‘Pede para a polícia prender ele’, disse à conselheira tutelar menino torturado

Conselheira relatou ao Midiamax que, ao se sentir seguro com ela e psicóloga durante escuta no hospital, criança relatou com riqueza de detalhes as agressões sofridas.

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Conselheira relatou ao Midiamax que, ao se sentir seguro com ela e psicóloga durante escuta no hospital, criança relatou com riqueza de detalhes as agressões sofridas.

A conselheira tutelar que escutou o menino A., de quatro anos e 11 meses que está internado na Santa Casa de Campo Grande, após sofrer tortura e violência sexual do padrasto, disse que este foi um dos casos mais absurdos que ela atendeu. Com quatro anos de atuação frente a este tipo de trabalho, a profissional disse que o menino se sentiu seguro e contou toda história para ela e uma psicóloga no próprio hospital.

O menino foi internado pela própria mãe, C., com um quadro de vômito, diarréia e desidratação. Nos procedimentos médicos surgiu a suspeita de maus tratos e com isso profissionais da Santa Casa acionaram o Conselho Tutelar Centro.

A conselheira e a psicóloga, que terão nomes preservados por motivos de segurança, foram ao hospital e lá escutaram o menino, sem a presença de familiares, como em todo procedimento do órgão. “Ele estava calma e nos relatou com seu modo de falar, seu vocabulário como aconteceram as coisas”, relatou a conselheira em entrevista ao Midiamax.

De acordo com a conselheira, o menino detalhou com riqueza de detalhes como eram as agressões praticadas pelo padrasto A.L. de B., que é professor de música. Em relação às queimaduras nas mãos, a criança disse que o homem esquentou a base de uma cafeteira elétrica e colocou a ponta dos dedos no ferro quente, ao tentar se defender o menino queimou a outra mão.

O menino também contou que o padrasto queria “roubar seu ar”, uma maneira dele dizer que sofreu esganadura e asfixia e quanto ao objeto que o próprio A.L. disse ter introduzido no enteado, a criança disse que foi “um rolinho daqueles de fazer pizza”.

Um dos momentos que a conselheira mais ficou emocionado foi quando, derrepente, A. olhou fixamente para ela e disse “Tia, você protege criança?”. Ela disse “ protejo sim”. Então o garotinho prosseguiu “pede pra polícia prender ele”.

Outro ponto destacado pela profissional é que o menino se referia ao agressor como pai, nunca como padrasto, embora a mãe dele morasse com o agressor há menos de um ano. “Embora tudo isso, a criança tinha uma referência familiar ali”, ressalta a conselheira.

Quanto violência sexual com conjunção carnal não há relatos da criança, mas durante a escuta no hospital ele relatou para as profissionais do Conselho Tutelar Centro que “ele (padrasto) colocou o pipi na boca dele”, sendo esta uma referência ao sexo oral.

“Depois que saí de lá liguei imediatamente no celular da delegada Regina (titular da Depca) contando sobre o caso. O relatório foi feito e encaminhado para ela. Um pedido de prisão foi solicitado, concedido e o agressor preso”, recorda.

Antes de ser preso, o agressor ligou no conselho Tutelar Centro e pediu para falar com a conselheira que atendia o caso. Já suspeitando que poderiam ter descoberto sobre sua conduta, o professor queria saber quem tinha ido à casa dele.

A.L. de B.O. foi preso no dia 1º de novembro. Ele foi conduzido para uma das celas provisórias da Delegacia Especializada de roubos e Furtos de Veículos (Defurv) e depois transferido para a Delegacia Especializada de proteção à Criança e ao Adolescente (Depca). Lá, em conversa com a imprensa, ele admitiu que agrediu o enteado, inclusive que se aproveitava do momento que a mãe da criança dormia, aumentava o volume do som, levava a criança para o banheiro e torturava.

Trabalho

A profissional que atendeu o caso conta que o trabalho de um conselheiro tutelar é muito árduo. Exige muita discrição, inclusive no próprio ambiente familiar. “Não podemos contar porque nosso trabalho exige sigilo, mas também sofremos muito com os casos que chegam aqui. Infelizmente as pessoas confundem muito qual é realmente nosso papel. Não estamos aqui pra educar filho de ninguém. Isso é tarefa dos pais, muito menos temos poder de punir, isto é com a Justiça”, diz.

Ela faz um alerta às mães que se separam e depois encontram um novo companheiro. Reforçando que todo mundo tem direito de buscar um novo relacionamento, a dica é, na verdade, para que elas fiquem atentas nas atitudes dos filhos depois da chegada desse namorado. O conselho é também para os homens que ficam com a guarda dos filhos. “A criança quando é vítima muda de comportamento, ou se recolhe ou fica agressiva”, orienta. Sinais de machucado devem sempre ser questionados por mais de uma vez.

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