Atraso na devolução de gibi à biblioteca vira caso de polícia em Arapoti (PR)

O atraso na devolução de um gibi do personagem Asterix à biblioteca pública virou caso de polícia em Arapoti (151 km ao norte de Curitiba). Um estudante de 17 anos recebeu uma intimação para que comparecesse à delegacia até a terça-feira (30) com o álbum “Asterix e a Foice de Ouro”. O comunicado policial ainda […]

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O atraso na devolução de um gibi do personagem Asterix à biblioteca pública virou caso de polícia em Arapoti (151 km ao norte de Curitiba). Um estudante de 17 anos recebeu uma intimação para que comparecesse à delegacia até a terça-feira (30) com o álbum “Asterix e a Foice de Ouro”.

O comunicado policial ainda trazia um aviso: se não comparecesse, o jovem poderia ser conduzido “mediante mandado da autoridade policial” e incorreria em “crime de desobediência”.

O gibi fora emprestado em fevereiro. “Meu filho mais velho o retirou para o irmão mais novo de 12 anos, que se esqueceu de devolver”, disse Elias Pascoal Nunes, o pai do estudante.
Segundo ele, a intimação foi recebida no sábado (27) por pedreiros que trabalham numa obra em sua casa. “Deu a impressão de que ele roubou o livro. É uma situação muito constrangedora”, falou.

“Achei extremamente antipedagógico a biblioteca fazer isso por conta de um livro não devolvido. Sou uma pessoa conhecida na cidade, que é pequena. Poderiam ter me ligado”, criticou Nunes, que já foi proprietário de uma emissora de rádio e candidato a prefeito da cidade pelo PDT. Arapoti tem 25.855 habitantes, segundo o IBGE.

Ele disse ter “feito questão” de acompanhar o filho à biblioteca. Antes, levou o caso à imprensa local. “Esse tipo de atitude não pode ocorrer, empurra o jovem para fora da biblioteca. Na delegacia, fui tratado com escárnio, na delegacia. A polícia segue sendo truculenta”, afirmou.

“Fuleiragem”

O caso do filho de Nunes não é isolado. “A pedido da bibliotecária, que se queixou que uns 20 leitores não devolviam livros, fizemos boletins de ocorrência por apropriação indébita”, informou o delegado da cidade, Durval Athayde Filho.

“São cerca de 20 pessoas, todos foram convidados a ir à delegacia. Qual o mal que tem?”, questionou. Ele não soube, porém, informar quantos leitores em atraso já foram intimados pela polícia.

Para o delegado, as críticas feitas por Nunes são “politicagem”. “Foi uma fuleiragem, uma politicagem contra o prefeito. Ele (Nunes) é contra o prefeito, é um cara metido, nojento. Foi tratado (na delegacia) como é tratado o rico, o pobre, o branco, o preto”, disparou.

Questionado, Athayde disse não ser apoiador do prefeito Braz Rizzi (DEM). “Sou contra ele, que inclusive pediu minha transferência daqui. São dois grupos rivais [os de Nunes e Rizzi].”

O delegado também disse que a intromissão da polícia não se deve à falta de trabalho na cidade.

Cidade violenta

“Onde trabalho funciono. Mas Arapoti é uma cidade violenta. São 30 a 40 boletins de ocorrência por dia. Os maiores problemas se relacionam a tráfico e uso de drogas, violência contra mulheres e furtos”, disse. A cidade registrou quatro homicídios em 2013.

A reportagem procurou a secretária da Educação, Rosi Rogenski, para que comentasse o caso, mas não a encontrou na prefeitura. Ela também não atendeu às chamadas feitas para seu telefone celular.

Em nota, a prefeitura informou que o registro dos boletins de ocorrência contra os leitores em atraso foi “um ato isolado, sem conhecimento da administração, e que todas as medidas possíveis e cabíveis no sentido de corrigir a atitude tomada pela servidora serão tomadas pela Administração com maior brevidade possível e que tal fato não torne a ocorrer novamente”.

“No momento nos cabe esclarecer que sentimos muito pelo ocorrido e salientamos que tal ordem não partiu do Executivo e nem mesmo por parte da Secretaria de Educação que reconhece a importância do incentivo à leitura a todos os cidadãos arapotienses”, informa o texto.

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