O primeiro a depor foi o agente da Polícia Federal (PF) Fábio Alvarez Shor, que atuou desde o início da Operação Monte Carlo, que levou à prisão o contraventor Cachoeira em fevereiro. Ele afirmou que o agente da PF Wilton Tapajós Macedo, assassinado com dois tiros na cabeça em um cemitério em Brasília na semana passada, foi abordado por policiais ligados ao grupo de Cachoeira enquanto trabalhava na operação.

Segundo Shor, Tapajós fez diversas diligências na operação, acompanhando encontros de integrantes do grupo na casa de Regina Sônia de Melo, ex-servidora da Prefeitura de Luziânia (GO). “Havia constantemente encontros na casa da servidora, e ele fazia diligências para constatar. Ele foi abordado por policiais militares e teve que usar coberturas para não ser identificado e realizar o trabalho”, disse.

Shor também relatou a estrutura da organização de exploração de jogos ilegais que atuava no entorno de Brasília, tendo Cachoeira como líder e Lenine Araújo de Souza como contador.

O policial também deu detalhes sobre o esquema de vazamento de informações e proteção ao grupo feita por policiais civis, militares e federais. Questionado pelo Ministério Público (MP) se havia o pagamento de um “mensalão” a policiais em troca de apoio, Shor respondeu que sim. “Havia um pagamento mensal a diversos policiais civis e militares, e quem efetuava geralmente era o Dadá (o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo)”, afirmou.

De acordo com ele, outros pagamentos foram buscados no escritório de Lenine e na casa de Sônia Regina, ex-servidora da prefeitura de Luziânia, em Goiás. O policial enumerou diversos episódios em que buscas da polícia foram frustradas por causa do vazamento de informações por policiais.

Shor também disse que Cachoeira aparece em diversos áudios orientando integrantes do grupo sobre como cobrar valores e as somas exatas. Quem ficava inadimplente tinha a casa fechada. “A cobrança era incisiva, com ligações pressionando o pagamento”, afirmou o policial.

A audiência desta terça-feira é a primeira de duas referentes ao processo da Operação Monte Carlo. Hoje, a 11ª Vara da Justiça Federal de Goiás ouve as testemunhas de acusação – quatro policiais federais – e de defesa no processo contra Cachoeira. Na quarta, o próprio contraventor e mais sete réus da ação irão depor.

Cachoeira chegou à audiência de hoje por volta das 8h15, acompanhado por escolta policial. Ele e outros 80 réus são acusados de formação de quadrilha armada, corrupção, peculato e violação de sigilo funcional.

Além do contraventor, sua mulher, Andressa Mendonça; seu pai, Sebastião de Almeida Ramos; e Idalberto Matias Araújo, o Dadá, também réu da ação, estão presentes na audiência, que teve início por volta das 9h. A defesa chegou a pedir o cancelamento da audiência, o que foi negado pelo juiz.

Entenda o caso

A Operação Monte Carlo foi deflagrada em fevereiro deste ano e levou à prisão Carlinhos Cachoeira, acusado de explorar um esquema de jogos ilegais, envolvendo servidores públicos e privados. Sua relação com políticos fomentou a criação de uma CPI e provocou a c assação do senador Demóstenes Torres.

Cachoeira, que está preso na penitenciária da Papuda, em Brasília, foi transferido na segunda-feira para a sede da Polícia Federal de Goiânia . Ele ficou proibido de receber visitas durante a segunda-feira.

Sua mulher chegou a comparecer ao prédio, mas foi barrada pelos policiais, que apenas permitiram que ela escrevesse um bilhete para o contraventor.

Também na segunda-feira, o juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou o pedido da defesa de Cachoeira para que ele permanecesse calado durante depoimento na quarta.

O habeas corpus para garantir que Cachoeira pudesse ficar calado foi protocolado no TRF1 no final da semana passada. Os advogados queriam resultado semelhante ao que ocorreu na CPI do Cachoeira, em que o empresário se negou a responder às perguntas dos parlamentares.

(Com Valor Online)