MA: mulher de 67 anos se alimenta de “quentinhas” rejeitadas por presos

A “riqueza” que a governadora Roseana Sarney (PMDB) atribuiu a seu próprio Estado na semana passada para justificar a recente onda de violência parece não ter chegado a pelo menos uma moradora de São Luís. No final da tarde, todos os dias, Geni Farias, 67 anos, espera na porta principal do Complexo Penitenciário de Pedrinhas […]

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A “riqueza” que a governadora Roseana Sarney (PMDB) atribuiu a seu próprio Estado na semana passada para justificar a recente onda de violência parece não ter chegado a pelo menos uma moradora de São Luís.

No final da tarde, todos os dias, Geni Farias, 67 anos, espera na porta principal do Complexo Penitenciário de Pedrinhas que um funcionário a atenda. A sacola vazia debaixo do braço, no entanto, é um sinal de que não está ali para visitar algum parente encarcerado: o périplo é para buscar comida. No caso, comida recusada pelos presos.

A reportagem conversou com Geni nessa quinta-feira, dia em que um princípio de rebelião no Centro de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ), por pouco, não frustra a viagem da lavadeira. Nos últimos dias, ela contou, a greve de fome de parte dos presos facilitou que as sobras das quentinhas fossem mais generosas.

“Moro sozinha e lavo roupas, quando aparece algo. Dá uns R$ 15, R$ 20, e meu filho quando pode, me ajuda com algum trocado”, disse, ela que mora nas imediações de Pedrinhas e tem ainda uma filha no interior. Viúva, ex-empregada doméstica (“o último patrão era doutor –médico –, mas faliu e me dispensou”) e sozinha em casa, ela não falou em tom de lamento sobre os restos que busca. Pelo contrário.

“É bom, né? Ou tem peito e coxa de frango, arroz e feijão, ou tem macarrão. Às vezes vem uma carne fininha, que tiram do estômago do boi, aí também não gosto. Nem os presos gostam. Mas acho que eles não comem mesmo é porque enjoaram: é sempre o mesmo tipo de comida”, constatou.

Nos últimos dias, continuou a idosa, “sobrou mais comida” com a greve de fome promovida por mais de cem detentos de três alas da penitenciária de segurança máxima São Luís 1, uma das oito unidades prisionais contidas em Pedrinhas.

“Venho aqui há quatro meses. Mas não é resto de comida, não: é comida que os presos não querem”, ela faz questão de observar.

Comissão do Senado constatou greve de fome

A greve de fome dos presos veio a público na última segunda-feira (13), durante uma visita da Comissão de Direitos Humanos do Senado a parte do complexo –a algumas alas o acesso dos parlamentares não foi possível devido à precariedade das condições internas de segurança. Em Pedrinhas, estão infiltradas ao menos cinco facções do crime organizado; em unidades como o CCPJ, onde ocorreu ontem a rebelião, estão separados os presos pertencentes ao Bonde dos 40 e ao Primeiro Comando do Maranhão.

Segundo funcionários da Central de Triagem de Pedrinhas, ontem, no complexo, a rebelião contida ainda durante a tarde por agentes da Força Nacional de Segurança e policiais da Tropa de Choque teria sido contra a militarização da unidade (ocupada pela FNS e pela PM desde o fim do ano passado) e pela revisão de processos dos presos. Familiares do lado de fora do
complexo reclamavam que pessoas ainda em regime fechado já teriam autorização judicial para cumprir pena no semiaberto, ou mesmo no aberto.

Na quarta-feira, um mutirão composto por Ministério Público Estadual, Tribunal de Justiça e Defensoria Geral do Estado deu início à revisão dos processos dos presos –cerca de 1.500 provisórios (ou seja, à espera de julgamento) nos pouco mais de 2.100 presentes em Pedrinhas. Inicialmente, serão revisados os casos de presos da capital.

No próximo dia 27, chegam ao Maranhão defensores públicos de outros Estados para auxiliar na tarefa. O mutirão tem previsão de seguir até 13 de abril deste ano.

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