Polícia quer indiciar médicos por homicídio doloso de mãe com gravidez de risco

Peregrinação da mãe por atendimento foi tamanha que ela passou por seis locais com 40 semanas de gravidez. Como resultado a mulher morreu e a filha sobreviveu com graves sequelas

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Peregrinação da mãe por atendimento foi tamanha que ela passou por seis locais com 40 semanas de gravidez. Como resultado a mulher morreu e a filha sobreviveu com graves sequelas

A saga para conseguir atendimento médico, mesmo com diagnóstico de pressão alta, sangramento e contrações típicas do 9° mês de gestação, levou Ana Paula dos Santos, 38 anos, a falecer em Campo Grande. Ao todo, a polícia constatou que ela passou por seis unidades de saúde diferentes, sempre sendo medicada e liberada.

De toda essa peregrinação, sobreviveu Anny dos Santos Sanabria, prestes a completar dois anos de idade, além de um pai com a menina doente e outros quatro filhos para criar. O fato ocorreu em 2011 e a polícia faz uma coleta de documentos para comprovar que o parto dessa vítima deveria ser feito de imediato e que, quatro dos seis médicos que fizeram o atendimento, devem responder por homicídio doloso (com intenção de matar).

“Esta mãe morreu com diagnóstico de pneumonia e pré-eclampsia grave e, nesses casos, de acordo com vários profissionais e laudos recebidos, deveria ter sido feito de imediato o parto. Porém, houve descaso e o parto não foi feito mesmo com os riscos que ela estava correndo”, diz a delegada Christiane Grossi, responsável pelas investigações.

Com dores, Ana Paula primeiro compareceu no dia 1/6 ao Posto de Saúde do bairro Nova Lima. O médico a encaminhou para o Hospital Regional, porém ela foi medicada e liberada. No outro dia, foi para a Maternidade Cândido Mariano, sendo mais uma vez medicada e liberada. Já no terceiro dia, a opção foi a Santa Casa, onde ela saiu após receber o medicamento devido.

No dia do nascimento do bebê, mais dois locais: Posto de Saúde do Nova Bahia e a Santa Casa. “Como a mãe teve pressão alta, foi aplicada a anestesia geral e o nenê teve convulsão e parada cardiorrespiratória. Dois dias depois o bebê foi reanimado após outra parada e permanece com as sequelas. Já a mãe desmaiou, foi entubada e morreu no dia 21 de agosto”, conta a delegada Grossi.

Com os filhos, o trabalhador rural Ivan Luiz Sanabria, 37 anos, se sentiu ‘sem chão’. “Com oito meses de vida a criança obteve um laudo de epilepsia refratária e deformidade perante o sofrimento fetal agudo, eventos ocorridos após o parto e que contribuíram para o estado atual da menina. Este é um parecer de um médico legista, com informações da faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo)”, explica a delegada.

Por enquanto, a reportagem irá preservar os nomes dos profissionais, já que as investigações permanecem em andamento. Porém, segundo a Polícia Civil, a intenção é provar que estes profissionais foram negligentes e devem pagar pelos crimes. A reportagem procurou o Sr. Ivan, mas há duas semanas ele mudou do endereço repasado à polícia.