles quase que tiveram que beber água do vaso.

-Tem muita barata, formiga. Com esses bichos a gente e as crianças convivemos quando vamos visitar. Tem uma grade, por onde eles vão jogando o lixo, e vai tudo se acumulando.

– Antes a gente levava tempero, uma charque, e agora, Não pode. Mas para vender na cantina de lá tem. Um ovo custa R$ 1. Um pacote de 1 kg de arroz custa R$ 10. Acho que é uma máfia aquilo lá.

-Meu marido está com uns furúnculos no rosto por causa da má higiene. Não tem dentista, só dão um remédio para dor. E o pior, são os remédios para dormir. O preso sente uma dor e eles dão um remédio para ir dormir.

 -Era para o meu irmão ter tido remisssão de pena, porque ele estudou, passou de ano, está trabalhando, mas até agora nada.

Uma das mulheres, de 44 anos, diz que não pode se identificar, pois a família não sabe que o marido dela está preso há cerca de seis meses. Segundo ela, o marido foi preso após dirigir embriagado e em Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “Era para ter sido realizada uma audiência no dia 19 de novembro, mas até agora nãoda. Segundo ela, a cela do marido é minúscula, e abriga 14 presos. “Se o preso não tiver família para levar um colchão, dorme no chão. Não tem higiene, nãoo tem nada. Se a minha família é preconceituosa, imagina a sociedade”, finaliza.