As questões mais polêmicas dizem respeito às contradições no depoimento do filho do cacique e nos vestígios de sangue encontrados no local do ataque.

Em nota sobre a conclusão das perícias do caso Nisio, realizadas por órgão da Secretaria de Segurança do MS, no inquérito conduzido pela Polícia Federal em Ponta Porã, a assessoria da PF informa que as versões iniciais fornecidas pelo filho do cacique, Valmir Cabreira, não tinham fundamento.

Valmir encontra-se sob proteção da PF, de modo que não há como ouvi-lo sobre as conclusões da perícia.

Segundo a nota, Nisio pode estar vivo, porque não houve como demonstrar, através da perícia no local do atentado e nos depoimentos dos indiciados, que de fato ele foi assassinato e arrastado para uma caminhonete, como afirmou Valmir Cabreira.

Ao contrário, para a perícia, nem sequer Nisio foi carregado em uma caminhonete porque as marcas de sangue encontradas nas balas de borracha são dele próprio, que as teria entregue ao filho.

Nos momentos seguintes ao atentado, O Ministério Público federal chegou a  afirmar, em nota à imprensa, que no local havia marcar de um corpo arrastado pelo chão, até o local onde estariam as caminhonetes.

A reportagem pode fotografar, no dia seguinte ao atentado, uma marca de sangue junto ao local onde estariam às caminhonetes, com um número correspondente à marcação dos peritos da polícia estadual de Ponta Porã.

Essa marca pode não ser de Nisio, mas sim de um dos agressores, ferido no atentado, segundo a PF.   

A PF ainda informa que pediu a prisão preventiva de quatro fazendeiros, um advogado, dois administradores de empresa de segurança e mais três contratados – que não foi acatada pela justiça.

Veja a nota da PF:

CAMPO GRANDE (MS) –  Referente ao inquérito instaurado para apurar os fatos acontecidos na manhã do dia 18 de novembro envolvendo indígenas do acampamento GUAYVIRY, localizado na Fazenda Nova Aurora, rodovia MS-386, município de Ponta Porã (MS) e desconhecidos, que, após efetuarem disparos, teriam recolhido o corpo do índio Nisio Gomes, segundo informações prestadas pelo filho do Cacique Nisio, principal testemunha presente no momento do acontecimento, a polícia federal informa que o inquérito encontra-se em fase de relatório, devendo ser concluído até a próxima quinta-feira (22) e encaminhado a Justiça Federal.

Durante as investigações, diante de todos os indícios e provas juntadas aos autos, restou evidenciado que fazendeiros da região e um advogado contrataram pessoas que atuam na área de segurança, vinculadas a uma empresa estabelecida em Dourados (MS), para que retirassem os indígenas do local invadido, mediante grave ameaça.

Três integrantes do grupo de agressores foram presos temporariamente, porém já se encontram em liberdade, sendo que um pertence aos quadros da empresa de segurança e os outros dois são “free lance”.

Considerando os elementos encontrados no local dos fatos, Laudo Pericial concluiu que “ficou impossibilitado de inferir sobre suposto homicídio do indígena Nizio Gomes, visto que a quantidade de sangue que apresentava possível compatibilidade com seu perfil e os demais indícios encontrados no local, não foram suficientes para que se confirmasse tal suspeita”, ou seja, o ferimento de Nízio Gomes não foi suficiente para causar sua morte, segundo o Laudo.

No local em que se deram os fatos foram colhidos materiais (sangue) para exames de perfil genético e, nos resultados apresentados, somente em um destes locais foi possível a compatibilidade com o perfil genético do índio Nizio Gomes, porém este local é o que havia menos sangue.

O sangue em maior quantidade encontrado no local, ainda está em fase de análise de compatibilidade, pois um dos agressores foi ferido no local dos fatos por Nizio Gomes, que utilizou um machado com veneno de sapo, segundo os indígenas.

A conclusão que chegou a Perícia Criminal, no Laudo de Local de Suposto Homicídio, qual seja, o ferimento de Nizio Gomes, não foi suficiente para causar morte, aliado ao sangue encontrado nos cartuchos deflagrados na área do conflito, o qual deu compatibilidade com o sangue do índigena Nizio Gomes, joga por terra a versão apresentada pelo seu filho, principal testemunha, na qual ele afirma que Nizio Gomes foi morto e seu corpo carregado pelos agressores em uma camioneta.

Neste sentido, derruba também a teoria do sequestro o fato das marcas de sangue que iam em direção a camioneta não pertencerem também ao indígena.

Ainda, o fato dos cartuchos deflagrados encontrados na área estarem impregnados com sangue do Nizio, demonstra, provavelmente, que o próprio Nizio Gomes tenha procedido a colheita dos cartucho deflagrados, tendo em seguida entregue ao seu filho, principal testemunha, para que entregasse a polícia.

Outra observação é o fato dos cartuchos deflagados utilizados pelos agressores serem da cor verde, o que dificulta a localização dentro da mata, sendo muito mais difícil e demorado localizá-los do que cartuchos de outra cor. Daí a demora em avisar a agressão as autoridades, vez que os fatos ocorreram no amanhecer e a comunicação a polícia se deu por volta de 09hs40min do dia 18/11/2011, portanto, quase quatro horas de intervalo.

Outro indício que contraria a primeira versão apresentada pela principal testemunha – filho do Nizio –  de que os agressores teriam chegado ao local em camionetas,  é que os integrantes do grupo de ataque, em todos os depoimentos colhidos, foram unânimes em afirmar que foram ao local em que se encontravam os indígenas a pé e pela mata. Durante novo depoimento (reinquirição), a principal testemunha, voltando atrás na primeira versão apresentada, confirmou este fato.

No curso das investigações, a polícia federal requereu prisão temporárias dos fazendeiros e dos administradores da empresa de segurança implicados nos fatos, porém o judiciário foi desfavorável a medida.

Restou evidenciado que os indígenas tinham conhecimento antecipado da investida e ficaram aguardando, todos pintados e também com armas (espingardas, machados e facas).

Em todo o contexto, pelas práticas dos crimes de lesão corporal, formação de quadrilha e porte ilegal de arma de fogo, a polícia federal indiciou quatro fazendeiros, um advogado, dois administradores de empresa de segurança e mais três contratados, individualizado o grau de participação de cada um no episódio.

Com relação a principal testemunha, o filho do Nizio, que no dia do evento, estava aguardando os agressores portando uma espingarda, e que no curso das investigações, levou ao conhecimento da polícia federal fato que sabia ser falso, no momento em que acusou pessoas que sabia inocentes de serem integrantes do grupo armado que atentou contra os indígenas, foi também formalizado o seu indiciamento pela prática do crime de “Denunciação Caluniosa”.

Refente ao Cacique Nizio Gomes, até o presente momento, a polícia federal ainda o considera desaparecido, até mesmo porque restam mais evidências de que ele esteja vivo do que morto.

Campo Grande/MS, 21 de dezembro de 2011.

Comunicação Social da PF em Mato Grosso do Sul