Pelo menos 30 pessoas tiveram seus dados acessados indevidamente pelo sargento Cesar Rodrigues de Carvalho, lotado até dias atrás na Casa Militar da governadora gaúcha Yeda Crusius (PSDB) e preso preventivamente desde sexta-feira. Ele teve acesso até a informações e fotografias de crianças. A relação foi divulgada hoje pelo promotor Amilcar Fagundes Freitas Macedo, coordenador da Operação Agregação, que investigou supostas extorsões que o militar estaria praticando contra exploradores de caça-níqueis em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre.

Na apuração do caso, a força-tarefa, integrada também pelo Núcleo de Inteligência do Ministério Público e pela área de inteligência do Comando de Policiamento Metropolitana, descobriu que o sargento usava sua senha restrita para acessar dados do Sistema de Consultas Integradas do Estado com fins diferentes da função de proteger a segurança da governadora e de sua família.

Entre as pessoas que tiveram seus dados bisbilhotados estão o ex-ministro da Justiça e atual candidato ao governo do Estado Tarso Genro (PT) e outros dois políticos do PT, o senador Sérgio Zambiasi e quatro filiados ao PTB. Também estão na relação quatro delegados de polícia e quatro oficiais da Brigada Militar (BM, a Polícia Militar gaúcha), cinco advogados, quatro jornalistas, empresários e assessores do governo do Rio Grande do Sul.

O sargento também acessava informações sobre existência de investigações que poderiam ter como alvo ele mesmo, a governadora e funcionários próximos a Yeda, como o ex-chefe de gabinete Ricardo Lied e as assessoras Walna Vilarins e Sandra Terra.

Crianças

O que mais chamou a atenção da força-tarefa foram acessos a informações e fotografias de crianças, filhas de deputados e de uma desembargadora, que tiveram seus nomes preservados. Mesmo que os dados sejam os de identificação, endereço, existência de processos, débitos ou problemas com a polícia e a Justiça, considerados “ferramentas” para o trabalho policial, o promotor considerou que o sargento excedeu seus limites de servidor voltado para a segurança da governadora e da família dela.

“Que tipo de insegurança uma criança poderia causar à governadora?”, questiona Macedo, que considera que acessos que não tiveram a finalidade de Estado, como busca de réus ou fugitivos, e violaram dados sigilosos. O promotor diz que só a sequência da investigação vai revelar quais as intenções o sargento tinha e que uso fazia ou faria dos dados.

Por enquanto, não estão descartadas hipóteses como busca de motivos para chantagem ou pressão sobre pessoas comuns ou autoridades para fins econômicos ou políticos. Macedo acredita que o militar não agia sozinho. “Acho que há uma cadeia de comando aí”, afirma.