Promotor quer pena máxima para policial que matou colega de delegacia em Campo Grande

O investigador Cleidival Vasques Bueno matou com tiro de pistola a também investigadora Elaine Yamazaki, em março de 2009; eles teriam um caso amoroso. O policial, que responde o crime em liberdade, enfrenta o julgamento desde a manhã de hoje. Foto exibe o promotor Douglas Oldergardo, que pede pena máxima ao réu cabisbaixo

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O investigador Cleidival Vasques Bueno matou com tiro de pistola a também investigadora Elaine Yamazaki, em março de 2009; eles teriam um caso amoroso. O policial, que responde o crime em liberdade, enfrenta o julgamento desde a manhã de hoje. Foto exibe o promotor Douglas Oldergardo, que pede pena máxima ao réu cabisbaixo

O investigador da Polícia Civil Cleidival Antônio Vasques Bueno, 47, acusado de matar com um tiro a também investigadora Elaine Vian Yamazaki, em março de 2009, em Campo Grande, enfrenta o Tribunal do Júri desde a manhã desta sexta-feira.

Ele alega que o disparo saiu acidentalmente. Já a acusação, sustentada por resultados de exames periciais diz que o policial matou a colega intencionalmente.

Os dois, que teriam vivido uma relação extraconjugal atuavam na Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) e a missão diária deles era a de agir no combate a violência contra a mulher. A vítima era casada, mãe de uma filha adolescente. O policial é separado e pai de dois filhos.

Ele foi preso em flagrante e, por 46 dias ficou detido. Hoje, ele atua na Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos). Ou seja, está livre e, mesmo se condenado hoje, pode pegar entre 12 e 30 anos de prisão. Ainda assim, se condenado, ele pode voltar para a casa ou ir para o trabalho até que sentença seja confirmada ou reformada por definitiva. E isso pode demorar de dois a cinco anos.

Duas mulheres e cinco homens compõem o corpo de jurados. Conduz a audiência o juiz Aluizio Pereira dos Santos. Defende o policial o advogado criminalista Renê Siufi. Já na acusação atua o promotor de Justiça Douglas Oldergardo Cavalheiro dos Santos.

Desde o início do julgamento, que começou por volta das 8 horas desta manhã o réu permanece de cabeça baixa.

Leia daqui em diante reportagem do Midiamax, publicada quando o policial foi posto em liberdade, produzida por Jacqueline Bezerra.

Passados 46 dias da prisão em flagrante por matar com um tiro no rosto a agente da Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) Elaine Viana Yamazaki, 35, o policial Cleidival Antônio Vasques Bueno, 47, conseguiu habeas corpus e na próxima semana será um dos investigadores da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos).

Foi a polícia que efetuou a prisão em flagrante do agente no dia 13 de março na Deam, onde ele e a vítima trabalhavam. Agora, o acusado de matar Elaine Yamazaki já se apresentou ao novo trabalho.

O acusado teria tentado voltar para o quadro da Deam, mas houve revolta por parte dos colegas da vítima.

Foi cogitada a ida dele para a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), mas nesta manhã a Polícia Civil confirmou que Cleidival Vasques Bueno será um dos policiais da Derf.

A situação agora pode ser resumida em um trecho do processo. O juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri. Aluízio Pereira, responsável pelo processo, já havia negado o pedido de soltura do policial. Consta no processo o seguinte argumento com base em decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre os casos em que crimes cometidos por agentes policiais.’

“Policiais como autores do crime: pode constituir causa determinante para decretação da preventiva, sob o fundamento de conveniência da instrução criminal, tendo em vista que a pessoa, designada pelo Estado para a proteção da sociedade, termina por cometer crimes, causando natural temor às testemunhas, a serem ouvidas durante a instrução”.

Mas, o TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) aceitou o pedido de habeas corpus para Cleidival Vasques no dia 28 de abril. O advogado Rene Siufi explicou os argumentos da defesa. (Leia abaixo)

‘Lei’

A assessoria da DGPC (Diretoria Geral da Polícia Civil) informou que não há impedimento para que Cleidival Vasques retome sua função no dia-a-dia da polícia. Pela lei, o acusado tem direito a defesa, conseguiu responder o processo em liberdade, recebe os vencimentos mensais e pode voltar ao trabalho.

A DGPC informou ainda que não optou por mantê-lo nos serviços burocráticos administrativos por entender que o policial tem condições psicológicas de exercer a função de agente.

“Quem decidiu foi a Justiça. Ninguém pode ganhar sem trabalhar. O ato que ele cometeu a Justiça está apurando”, diz o delegado titular da Derf, Pedro Espíndola.

O delegado disse à reportagem que não há nada que desabone a conduta em 20 anos de trabalho de Cleidival na Polícia Civil. Como não há restrições de saúde para que atue somente em serviço burocrático, o acusado pode ser mantido na investigação, segundo o delegado. “Onde houver maior necessidade aqui na delegacia ele [Cleidival] vai trabalhar”.

Passional

Porém, o advogado de defesa do policial, Rene Siufi disse ao Midiamax que o cliente matou acidentalmente a policial com quem Cleidival mantinha um relacionamento amoroso. Ele descarta qualquer risco do acusado se envolver em problemas no exercício da profissão. “Foi um acidente, a arma dele disparou. Ele tinha um relacionamento com ela de mais de um ano, largou da esposa por causa dela. Está ainda muito abalado. Eles se gostavam. O que aconteceu é uma das coisas inexplicáveis da vida”, diz o advogado.

O laudo pericial contesta o argumento e atesta que o tiro foi à queima roupa. (Leia abaixo)

Sobre o fato do agente voltar ao trabalho de rua, o advogado diz que a decisão é da DGPC. “Quem vai decidir isso são os superiores dele”, frisa.

“Ele se apresentou, tem bom comportamento, residência fixa, emprego e não vai fugir. Não tinha motivo para ser mantido preso. O processo continua já foram ouvidos testemunhas e ele vai ser interrogado agora”.Acusação

Consta em trecho do processo que a perícia concluiu que o disparo de arma de fogo não foi acidental.

“Ainda, é possível afirmar que a vítima se encontrava com o rosto voltado para o atirador quando atingida pelo disparo da arma. O projétil iniciou sua trajetória, na vítima, em sua região nasal, direcionando-se para baixo/esquerda/região posterior do crânio. Ao atingir seu ponto de repouso final, colidiu com tecido ósseo, tendo a força do impacto ocasionado a abertura de um orifício no ouvido externo esquerdo, por onde foi projetado material orgânico no painel, próximo ao volante”.

“Seguidamente, ao esmorecer do corpo da vítima e tendo este obtido apoio na coluna da porta do motorista, houve o gotejamento de sangue na parte interna desta porta”. A conclusão pericial foi de que “ocorreu uma morte violenta com emprego de arma de fogo, estando o atirador posicionado ao lado da vítima (sentado no banco do carona, ao lado do motorista) e que o disparo da arma se deu da direita para a esquerda, de cima para baixo e à distância de aproximadamente 15 (quinze) centímetros em relação ao orifício de entrada do projétil no corpo da vítima. A par desse contexto fático, em princípio, é possível afirmar que há indícios de que a versão apresentada pelo paciente, qual seja, que o disparo foi acidental (interrogatório prestado na fase policial), não encontra guarida com a conclusão pericial”.

O crime

Na manhã do dia 13 de março, a delegada da Deam, Lúcia Ferreira Falcão, chefe dos policiais civis Elaine Viana Yamazaki e Cleidival Antônio Vasques disse que o policial chegou no trabalho e foi conversar com ela, e chorava muito.

Ele teria dito apenas que havia acontecido um acidente envolvendo a Elaine, mas não entrou em detalhes. Logo em seguida, o delegado João Eduardo Davanço da Depac (Delegacia Especializada de Pronto-Atendimento Comunitário) chegou e anunciou a prisão. Na delegacia, ele confessou e disse que o tiro foi acidental. A prisão aconteceu por volta das 8 horas.

Cleidival Vasques matou entre 23h e 0 hora a colega Elaine Yamazaki com um tiro na cabeça. Ambos trabalhavam na Deam e a rotina era investigar casos de violência contra mulheres.

A polícia foi acionada para ir ao local onde ela estava morta dentro do carro pelo Ciops [telefone 190 da PM] por denúncia anônima. No local, foi confirmada a morte da policial.

Cleidival Vasques era divorciado, tem dois filhos. Ele foi indiciado pelo crime de homicídio qualificado por conta do motivo ter sido fútil e a vítima não ter condições de defesa. Ele poderá pegar de 13 a 30 anos de prisão.

Acidental

O policial disse que a ação não foi premeditada. Ele relatou, segundo a polícia, que esteve na Faculdade Estácio de Sá, perto da TV Morena, onde Elaine Yamazaki cursava Direito. Lá, conversou com ela. Informações apuradas pelo Midiamax apontam que ela havia rompido o relacionamento com ele que não aceitava a decisão dela. A polícia confirmou que o crime foi passional.

Cleidival Vasques esperou a jovem policial sair da aula, no veículo dela, um Fiesta. De motocicleta, uma Honda Twister, preta, placa HSD-4235, ele a seguiu e ao chegar na região onde ela mora, na Avenida Salgado Filho, na Vila Carvalho, ele a ultrapassou e deu a seta para que ela entrasse numa das ruas que cruzam a avenida, a Rua 1º de Julho.

Dentro do carro dela, a arma calibre ponto 40 foi colocada no painel, ainda de acordo com informações do delegado. Eles conversaram por cerca de uma hora e meia, quando discutiram, e ele pegou a arma, ela teria reagido e o disparo acidental teria acontecido, ainda segundo a polícia. Elaine morreu pouco antes da meia-noite. O corpo foi encontrado no veículo pela manhã.

A jovem foi alvejada na cabeça. Era casada e deixou uma filha pré-adolescente. Em casa, a família já estava preocupada e a procurava. O telefone celular não atendia.

Pistas

Mas foram duas informações que auxiliaram a polícia a solucionar o caso de forma rápida. A primeira, a cápsula disparada era a ponto 40, ou seja, de uso restrito. Neste caso, o criminoso seria um policial. A outra, por volta das 4 horas uma ligação anônima. Ainda conforme a versão policial, a testemunha disse que o autor estava numa motocicleta de cor preta, Honda Twister e ainda detalhou letras, número da placa e a roupa usada pelo principal suspeito.

As informações levaram rapidamente a polícia até a casa dele. Lá, a mãe do policial informou que ele não havia dormido em casa. Os agentes entraram e encontraram uma outra pista: a roupa que ele usou no crime. Após matar a colega pela qual ele era obcecado, o policial foi para casa e tomou um banho. Não dormiu na residência e para não levantar suspeita disse à mãe que tinha que ir trabalhar na Deam. /

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