A polícia do Rio de Janeiro ocupou neste domingo o complexo de favelas do Lins, na zona norte da cidade, em mais uma etapa do processo de pacificação nas comunidades dominadas pelo narcotráfico.

Quase 370 oficiais da Polícia Militar, apoiados por fuzileiros da Marinha em blindados, entraram nas 12 favelas do Complexo do Lins e Camarista Méier pouco depois das 6h00.

No total, mil oficiais das forças de segurança – incluindo militares, policiais federais e civis – participaram na operação.

A operação durou 50 minutos e transcorreu sem troca de tiros. Depois de entrar no complexo, a polícia começou a revistar casas e interrogar suspeitos.

“É um passo a mais na direção da paz”, disse o govrnador do Rio de Janeiro, Sértio Cabral, muito criticaro atualmente pela população.

Cabral informou que o complexo de favelas da Maré, um dos mais violentos da cidade, será ocupado pela polícia em 2014.

“Vamos caminhando passo a passo e formando policiais militares. Vamos ocupar a Maré no primeiro trimestre ou quadrimestre de 2014”, disse à imprensa.

Esta semana, a polícia prendeu um homem e apreendeu drogas em uma operação na Maré, que tem 75.000 habitantes e é alvo disputas entre grupos de narcotraficantes e milícias.

A ocupaçao das 15 favelas do complexo da Maré exigirá 1.500 agentes, afirmou em agosto o comandante da polícia José Luis Castro Menezes.

No conjunto de favelas do Lins, que tem população estimada de 15.000 pessoas, serão instaladas a 35ª e 36ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

“Como na maioria das comunidades, não precisamos de uma UPP. Não nos representa. Se algum morador disser que aceita a UPP é mentira”, afirmou uma moradora, que identificou apenas como Márcia, de 51 anos.

O programa de implementação das UPPs passa por um momento de críticas por denúncias de corrupção e tortura na Rocinha, a maior favela do Rio.

Esta semana, 10 policiais foram presos acusados de terem torturado até a morte o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza e depois ocultado o corpo.

Segundo a investigação da Polícia Civil, Amarildo foi uma das 23 pessoas torturadas para a obtenção de informações sobre o tráfico na região.

“Tenho medo que outros Amarildos apareçam”, disse Márcia à AFP.

O “caso Amarildo” provocou muitos protestos contra o governador Sérgio Cabral.

Ele afirmou que o “abominável” assassinato não vai deter o programa de ocupação.

“Lamento a conduta destes policiais, que foi abominável, mas sem dúvida não será uma marca para as UPPs”, disse Cabral.

“O caso Amarildo nos mostra que este tipo de investigação só pode acontecer quando uma comunidade está pacificada. Quantos crimes ficaram impunes antes da chegada da polícia aos morros”, completou o governador.

“Por este caso isolado não vamos deixar de acreditar na polícia de pacificação”, disse o defensor público Nelson Bruno, que acompanhou a ocupação para constatar que não aconteceram abusos durante a operação.

“Tudo está tranquilo, sem reclamações. O sentimento é de tranquilidade e esperança”, disse Bruno, que acompanha as “pacificações” desde a ocupação cinematográfica no Complexo do Alemão em 2010.

A polícia apreendeu 74 armas de fogo (incluindo 14 fuzis), 14 granadas e quilos de cocaína, além de 78 de crack e 58 de maconha, segundo uma nota da secretaria de Segurança.

Durante a semana, dois suspeitos de narcotráfico foram mortos no Lins em confrontos com a polícia prévios à pacificação.

“A paz não é conseguida com fuzil, isto é mentira. Queremos o fim da UPP”, disse à AFP André Luiz Constantine, 38 anos, do grupo Favela Não Se Cala.

A criação das UPPs é parte do esforço do Rio de Janeiro para melhorar a situação de segurança antes da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

Nas 34 UPPs instaladas até o momento trabalham 8.500 policiais. O governo estadual espera alcançar 40 unidades em 2014.